No mês passado, tive uma confirmação de uma impressão: o cientista ou intelectual com possibilidade de emigrar do país para ir trabalhar em outro mais civilizado, não está tendo dúvidas! O fator de repulsão daqui está muito forte!
Uma ex-aluna, hoje colega como professora e pesquisadora de destaque do IE-UNICAMP fez concurso para a UNCTAD e passou entre muitos outros candidatos de todo o mundo. Está se mudando para Genebra, Suíça. Ela tem pós-graduação no exterior e é uma intelectual promissora.
Como ficar em um país onde o ministro da Educação ataca diariamente as Universidades públicas?! Despeja a TV Escola! Desrespeita alunos e professores! Mas não é só ele…
Anaïs Fernandes e Marcos de Moura e Souza (Valor, 16/12/2019) conta outras histórias.
Foi uma espécie de tempestade perfeita o que fez o economista e professor carioca Claudio Ferraz deixar o Rio de Janeiro em julho deste ano, com a família, para morar e trabalhar em Vancouver, no Canadá, sem data para voltar. Limitações para desenvolver pesquisa, polarização política, mudanças no governo e escalada da violência estão entre os motivos que levaram Ferraz a aceitar um posto de professor na University of British Columbia – além, claro, da possibilidade de intercâmbio profissional.
Ferraz, que tem artigos publicados em periódicos internacionais de prestígio como a “American Economic Review” e o “Quarterly Journal of Economics”, já havia recebido convites para sair do Brasil anteriormente, mas preferiu ficar. “Meu foco para analisar o mundo é através do Brasil, trabalhando com dados, analisando políticas públicas. Sempre tive a vantagem de estar perto de onde as coisas acontecem. E tem aquilo de fazer pesquisa com algum impacto no país, você sentir ter uma dimensão útil. Isso sempre me atraiu ao Brasil”, diz.
O que aconteceu nos últimos anos que o levou, desta vez, a uma decisão diferente? “A primeira coisa foi a mudança política que começou no governo da Dilma [Rousseff], depois com o impeachment, que é essa crescente polarização e as várias consequências no dia a dia, desde brigas familiares até o estresse diário”, diz Ferraz.
A polarização foi seguida por um governo, sob a liderança de um capitão reformado. Na visão do economista, torna difícil acompanhar os jornais. “Ter de acordar todos os dias e ler o que tem sido feito em ambiente, educação, para quem trabalha com educação superior, pesquisa, é deprimente. O sentimento é de um país indo para o mais baixo nível.”
Compartilho o mesmo sentimento. Como brasileiro de esquerda e cruzeirense, eu não aguento mais ler jornal ou ver TV! É difícil escolher o que esquecer!
A história de Ferraz é representativa de um fenômeno de captação pouco trivial, mas ele se acentuou durante a última crise econômica e tem deixado especialistas em alerta a respeito de um novo fôlego neste ano: a fuga de cérebros, isto é, a saída definitiva do país de profissionais de alta qualificação.
Desde 2015, quando a economia mergulhou em recessão, o número de saídas definitivas do Brasil está acima dos 20 mil a cada ano. Antes disso, vinha subindo, mas não passava de 15 mil. Em 2018, 22,4 mil pessoas entregaram declarações de saída definitiva do Brasil, segundo apuração dos técnicos da Receita Federal até novembro deste ano – ainda não existem dados para 2019.
O perfil de migrantes observado por advogado de Orlando, na Flórida, assessorando brasileiros nos trâmites de vistos para os Estados Unidos, é: “São pessoas de sucesso e que se mudam do Brasil em razão, principalmente, da insegurança. São famílias de classe média e média alta, muitos profissionais liberais e empresários. O que eu vejo é que o Brasil vem perdendo um tipo de mão de obra importante.”
Houve um aumento claro nos últimos anos de pessoas mais qualificadas. “Pessoas com mestrado, doutorado, com carreira sólida no Brasil, com filhos e que parecem que deixaram de acreditar no Brasil”. Sua carteira de clientes inclui executivos de multinacionais, engenheiros, profissionais da área médica e especialistas em comércio exterior.
A Flórida continua sendo o destino favorito dos brasileiros. O Estado da Califórnia e também a região de Boston, no Estado de Massachusetts, são outros dois destinos tradicionais.
Para quem tem dupla cidadania, detendo passaporte italiano, uma alternativa tem sido requerer o visto para habitantes de países com os quais os EUA têm acordo comercial. O Congresso americano estuda incluir Portugal nessa lista, aumentando muito a possibilidade de aplicação de brasileiros descendentes de portugueses com dupla cidadania.
Outro grupo busca vistos como o EB-5. Ele dá direito de residência permanente a estrangeiros que investirem no país. Dados do Departamento de Estado americano mostram: as concessões a brasileiros subiram para 230 de janeiro a outubro deste ano, ante igual período de 2018, uma alta de 58%. Em novembro, o investimento mínimo exigido passou de US$ 500 mil para US$ 900 mil.
Aumentou também a procura de brasileiros por vistos de emprego como o EB-2, para “trabalhadores com habilidades excepcionais”. “Ele tem crescido muito porque os requerimentos são mais atingíveis do que aqueles do EB-1”, diz um sócio da JBJ Partners, especializada em expatriação para os EUA. A concessão de EB-2 a titulares brasileiros e seus familiares saltou para 192 de janeiro a outubro deste ano, ante 44 em 2018. O EB-3, para “trabalhadores qualificados, profissionais e outros trabalhadores”, avançou 47%, de 129 para 190.
“Tem muita gente do Brasil emigrante com ensino superior, mas vai atuar em parte administrativa de empresas ou eventualmente até em empregos que não são de ensino superior”, diz Ana Maria Carneiro, pesquisadora do Centro de Estudos de Políticas Públicas (NEPP) da Unicamp. Ela coordena um projeto de pesquisa, em fase inicial, para buscar compreender a trajetória de cientistas brasileiros radicados nos EUA. Segundo Carneiro, em comparação com outros países, como Índia e China, a diáspora de cérebros brasileira não é tão expressiva numericamente.
Luiz Davidovich, presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e professor da Escola de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), observa: no campo científico, a fuga de cérebros é uma questão mais qualitativa. Ele cita a saída recente de quatro jovens pesquisadores da UFRJ, que tinham liderança em suas áreas, para países como Chile, Holanda, Austrália e Portugal. “São jovens em idade muito boa para criar. Perder esse pessoal é ruim, prejudica o investimento que o Brasil faz nesses jovens. Agora vão usar suas capacidades para outros países. Talvez depois eles voltem, mas o prejuízo é grande no curto e médio prazos”, afirma.
Seguir uma carreira acadêmica no Brasil é estar sempre lutando contra uma série de barreiras. São dificuldades, por exemplo, de obtenção de recursos e de planejamento de longo prazo por parte das agências de fomento. ”Aqui [no Canadá] é o contrário, o gasto com pesquisa científica é significativo, entidades se dedicam a isso, a pesquisa está acontecendo, as pessoas estão produzindo”, afirma.
Há pouco caso do governo de extrema-direita em relação à importância da ciência em todas as dimensões porque vê todas as pessoas inteligentes posicionadas à esquerda. Nisso ele tem razão… Mas sua ideologia está destruindo a Nação.
Não é só ele. Quando a gente tem uma “grande imprensa” sem nenhum pluralismo, percebemos não ter espaço para um debate amplo e democrático com opiniões diversas.
Na Economia, diariamente, vemos ataques dos neoliberais aos economistas desenvolvimentistas em suas colunas onde publicam seus panfletos. Não há direito de resposta nas mesmas condições.
Por exemplo, hoje (Valor, 16/12/19), mais uma vez um pretenso economista, professor fracassado e ministro demitido do governo FHC por vazamento de informações privilegiadas, durante a privataria tucana, anuncia apoio ao governo de extrema-direita em favor de pretensos benefícios à sua casta de mercadores. Ele é, atualmente, presidente do Conselho da Foton Brasil.
Diz: “Uma marcha insensata chega ao fim. O Brasil, diante de uma situação grave como a que passamos, se une e apoia os governantes que lutam para superá-la. Foi uma longa, difícil, injusta para com os mais pobres, e, até agora, pouco compreendida marcha para escapar do buraco negro na economia, criado pela incompetência do PT e seus governantes”. Ele se refere, até hoje, mais de 3 anos depois do golpe, “à marcha da insensatez que tomou conta do governo Dilma desde o primeiro dia de seu mandato”.
Na verdade, é uma desculpa por conta de ter caído sua máscara de centro-esquerda, com a qual escondia antes seu oportunismo para obter benesses pessoais.
Os fracassos empresariais do setor privado buscam bodes-expiatórios.
Por exemplo, o ambicioso projeto de produção de celulose em plena floresta amazônica idealizado pelo bilionário americano Daniel Keith Ludwig está agonizando. Com dívida declarada de R$ 1,75 bilhão, recuperação judicial suspensa e sem recursos para pagar seus 750 funcionários diretos, a Jari Celulose, Papel e Embalagens suspendeu por prazo indeterminado as operações da fábrica de Monte Dourado, entre os estados do Pará e do Amapá. E pode fechar definitivamente, em alguns poucos meses, se as condições não melhorarem.
Iniciado em 1967, o projeto Jari nasceu com a proposta de se tornar um megaempreendimento industrial e agrícola em uma área de 1,6 milhão de hectares, isolada da floresta. Duas décadas depois, a fábrica e uma termelétrica montadas sobre plataformas flutuantes no Japão chegaram às margens do rio Jari, após três meses de viagem pelo mar, e deram início à etapa industrial do projeto, agora em risco. Sérgio Amoroso, empresário paulista que era dono do grupo Orsa, assumiu seu controle em 2000.
Outro exemplo, após duas grandes tragédias ambientais e sociais – em Mariana, 2015, e Brumadinho, neste ano -, a principal entidade representativa da indústria de mineração no Brasil, o IBRAM, teve de fazer várias mudanças no seu modelo de gestão, bem como democratizar a participação das empresas associadas nas decisões. A imagem da mineração ficou bastante arranhada, no país e no exterior, assim como a do próprio instituto, que faltou liderança mais ativa nas duas crises.
A indústria de mineração brasileira é formada por 9,4 mil minas, operadas por 7.638 empresas, sendo 87,3% microempresas, 11,5% na classe de pequenas e médias e apenas 1,6% qualificadas como grandes. O setor no país – grande produtor de minério de ferro, nióbio, bauxita e caulim e exportador de estanho, níquel, magnesita, manganês e ouro, entre outros minerais – responde por 199 mil empregos diretos. O saldo da balança comercial, neste ano, deverá fechar em US$ 23,5 bilhões.
Os investimentos previstos pelas mineradoras instaladas no país no período de 2019-2024 são de US$ 27,5 bilhões (no quinquênio 2018-2023 estavam estimados em US$ 19,5 bilhões. “Mas, para se concretizarem, é preciso ambiente de segurança jurídica e previsibilidade”, senão não conseguem “vender o País”!
A entidade passa a ter posicionamento contundente em relação à atividade garimpeira. “Tem de haver regulamentação para os garimpos, mineração feita por uma ou poucas pessoas”, diz seu dirigente. Segundo ele, é preciso diferenciar grupos organizados de mineração, com CNPJ, dos “donos de garimpos”. Estes reúnem dezenas de direitos de lavra e terceirizam a atividade, com elevada atuação informal. E quase nada de preocupação com os danos ambientais causado. E a maior mineradora, a Vale, é diferente?
Querem vender barato o País. Procuram facilitar a coisa. Entre as metas traçadas para o próximo ano, o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) elencou um plano para ampliar a atração de investimentos para o setor mineral do país. Para isso, o Ibram estuda trazer para o país uma estrutura de mercado de capitais dedicada ao setor. O modelo seria as bolsas do Canadá e da Austrália. São dois grandes países da mineração, onde o lançamento de ações, principalmente de empresas menores, as chamadas junior companies, atraem investimentos. A bolsa canadense fica em Toronto e a Australian Stock Exchange (ASX) em Sidney.
O Brasil é líder e está entre os grandes produtores mundiais de alguns minerais, como nióbio, minério de ferro, vermiculita, grafita, bauxita e caulim, no entanto, é importador em outros, caso de cobre, enxofre, titânio, fosfato, zinco. E tem uma grande dependência de carvão metalúrgico, potássio e terras raras.
Segundo dados das bolsas canadenses especializadas em mineração, a Toronto Stock Exchange (TSX) e TSX Venture Exchange, o volume negociado até 31 de outubro chegou a 35 bilhões de dólares canadenses e foram feitos 1.017 financiamentos. Em janeiro de 2018, essas duas bolsas, juntas, abrigavam 5.677 projetos de mineração no mundo.
A especulação com o ganho de capital ao se vender barato o país, aproveitando a depreciação da moeda nacional, grassa solta.
Com o dólar acima de R$ 4 e a perspectiva de crescimento do setor de 9% neste ano e acima de 10% em 2020, o Brasil tem se tornado atrativo para investimentos no mercado farmacêutico. Há muitos ativos baratos sendo negociados. Em quatro operações, no balcão de vendas, podem ser gerados cerca de R$ 5,5 bilhões.
“O Brasil está barato com o câmbio neste patamar além de ter um mercado em crescimento. Isso atrai principalmente investidores estrangeiros. Esse movimento deve permanecer no ano que vem. As perspectivas são boas”, disse o presidente executivo do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma).
Um negócio possível de sair ainda neste ano é a venda da família Buscopan pela Boehringer Ingelheim (BI). A disputa ficou concentrada agora entre os laboratórios francês Sanofi e a americana Procter & Gamble (P&G), sendo a companhia europeia com preferência de compra. A brasileira União Química desistiu do negócio após oferecer R$ 500 milhões e não acompanhar propostas maiores feitas pelas concorrentes. A transação envolveria entre R$ 750 milhões e R$ 1 bilhão. As vendas do Buscopan chegam a cerca de R$ 300 milhões por ano.
O negócio mais recente fechado foi a compra da farmacêutica Biotoscana pela canadense Knight Therapeutics, em outubro. Foi uma surpresa. Primeiro por ser uma empresa sem atuação no Brasil. E, segundo por ter pagado um prêmio de 8,5 vezes o lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês). A canadense comprou 51,21% do capital da companhia por R$ 595,6 milhões, ou R$ 10,96 por ação.
Quando a disputa pelo ativo se iniciou, o grupo de controladores, inclusive a Advent International e a Essex Woodlands, esperava alcançar R$ 16 por papel.
O ativo mais recente colocado à venda á a linha de dermocosméticos GlaxoSmithKline (GSK). Ela quer se desfazer das marcas Fisiogel, Spectraban, Acne- Aid, Sunmax e Clindo no Brasil. Começou a abordar potenciais interessados. A estimativa do mercado é esse negócio movimentar R$ 1 bilhão. Farmacêuticas brasileiras, como EMS e Hypera, e empresas de cosméticos e beleza, como Natura e grupo Boticário, estão entre as companhias com quem a GSK está iniciando conversas. O processo está na fase inicial e é coordenado pela assessoria financeira Greenhill.
A América Latina desperta o interesse do mundo inteiro em função de ter um mercado com alto potencial de crescimento, em detrimento de mercados mais maduros como o europeu e o americano. Há oportunidade para crescimento na região, afinal, são 650 milhões de habitantes. Além disso, as farmacêuticas podem investir em melhoria de acesso, incremento em atividades básicas ou em áreas terapeuticas específicas. Há muito espaço para crescer na região carente de saúde.
Este é o momento quando as empresas estão definindo os valores de investimento para os próximos anos. Por isso, vemos tantos ativos colocados à venda. As empresas definem os seus planos agora. Essa é a hora de vender e comprar.
Outra empresa multinacional colocou os ativos OTC na América Latina: a japonesa Takeda. Quatro grupos farmacêuticos estão mais avançados nessa disputa. As brasileiras EMS e União Química, a italiana Menarini e a uruguaia Mega Labs estão na fase final de propostas pela fabricante do Neosaldina.
As ofertas das quatro interessadas avaliam o negócio em torno de US$ 700 milhões, ou R$ 2,8 bilhões, segundo fontes, menos em relação à estimativa inicial da Takeda de obter US$ 1 bilhão pelos ativos. O desconto aconteceu porque a japonesa perderá pelo menos duas licenças de medicamentos na América Latina – o Noripurum, indicado para o tratamento de anemias e deficiência de ferro, pertencente à suíça Vifor, e o Alektos, um remédio para alergia, da espanhola Faes Farma.
As grandes empresas multinacionais estão cada vez mais colocando os seus esforços em medicamentos inovadores, deixando espaço para o crescimento de atuação das nacionais e ou menores em medicamentos maduros. A indústria farmacêutica tem essa característica de muita fusão e aquisição. Esse movimento deverá permanecer nos próximos anos, enquanto aqui não se desenvolve pesquisa básica.
O lastimável ano de 2019 é narrado como tivesse havido uma melhora no cenário local, com aprovação da reforma da Previdência, taxa de juros básica (Selic) no menor patamar histórico, em 4,5% ao ano, e retomada imaginária da economia. Esses fatores ilusórios e o choque de demanda provocado pela troca de renda fixa por renda variável levaram o Ibovespa para o recorde de 112 mil pontos.
Mas, para o rali prosseguir nas últimas semanas do ano, são necessários novos catalisadores para um impulso adicional do principal índice da bolsa. O elemento necessário, agora, vem do exterior: a confirmação do tão esperado acordo comercial entre China e Estados Unidos. Mas, a julgar pelo noticiário , alguns ilusionistas ainda veem espaço para o Ibovespa atingir os 120 mil pontos, uma das projeções mais otimistas traçadas no começo deste ano. O Ibovespa está 6,6% distante dos 120 mil, considerando-se os 112.565 pontos, novo recorde atingido na sexta-feira.
“A gente avançou muito no cenário local, com reforma da Previdência e queda da Selic. Tudo no ambiente local está positivo e tem espaço para 120 mil pontos”, comentou um alienado responsável pela mesa de renda variável do BTG Pactual digital.
“Nosso diferencial é sermos um dos únicos emergentes fazendo sua lição de casa”, diz o ideólogo. “Dever de casa” é dobrar a espinha, ser submisso aos EUA e levar seguidos “passa-fora, moleque”?!
Não têm nenhuma sensibilidade para os sentimentos da sociedade pobre. A “gota-d’água” já está anunciada para haver uma explosão social.
Se a PEC do Pacto Federativo já estivesse valendo, ao menos oito Estados – Tocantins, Maranhão, Pernambuco, Sergipe, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Goiás – poderiam ter acionado no decorrer deste ano o gatilho para aplicar medidas de redução de gastos. Entre elas, a redução de jornada de trabalho em até 25%, com diminuição proporcional de salários.
Integrante do chamado pacote Mais Brasil [ironia], a PEC 188/2019 estabelece medidas de redução de despesas a serem aplicadas pelo Estado em situações de agravamento do quadro fiscal. No caso de Estados e municípios, isso se daria quando, no período de 12 meses, for apurada despesa corrente maior que 95% da receita corrente. A proposta foi encaminhada pelo governo federal ao Senado no mês passado.
A falta de sensibilidade para com os servidores públicos, entre os quais pesquisadores científicos, é patente. Os ignorantes não veem ou não se importam com o destino das Universidades públicas e a consequência de seus desmantelamentos, inclusive com fuga de cérebros.
Por exemplo, não há como ignorar o avanço da inteligência artificial (IA) ao redor do mundo. Estima-se esse mercado crescer a um ritmo de 46,2% ao ano, com expectativa de chegar a US$ 52 bilhões em 2021, conforme previsão da consultoria IDC. No ano passado, os gastos mundiais com IA bateram US$ 24 bilhões. A cifra reflete um potencial a ser explorado, mas também exige profissionais qualificados.
O Brasil tem sofrido com a escassez de talentos na área de tecnologia, e em IA não é diferente. De olho nisso, universidades, empresas e entidades de fomento à pesquisa se unem para capacitar mão de obra e, principalmente, formar um elo mais próximo entre a academia e o mercado de trabalho.
Em outubro deste ano, foi anunciado o Centro de Pesquisa em Engenharia em Inteligência Artificial, projeto capitaneado pela Universidade de São Paulo (USP), IBM e Fundação do Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Com início das atividades previsto para o começo de 2020, o centro terá investimento anual de cerca de US$ 20 milhões por um período de até dez anos. A IBM e a Fapesp destinarão, cada uma, até US$ 500 mil por ano para o projeto. Já a USP vai investir anualmente até US$ 1 milhão, considerando estrutura física, laboratórios, professores, técnicos e administradores.
“Nos EUA, na Europa e no Japão, já existem vários centros de inteligência artificial. O centro surgiu para que o país avance e continue investindo para que não sejamos somente consumidores de IA, mas também produtores. Temos todas as condições”, explica o professor Fernando Santos Osório, coordenador de difusão e comunicação do núcleo de São Carlos do Centro de IA e professor do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC), da USP, em São Carlos.
O projeto terá como sede o Centro de Pesquisa e Inovação InovaUSP, na Cidade Universitária, em São Paulo. Haverá ainda uma estrutura física em São Carlos, explica Osório. A iniciativa reúne mais de 60 pesquisadores da USP e outras instituições, como a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), de Piracicaba, Universidade Estadual Paulista (Unesp), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Centro Universitário FEI e Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). “Tivemos uma apresentação recente para a comunidade e estamos começando a fazer reuniões de alinhamento”, diz o professor.
Entre as áreas prioritárias do centro estão soluções e serviços em língua portuguesa, como interpretação de texto e reconhecimento de voz. Significa, por exemplo, estudar e aplicar técnicas avançadas de machine learning para melhorar o aprendizado da língua. A ideia é também desenvolver pesquisas sobre aplicações de IA no agronegócio, como agricultura de precisão e integração de dados no campo, com o objetivo de melhorar a produtividade e reduzir o consumo de defensivos agrícolas. “Em São Carlos, temos uma parceria importante com a Embrapa”, conta Osório. Os demais campos de estudo incluem saúde, com ênfase na prevenção de acidente vascular cerebral (AVC), e recursos naturais, com pesquisas sobre exploração de óleo e gás.
O projeto prevê também formação de mão de obra por meio de cursos e workshops, assim como a divulgação e difusão de informações sobre IA, por meio de publicações em redes sociais e vídeos, além de ações para atingir desde alunos de ensino médio até idosos. “Nós precisamos de gente conhecendo e não tendo medo de inteligência artificial. Hoje tem muita ficção científica. É necessário haver um esclarecimento à população”, diz Osório.
A aproximação entre a academia e o setor privado é o foco do Advanced Institute for Artificial Intelligence, criado este ano por pesquisadores de 15 entidades, incluindo universidades e institutos de pesquisa, entre elas Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), USP, Unesp, Unicamp e FEI.
Os pesquisadores atuarão de acordo com as demandas das empresas, explica o cofundador do projeto, Sérgio F. Novaes, físico e professor titular da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp). “Temos hoje nas universidades pesquisas de altíssimo nível em IA, e tudo que está em volta como machine learning, reconhecimento facial e de voz. Por outro lado, existe uma demanda enorme do setor privado”, diz.
Segundo ele, executivos de C-level estão aturdidos com a mudança rápida nas tecnologias e, ao mesmo tempo, têm dificuldade para encontrar profissionais qualificados no mercado. A falta de capacitação atinge, inclusive, a chefia das organizações. “Os conceitos básicos de IA, machine learning e deep learning já são dados academicamente. Então, do que o setor privado está precisando?”
Há cerca de seis meses, o instituto iniciou uma parceria com a Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) para oferecer às empresas cursos de aplicações em processamento de imagens, projetos aplicados de machine learning, redes neurais avançadas, aprendizagem estatística e análise exploratória de dados.
Outro projeto – previsto para começar em janeiro de 2020 – é em conjunto com a Serasa Experian para análise de fraudes no sistema elétrico por meio de imagens de satélite.
Sem sede física, o projeto funcionará em espaços de coworking de empresas e universidades que apoiarem a iniciativa. O modelo de atuação copia iniciativas pioneiras em outros países, como o Canadá. O país mantém, desde 1982, o Canadian Institute for Advanced Research (Cifar), uma rede de mais de 400 pesquisadores de 22 países.
O professor diz o Canadá ser um dos países mais avançados em política de Estado para IA. Lembra, p.ex., três pesquisadores canadenses (Geoffrey Hinton, Yann LeCun e Joshua Bengio) ganharam este ano o Prêmio Turing, uma espécie de Nobel da computação, pelo trabalho com redes neurais. “O Canadá tem pelo menos quatro hubs nessa área, em coworkings. São 650 startups com soluções de IA”.
Outra iniciativa na área é o Centro de Inovação em Inteligência Artificial, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), projeto originado há cerca de um ano a partir de um grupo de professores capazes de estudar IA no programa de pós-graduação em computação da instituição. O foco é inovação, com difusão de conhecimento científico em IA para o setor privado.
“As empresas já investindo em soluções de IA vão se beneficiar desse crescimento, enquanto as que estão atrasadas vão ter uma queda na competividade”, avalia Ricardo Matsumura Araujo, coordenador do projeto e professor do Centro de Desenvolvimento Tecnológico da UFPel. O objetivo é informar a sociedade a respeito dos limites de uso da tecnologia, como replicar preconceitos humanos nas máquinas.
Uma das primeiras ações foi começar a oferecer, a partir do segundo semestre de 2019, uma disciplina optativa de IA para alunos de diversos cursos, não apenas de tecnologia. “Estamos submetendo o projeto ao conselho superior de ensino, pesquisa e extensão”, explica Araujo. Entre os pilares de atuação do centro estão inovação, pesquisa e desenvolvimento, capacitação e divulgação. “Temos planos de oferecer cursos de curta e média duração, além de palestras e workshops sobre questões éticas para a sociedade.”
Enquanto isso acontece, o governo do capitão dispensado e seu ministro sem educação jogam contra… Com a cumplicidade da casta dos mercadores!
Fuga de Cérebros: “o último apaga a luz do aeroporto!” publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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