As vendas não estão infladas como em 2011 ou 2012, mas o volume que se apresenta tem algo bom para aplicativos de transporte e locadoras, mas ruins para as montadoras instaladas no Brasil e até mesmo na região latino-americana.
A explosão do uso de aplicativos como Uber, 99 ou Cabify, por exemplo, estaria levando a lucratividade de montadoras grandes da região para o ralo, de acordo com um estudo revelado em publicação da Reuters.
Citando apenas o Uber, que no Brasil teria em torno de 600 mil motoristas, o artigo mostra que o aumento no uso do serviço tem levado muitos consumidores a evitar ou adiar a compra de um carro novo.
Afinal, é muito fácil lançar mão do app no smartphone e ter um carro na porta de casa em minutos. Mas, se isso parece ruim para as vendas de carros novos e mesmo usados, para as montadoras de grande volume de produção, ainda não é o maior dos problemas.
O que pega para montadoras como General Motors, Volkswagen e Fiat, as que mais emplacam carros no país é a própria venda de seus automóveis, que estaria drenando a lucratividade de suas operações por aqui. Há alguns meses, a GM assustou alguns dizendo que precisava do apoio dos funcionários, pois, caso contrário, iria embora do país.
Claro que a GM não saiu, mas o que ela queria dizer é que perdeu quase US$ 1 bilhão no Brasil e na Argentina em 2018. Como assim? Líder de vendas, a montadora de São Caetano do Sul estava no vermelho, mesmo vendendo mais.
É aí que entra um detalhe importante, a maior parte das vendas da GM e duas concorrentes são de carros de entrada, cuja margem de lucro é menor que modelos mais caros. Não que o consumidor esteja interessado em um Joy, ele quer versões mais caras, ele quer um Novo Onix, por exemplo.
Quem está comprando o Joy é a locadora, mas não é para oferecer ao cliente que precisa de um carro substituto por alguns dias ou está de férias em alguma praia do Nordeste e quer explorar a região. O aluguel do carro está indo para o aplicativo de transporte.
No caso do Uber, o levantamento fala em dois terços dos 600 mil motoristas, que não possuem carro próprio e assim alugam para trabalhar. Num universo de 12 milhões de desempregados no Brasil, ter CNH na mão é a garantia de poder ter um trabalho de tempo integral dirigindo para o app.
Ganhando em cima das montadoras
O artigo da Reuters diz que o aluguel de um Onix Joy (agora só Joy) na Localiza fica em R$ 390 por semana, mas nós já conversamos com motoristas que pagam R$ 360 a cada semana no mesmo modelo de carro. Já existe até aplicativo de locação de carros para aplicativo de transporte…
Quando foi lançado em 2013, o Onix tinha 6% de vendas diretas. Hoje tem 40% dos emplacamentos.
Em 2019, as vendas de carros novos para locadoras que se prestam a disponibilizar carros para aplicativos crescerá 7%. Com bons descontos, essas empresas compram cada vez mais carros das montadoras grandes, reduzindo suas margens. No ano de 2012, de acordo com a Fenabrave, eram 25% as vendas de frotas, mas em 2019 já está em 46%.
Em novembro, praticamente metade das vendas foram da chamada “venda direta”, algo nunca alcançado antes. Dessa forma, as locadoras estão ganhando o dinheiro que as montadoras deveriam estar embolsando e isso somente com os aplicativos de transporte, como o Uber, que está em franco crescimento no país.
O artigo fala ainda que o Uber estaria recrutando locadoras menores para o negócio, prometendo um volume cada vez maior de motoristas que alugam veículos para trabalhar e descontos mais altos junto às montadoras. As grandes locadoras já possuem serviços especializados nos motoristas de aplicativo para não perder clientes.
“Minas de Ouro”
O negócio de locação de carros é tão bom no Brasil que até as marcas de automóveis estão entrando na onda, como a CAOA, que recentemente anunciou sua empresa para aluguel de carros. A empresa tem fábricas de Hyundai e Chery por aqui. A Toyota também entrou no setor, assim como a VW desenha sua atuação neste mercado.
Na segunda (9), durante evento do lançamento do JAC T60, o empresário Sérgio Habib já tinha alertado sobre o assunto. Em seu levantamento de vendas, apenas a cidade de Belo Horizonte (com 2,5 milhões de habitantes) emplacou em 2019 uma frota de 470 mil carros.
São Paulo (capital), que tem 7 milhões de veículos registrados, emplacou 240 mil. Só a capital mineira vendeu mais automóveis esse ano que a Argentina inteira! Em 2011, eram apenas 193 mil em BH.
O motivo dessa explosão é a concentração dos emplacamentos de carros de locadoras na metrópole das “Minas de Ouro” (referência à antiga capitania). Até agora (em 2019), as vendas no Brasil são de 1,1 milhão, mais que o 1 milhão de 2018 inteiro.
No final, a pergunta que fica é: quem vai pagar essa conta? Afinal, se as montadoras perdem de um lado, elas certamente vão procurar outro para repor suas perdas.
[Fonte: Reuters]
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