sábado, 14 de dezembro de 2019

Montadoras perdendo lucros com aplicativos de transporte e locadoras

Montadoras perdendo lucros com aplicativos de transporte e locadoras

As vendas não estão infladas como em 2011 ou 2012, mas o volume que se apresenta tem algo bom para aplicativos de transporte e locadoras, mas ruins para as montadoras instaladas no Brasil e até mesmo na região latino-americana.

A explosão do uso de aplicativos como Uber, 99 ou Cabify, por exemplo, estaria levando a lucratividade de montadoras grandes da região para o ralo, de acordo com um estudo revelado em publicação da Reuters.

Citando apenas o Uber, que no Brasil teria em torno de 600 mil motoristas, o artigo mostra que o aumento no uso do serviço tem levado muitos consumidores a evitar ou adiar a compra de um carro novo.

Afinal, é muito fácil lançar mão do app no smartphone e ter um carro na porta de casa em minutos. Mas, se isso parece ruim para as vendas de carros novos e mesmo usados, para as montadoras de grande volume de produção, ainda não é o maior dos problemas.

O que pega para montadoras como General Motors, Volkswagen e Fiat, as que mais emplacam carros no país é a própria venda de seus automóveis, que estaria drenando a lucratividade de suas operações por aqui. Há alguns meses, a GM assustou alguns dizendo que precisava do apoio dos funcionários, pois, caso contrário, iria embora do país.

Montadoras perdendo lucros com aplicativos de transporte e locadoras

Claro que a GM não saiu, mas o que ela queria dizer é que perdeu quase US$ 1 bilhão no Brasil e na Argentina em 2018. Como assim? Líder de vendas, a montadora de São Caetano do Sul estava no vermelho, mesmo vendendo mais.

É aí que entra um detalhe importante, a maior parte das vendas da GM e duas concorrentes são de carros de entrada, cuja margem de lucro é menor que modelos mais caros. Não que o consumidor esteja interessado em um Joy, ele quer versões mais caras, ele quer um Novo Onix, por exemplo.

Quem está comprando o Joy é a locadora, mas não é para oferecer ao cliente que precisa de um carro substituto por alguns dias ou está de férias em alguma praia do Nordeste e quer explorar a região. O aluguel do carro está indo para o aplicativo de transporte.

No caso do Uber, o levantamento fala em dois terços dos 600 mil motoristas, que não possuem carro próprio e assim alugam para trabalhar. Num universo de 12 milhões de desempregados no Brasil, ter CNH na mão é a garantia de poder ter um trabalho de tempo integral dirigindo para o app.

Ganhando em cima das montadoras

Montadoras perdendo lucros com aplicativos de transporte e locadoras

O artigo da Reuters diz que o aluguel de um Onix Joy (agora só Joy) na Localiza fica em R$ 390 por semana, mas nós já conversamos com motoristas que pagam R$ 360 a cada semana no mesmo modelo de carro. Já existe até aplicativo de locação de carros para aplicativo de transporte…

Quando foi lançado em 2013, o Onix tinha 6% de vendas diretas. Hoje tem 40% dos emplacamentos.

Em 2019, as vendas de carros novos para locadoras que se prestam a disponibilizar carros para aplicativos crescerá 7%. Com bons descontos, essas empresas compram cada vez mais carros das montadoras grandes, reduzindo suas margens. No ano de 2012, de acordo com a Fenabrave, eram 25% as vendas de frotas, mas em 2019 já está em 46%.

Em novembro, praticamente metade das vendas foram da chamada “venda direta”, algo nunca alcançado antes. Dessa forma, as locadoras estão ganhando o dinheiro que as montadoras deveriam estar embolsando e isso somente com os aplicativos de transporte, como o Uber, que está em franco crescimento no país.

O artigo fala ainda que o Uber estaria recrutando locadoras menores para o negócio, prometendo um volume cada vez maior de motoristas que alugam veículos para trabalhar e descontos mais altos junto às montadoras. As grandes locadoras já possuem serviços especializados nos motoristas de aplicativo para não perder clientes.

“Minas de Ouro”

Montadoras perdendo lucros com aplicativos de transporte e locadoras

O negócio de locação de carros é tão bom no Brasil que até as marcas de automóveis estão entrando na onda, como a CAOA, que recentemente anunciou sua empresa para aluguel de carros. A empresa tem fábricas de Hyundai e Chery por aqui. A Toyota também entrou no setor, assim como a VW desenha sua atuação neste mercado.

Na segunda (9), durante evento do lançamento do JAC T60, o empresário Sérgio Habib já tinha alertado sobre o assunto. Em seu levantamento de vendas, apenas a cidade de Belo Horizonte (com 2,5 milhões de habitantes) emplacou em 2019 uma frota de 470 mil carros.

São Paulo (capital), que tem 7 milhões de veículos registrados, emplacou 240 mil. Só a capital mineira vendeu mais automóveis esse ano que a Argentina inteira! Em 2011, eram apenas 193 mil em BH.

O motivo dessa explosão é a concentração dos emplacamentos de carros de locadoras na metrópole das “Minas de Ouro” (referência à antiga capitania). Até agora (em 2019), as vendas no Brasil são de 1,1 milhão, mais que o 1 milhão de 2018 inteiro.

No final, a pergunta que fica é: quem vai pagar essa conta? Afinal, se as montadoras perdem de um lado, elas certamente vão procurar outro para repor suas perdas.

[Fonte: Reuters]

 

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