quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Crédito: Fator Essencial do Desenvolvimento

Joseph Schumpeter, em seu livro “Teoria do Desenvolvimento Econômico” (original publicado em 1911), alerta: embora o significado e o objeto do processo de desenvolvimento repouse em um movimento dos bens de seus antigos usos em direção aos novos, não pode ser descrito inteiramente em termos de bens, sem se passar por cima de algo essencial a acontecer na esfera do dinheiro e do crédito. Dessa constatação depende a explicação de fenômenos importantes na forma capitalista de organização econômica, em contraste com outros tipos.

Ele dá mais um passo nessa direção com a seguinte pergunta: de onde vêm as somas necessárias à aquisição dos meios de produção necessários para as combinações novas, se o indivíduo em questão por acaso não as tiver?

A resposta convencional é simples (e errada): vêm do crescimento anual da poupança social mais aquela parte dos recursos possível de, anualmente, tornar-se livre.

Não podemos nem mesmo começar com essa “poupança” total. Pois a sua magnitude só é explicável pelos resultados do desenvolvimento anterior. Sua maior parte, decididamente, não vem da parcimônia, em sentido estrito, ou seja, da abstenção por alguém do consumo de parte de sua renda regular, mas consiste em fundos eles próprios resultantes de inovação bem-sucedida e nos quais reconheceremos mais tarde o lucro empresarial.

No fluxo circular não haveria, por um lado, nenhuma fonte tão rica de poupança e, por outro, essencialmente haveria menor incentivo para se poupar. Os únicos grandes rendimentos por ele conhecidos seriam as receitas de monopólio e as rendas de grandes proprietários de terra.

Enquanto as “poupanças” são provisões para os reveses ou para a velhice, talvez também por motivos, seriam os únicos incentivos. O incentivo mais importante, a chance de participar dos ganhos do desenvolvimento, estaria ausente. Por isso, em tal sistema econômico não haveria nenhum grande reservatório de poder de compra livre, para o qual pudesse se voltar quem desejasse formar novas combinações — e a sua própria poupança só seria suficiente em casos excepcionais. Todo o dinheiro circularia, estaria fixado em determinados canais estabelecidos.

Outro método de obter dinheiro é a criação de poder de compra pelos bancos. A forma tomada é imaterial. A emissão de bilhetes de banco não cobertos totalmente por moeda metálica retirada da circulação é um exemplo óbvio, mas os métodos dos bancos de depósitos prestam o mesmo serviço, quando aumentam a soma total do dispêndio possível.

Podemos pensar nos aceites bancários, quando servem como dinheiro para fazer pagamentos no comércio atacadista. É sempre uma questão não de transformar o poder de compra já existente em propriedade de alguém, mas da criação de novo poder de compra a partir do nada — a partir do nada mesmo quando o contrato de crédito pelo qual é criado o novo poder de compra seja apoiado em garantias não sendo elas próprias

meio circulante — adicionada à circulação existente.

Essa é a fonte a partir da qual as novas combinações frequentemente são financiadas. A partir da qual elas teriam de ser financiadas sempre, se os resultados do desenvolvimento anterior não existissem de fato em algum momento.

Esses meios de pagamento creditícios, ou seja, meios de pagamento criados com o propósito e pelo ato de conceder crédito, servem tanto quanto o dinheiro sonante no comércio, em parte diretamente, em parte porque podem ser imediatamente convertidos em dinheiro sonante para pequenos pagamentos ou pagamentos às classes não-bancárias — em particular aos assalariados.

Com sua ajuda, quem realiza combinações novas pode obter acesso aos estoques existentes de meios produtivos, ou, quando for o caso, podem capacitar àqueles de quem compram os serviços produtivos a obter acesso imediato ao mercado de bens de consumo.

Acesso ao dividendo nacional usualmente só pode ser conseguido com a condição de algum serviço produtivo tenha sido previamente prestado ou algum produto previamente vendido. Essa condição, nesse caso de desenvolvimento, ainda não foi preenchida. Só o será depois de as novas combinações serem completadas com sucesso. Assim, esse crédito afetará o nível de preços nesse espaço de tempo.

Portanto, o banqueiro não é primariamente tanto um intermediário da mercadoria “poder de compra”, mas um produtor dessa mercadoria.

Contudo, como toda poupança e fundos de reserva hoje em dia afluem geralmente para ele e nele se concentra a demanda de poder livre de compra, quer já exista, quer tenha de ser criado, ele substitui os capitalistas privados ou tornou-se o seu agente. Tornou-se ele mesmo o capitalista par excellence.

Ele se coloca entre os que desejam formar combinações novas e os possuidores dos meios produtivos. Ele é essencialmente um fenômeno do desenvolvimento, embora apenas quando nenhuma autoridade central dirige o processo social. Ele torna possível a realização de novas combinações, autoriza as pessoas, por assim dizer, em nome da sociedade, a formá-las. E depende o aumento de seu lucro com garantia da maior escala da economia de trocas – e não da fugaz bolha no mercado de ativos existentes pela reversão da tendência de alta dos preços.

Crédito: Fator Essencial do Desenvolvimento publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



Nenhum comentário:

Postar um comentário