A primeira teoria da evolução na História do Pensamento Econômico descrevia a vida econômica do ponto de vista do “fluxo circular”, correndo essencialmente pelos mesmos canais, ano após ano — semelhante à circulação do sangue em um organismo animal. Ora, esse fluxo circular e os seus canais alteram-se com o tempo. Joseph Schumpeter, em seu livro “Teoria do Desenvolvimento Econômico” (original publicado em 1911) abandona a analogia com a circulação do sangue.
Embora esta também mude ao longo do crescimento e do declínio do organismo, só o faz continuamente, ou seja, muda por etapas das quais podemos escolher um tamanho menor em relação a qualquer quantidade definível e sempre muda dentro do mesmo limite. A vida econômica também experimenta tais mudanças, mas experimenta outras não contumazes e capazes de mudarem o limite, o próprio curso tradicional. Essas mudanças não podem ser compreendidas por nenhuma análise do fluxo circular, embora sejam puramente econômicas e embora sua explicação esteja obviamente entre as tarefas da teoria econômica pura ou abstrata.
A teoria do fluxo circular descreve a vida econômica do ponto de vista da tendência do sistema econômico para uma posição de equilíbrio. Essa tendência, inspirada por economistas na leitura da Física newtoniana mecanicista e convergente para um “centro de gravidade”, nos dá os meios de determinar os preços e as quantidades de bens. Pode ser descrita como uma adaptação aos dados existentes em qualquer momento.
Em contraste com as condições do fluxo circular, isso não significa por si só ano após ano “as mesmas” coisas acontecerem. Apenas significa concebermos os vários processos do sistema econômico como fenômenos parciais da tendência para uma posição de equilíbrio, mas não necessariamente para a mesma. A posição do estado ideal de equilíbrio do sistema econômico, nunca atingido, pelo qual continuamente se “luta” (não conscientemente), muda porque os dados mudam. E a teoria não está desarmada frente a essas mudanças dos dados.
Se a mudança ocorrer nos dados não-sociais (condições naturais) ou nos dados sociais não-econômicos (os efeitos da guerra, as mudanças na política comercial, social ou econômica), ou no gosto dos consumidores, não parece ser necessária nenhuma revisão fundamental nos instrumentos teóricos. Esses instrumentos só falham quando a vida econômica em si mesma modifica seus próprios dados de tempos em tempos.
As mudanças contínuas podem eventualmente transformar uma pequena firma varejista em uma grande loja de departamentos, mediante adaptação contínua, feita em inúmeras etapas pequenas. Essas mudanças estão no âmbito da análise “estática”. Mas a análise “estática” não é apenas incapaz de predizer as consequências das mudanças descontínuas na maneira tradicional de fazer as coisas. Não pode explicar a ocorrência de tais revoluções produtivas nem os fenômenos que as acompanham. Só pode investigar a nova posição de equilíbrio depois de as mudanças terem ocorrido. Essa ocorrência da mudança “revolucionária” é justamente o problema schumpeteriano, o problema do desenvolvimento econômico em um sentido muito estreito e formal.
Entenderemos por “desenvolvimento”, portanto, apenas as mudanças da vida econômica não lhe impostas de fora, mas surgidas de dentro, por sua própria iniciativa. Se não há tais mudanças emergindo na própria esfera econômica, o fenômeno chamado de desenvolvimento econômico seria, na prática, baseado no fato de os dados mudarem e a economia se adaptar continuamente a eles. Então, não haveria nenhum desenvolvimento econômico.
O desenvolvimento econômico não é um fenômeno a ser explicado economicamente, mas sim a economia, em si mesma sem desenvolvimento, ser arrastada pelas mudanças do mundo à sua volta, e que as causas e, portanto, a explicação do desenvolvimento deve ser procurada fora do grupo de fatos descritos pela teoria econômica.
Nem será designado por Schumpeter como um processo de desenvolvimento o mero crescimento da economia, demonstrado pelo crescimento da população e da riqueza. Por isso não suscita nenhum fenômeno qualitativamente novo, mas apenas processos de adaptação da mesma espécie sentida pelas mudanças nos dados naturais. Como ele deseja dirigir sua atenção para outros fenômenos, considera tais incrementos como meras mudanças dos dados.
Todo processo concreto de desenvolvimento repousa finalmente sobre o desenvolvimento precedente. Mas, para ver claramente a essência da coisa, Schumpeter faz abstração disso e admite o desenvolvimento surgir de uma situação sem desenvolvimento. Todo processo de desenvolvimento cria os pré-requisitos para o seguinte. Com isso a forma deste último é alterada e as coisas se desenrolarão de modo diferente caso o teriam feito se cada fase concreta do desenvolvimento tivesse sido primeiro compelida a criar suas próprias condições.
Todavia, para chegar à raiz da questão, não podemos incluir nos dados de nossa explicação elementos daquilo a ser explicado. Mas se não o fizermos, criaremos uma aparente discrepância entre o fato e a teoria, o que pode constituir uma grande tautologia para o leitor.
Por isso, Schumpeter acha ser mais bem-sucedido em concentrar a exposição sobre o essencial e em resguardá-la contra mal-entendidos. Então, não são necessárias explicações próprias adicionais das palavras “estática” e “dinâmica”, com seus inúmeros significados.
O desenvolvimento, no sentido tomado por Schumpeter, é um fenômeno distinto, inteiramente estranho ao observado no fluxo circular ou na tendência para o equilíbrio. É uma mudança espontânea e descontínua nos canais do fluxo, perturbação do equilíbrio, de modo a alterar e deslocar para sempre o estado de equilíbrio previamente existente. Sua teoria do desenvolvimento não é nada mais além de um modo de tratar esse fenômeno e os processos a ele inerentes.
Uma Investigação Sobre Lucros, Capital, Crédito, Juro e o Ciclo Econômico publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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