A Teoria do Desenvolvimento Econômico, livro de autoria de Joseph Schumpeter, foi publicado pela primeira vez em 1911, em língua alemã. O livro, em seu método e objetivo, é “francamente teórico”. Disse o autor: “nossa ciência, mais do que as outras, não pode dispensar esse senso comum refinado que chamamos ‘teoria’ e que nos dá instrumentos para analisar os fatos e os problemas práticos”.
O primeiro capítulo da obra apresenta um modelo de economia estacionário, fundamentado num fluxo circular da vida econômica. Assim, toda a atividade econômica se apresenta de maneira idêntica em sua essência, repetindo-se continuamente. Mas esse modelo contrasta com a estrutura dinâmica apresentada no capítulo II, intitulado “O Fenômeno Fundamental do Desenvolvimento Econômico”, onde aparece a figura central do empresário inovador. Este agente econômico traz novos produtos para o mercado por meio de combinações mais eficientes dos fatores de produção, ou pela aplicação prática de alguma invenção ou inovação tecnológica.
Em outra passagem da obra, Schumpeter afirma o sucesso do empreendedor depender de:
- a intuição,
- a capacidade de ver as coisas de uma maneira posteriormente constatada ser verdadeira, mesmo quando, no momento da decisão crucial, isso não possa ser comprovado, e
- se perceber o fato essencial, deixando de lado o perfunctório, mesmo quando não se possa demonstrar os princípios norteadores da ação.
Também a relação entre a inovação, a criação de novos mercados e a ação de empreendedor está descrita por Schumpeter:
- o produtor, via de regra, inicia a mudança econômica, e
- os consumidores, se necessário, são por ele ‘educados’, por assim dizer, ensinados a desejar novas coisas, ou coisas diferentes de alguma forma daquelas habitualmente consumidas.
Daí Schumpeter prescreve a “destruição criadora”, ou seja, a substituição de antigos produtos e hábitos de consumir por novos, ao descrever o processo do desenvolvimento econômico.
Além disso, ao atribuir papel fundamental ao crédito no crescimento econômico, Schumpeter, de certa maneira, idealizou o moderno banco de desenvolvimento. Assim, escreveu ele: “o empreendedor, em princípio e como regra, necessita de crédito — entendido como uma transferência temporária de poder de compra —, a fim de produzir e se tornar capaz de executar novas combinações de fatores para tornar-se empreendedor”.
Schumpeter, sem vislumbrar o futuro de uma sociedade consumista, considerava o crédito ao consumidor não ser um elemento essencial ao processo econômico. Assim, não faria parte da “natureza econômica” de qualquer indivíduo ele obter empréstimo para o consumo. Analogamente, não seria da natureza de qualquer processo produtivo os participantes terem de contrair dívidas para fins de capital de giro para pagar consumo intermediário, ou seja, fornecedores. Apesar de reconhecer sua importância, Schumpeter deixa de lado “o fenômeno do crédito ao consumo, pois não tem importância aqui para nós e, a despeito de toda a sua importância prática, nós o excluímos de nossas considerações”. Na verdade, ele só acerta ao demonstrar: “o desenvolvimento, em princípio, é impossível sem crédito”.
O mercado de capitais é, para ele, mercado de dinheiro, pois, em sua opinião, não há outro mercado de capitais. A discussão em torno do papel do crédito, do capital e do dinheiro unifica as três fontes de poder de compra, caracterizando-os como um meio de financiar a inovação e, consequentemente, o crescimento industrial. O modelo de desenvolvimento econômico concebido por Schumpeter é, basicamente, um modelo de industrialização. Na ocasião, era difícil vislumbrar uma futura sociedade de serviços urbanos, inclusive muitos atendidos por inteligência artificial e remota.
Ao examinar o lucro empresarial, Schumpeter apresenta algumas reflexões sociológicas sobre a impossibilidade de os empreendedores transmitirem geneticamente a seus herdeiros as qualidades pessoais capazes os conduziram ao êxito, por meio de inovações e novos métodos produtivos.
Assim, compara o estrato mais rico da sociedade com um hotel repleto de gente, alertando, porém, para o fato de os hóspedes nunca serem sempre os mesmos indivíduos, embora possam ser as mesmas classes e/ou castas. Isso decorre de um processo no qual os herdeiros da riqueza dos empreendedores estarem, geralmente, tão distanciados da batalha da vida de modo a não conseguirem aumentar ou simplesmente manter a fortuna herdada. Ele não anteviu a possibilidade deles contratarem executivos ou gerentes para seu capital, ou seja, “profissionalização da administração”, antes familiar.
Schumpeter discute a Teoria do Juro, refutando conceitos antigos, e relaciona o “fenômeno” do juro com o processo de desenvolvimento. Essa interpretação é coerente com sua ideia de só o empreendedor inovador necessitar de crédito.
Contestando outros autores com a pressuposição de a taxa de juros variar conforme a quantidade de dinheiro em circulação, Schumpeter demonstra essa relação ser inversa, isto é, “o efeito imediato de um aumento de dinheiro em circulação seria o aumento da taxa de juros e não sua redução”.
O capítulo final da Teoria do Desenvolvimento Econômico trata dos Ciclos Econômicos, ou seja, dos períodos de prosperidade e recessão econômica comuns no processo de desenvolvimento capitalista. Embora Schumpeter considerasse o tratamento dado ao problema não ser ainda totalmente satisfatório, as ideias centrais contidas no capítulo constituíram o cerne de sua obra Ciclos Econômicos, publicada em dois volumes.
Schumpeter relaciona os períodos de prosperidade ao fato de o empreendedor inovador, ao criar novos produtos, é imitado por um verdadeiro “enxame” de empreendedores não inovadores. Estes investem recursos para produzir e imitar os bens criados pelo empresário inovador. Consequentemente, uma onda de investimentos de capital ativa a economia, gerando a prosperidade e o aumento do nível de emprego.
À medida que as inovações tecnológicas ou as modificações introduzidas nos produtos antigos são absorvidas pelo mercado e seu consumo se generaliza, a taxa de crescimento da economia diminui e tem início um processo recessivo com a redução dos investimentos e a baixa da oferta de emprego. A alternância entre prosperidade e recessão, isto é, a descontinuidade no aumento de produção, é vista por Schumpeter, dentro do contexto do processo de desenvolvimento econômico, como um obstáculo periódico e transitório no curso normal de expansão da renda nacional, da renda per capita e do consumo.
Até o aparecimento da teoria de Schumpeter, as descontinuidades cíclicas eram explicadas pelos economistas em função das flutuações da atividade cósmica do sol, da alternância de boas e más colheitas, do subconsumo, da superpopulação etc. A grande contribuição de Schumpeter foi estabelecer a correlação entre o abrupto aumento do nível de investimento após as inovações tecnológicas, transformadas em produtos para o mercado, e o período subsequente de prosperidade econômica seguido de uma redução do nível de emprego, produção e investimento, além da incorporação da novidade aos hábitos de consumo da população.
Depois de o sistema keynesiano — concepção dominante da política econômica na reconstrução do pós-guerra, quando a demanda efetiva era fomentada também por gastos públicos em investimentos — ter sido questionado pelos economistas da supply side economics, cujas ideias neoliberais ficaram conhecidas como reaganomics, assume maior importância o estudo Teoria do Desenvolvimento schumpeteriana, adequada à intervenção estatal, isto é, à política do Estado empreendedor. No Capitalismo de Estado chinês vitorioso sobre o Capitalismo de Mercado ocidental, ele elabora um planejamento indicativo para “iniciativas particulares” contribuírem com estratégias benéficas ao desenvolvimento nacional.
Teoria do Desenvolvimento Econômico publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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