A maior ambição humana é inventar a “máquina do tempo”: viajar ao passado para verificar o que aconteceu, de fato, e ao futuro para observar o que acontecerá a fim de voltar ao presente e traçar um cenário com 100% de certeza. Imagine o efeito riqueza da descoberta individual de quando se iniciará o ciclo de alta de um ativo e de quando se reverterá a bolha inflada pelo comportamento de manada em busca da profecia autorrealizável. O especulador com certeza sairá do ciclo de alta exatamente antes do crash, vendendo tudo ao fim do boom! Acumulará todo o capital possível ao ter comprado mais barato e vendido mais caro, seguindo a Regra de Ouro do comércio!
História não é Ciência. Esta se divide em Ciência Pura com o mais alto nível de abstração e Ciência Aplicada com a reincorporação das demais áreas de conhecimento abstraídas para a elaboração de teorias puras em certa área disciplinar. Ambas são pré-requisitos para tomar melhores decisões práticas. A História busca as reconstituições dessas decisões em circunstâncias datadas e localizadas. Não é seu objetivo principal a análise dinâmica ao longo do tempo, mas sim o corte temporal para estudo do caso escolhido.
Já os economistas, os sociólogos, os cientistas políticos e outros profissionais das Ciências Sociais e Humanas, até mesmo médicos, pesquisam a evolução histórica. Aplicam seus conhecimentos conceituais específicos para elaborar, por exemplo, uma interpretação do Brasil ou traçar os caracteres da identidade nacional. Em síntese, os historiadores objetivam uma reconstituição; os demais buscam explicação.
Historiadores pesquisam fontes primárias: documentos oficiais ou não, cartas ou qualquer outra fonte de informação criada no tempo estudado por autoridade ou pessoa com conhecimento pessoal direto dos eventos. Serve como fonte original da informação sobre a época. Elas são distintas de fontes secundárias. Estas, geralmente elaboradas pelos cientistas sociais, citam, comentam ou constroem conclusões baseadas nas fontes primárias levantadas pelos historiadores.
Sofremos com a incompreensão das cadeias causais entre política e ações ocorridas ao longo do tempo. Temos uma compreensão intuitiva para histórias “consistentes” ou “plausíveis”, mesmo elas não sendo verdadeiras. Mas foram narradas com lógica-causal.
Quanto mais convincente, impressionante e vívida é a descrição do acontecimento, tanto maior é o risco de cometer esse erro de pensamento. Desviamos de um olhar frio da verdade estatística. Por ela verificaríamos aquele fenômeno narrado ser ou não uma raridade. Ou mesmo inédito e não repetível.
Nosso problema não é apenas não conhecermos a história do futuro — também não sabemos tudo sobre o passado. Se quisermos conhecer a trajetória histórica muitas vezes consultamos um “vidente” capaz de fazer profecias reversas. Em vez de fazer previsão chamada de “processo forward” (para a frente), ele se utiliza de um “processo backward” (para trás), invertendo a seta do tempo.
Nassim Taleb diz: “as limitações impeditivas de, por exemplo, desfritar um ovo, também nos impedem de aplicar Engenharia reversa na História”. O tempo é irreversível por maior que seja o desejo do capitão e seus seguidores de voltar à ditadura militar…
Como não há linearidade única, um pequeno estímulo em um sistema complexo pode levar a resultados não aleatórios grandes. O bater-de-asas de uma borboleta provoca furação alhures, segundo a Teoria do Caos. Mas ela não aponta qual foi a borboleta.
Organizamos o caos de detalhes eventuais como fosse uma história com fio-condutor lógico. Queremos ela formar uma sequência ordenada pela qual poderíamos entender a dependência da trajetória – e seguir adiante até o futuro antes incerto e desconhecido.
Do ponto de vista retrospectivo, tudo parece ser uma clara consequência lógica e necessária da nossa hipótese levantada no presente a partir do conhecimento da “linha-de-chegada”. Nesse Viés Retrospectivo, algo novo, capaz de falsear o teste de nossa hipótese, ou é descartado ou é visto arrogantemente, tipo “eu sempre soube disso”. Somos “engenheiros de obra-feita” quando detemos “a fácil sabedoria ex-post”.
Falácia do historiador é julgar o processo a partir do resultado, fazendo “profecia reversa” ao contar a história a partir da linha-de-chegada no presente. Costuma contar a história dos vencedores, sendo os vencidos (e os dilemas entre caminhos alternativos) esquecidos – ou, propositalmente, “varridos para debaixo do tapete”.
Dirigimos nossa atenção a apenas um ou poucos aspectos do todo: um sistema complexo emergente de múltiplas interações dos seus diversos componentes. O cérebro humano abomina complexidade e louva sua transformação em simplicidade.
Por isso, busca o reducionismo. É a tendência consistente em reduzir os fenômenos complexos a seus componentes mais simples e considerar estes como mais fundamentais se comparado aos próprios fenômenos complexos observados.
Por exemplo, estamos vivendo tempos obscuros. Qual é a dimensão da atual crise? É uma Crise da Civilização em transição histórica para uma Era da Automação Robótica, quando a maioria das profissões atuais desaparecerá e predominará a desocupação empobrecedora em termos de dinheiro e espírito? Ou é apenas uma fase conjuntural?
Para obter as respostas a essas dúvidas inquietantes, apelamos à Teoria dos Ciclos. No âmbito da Economia, um ciclo é o tempo entre duas crises.
Ciclo é uma flutuação periódica e alternada de expansão e contração da maioria das atividades econômicas. Pode ser apenas nacional, mas com a abertura do mercado para a globalização costuma ter abrangência planetária. Um ciclo típico consiste em um período de expansão econômica, seguido de uma recessão, de um período de depressão e um novo movimento ascendente ou de recuperação econômica.
As Teorias da Superprodução e Subconsumo explicam os ciclos com base no aumento da produção, dos lucros e dos investimentos ir além, desproporcionalmente, do aumento da massa salarial ou do poder de compra dos consumidores. As Teorias Psicológicas ou Comportamentais argumentam a atividade econômica ser influenciada por “estado-de-confiança” ou ondas de pessimismo e otimismo. As Teorias Monetárias do Ciclo baseiam-se em alavancagem e desalavancagem financeira provocarem variações dos níveis das taxas de juros e daí na demanda de crédito para investimentos.
Schumpeter apresenta três ideias essenciais para entender o capitalismo: inovação, empreendedorismo e crédito. O crescimento econômico e a mudança tecnológica são acompanhados do chamado por ele de “destruição criativa”: substituir o velho pelo novo. Novos setores atraem e desviam recursos dos antigos. Novas empresas absorvem os negócios daquelas já estabelecidas. Novas tecnologias tornam obsoletas as competências e os equipamentos existentes.
O processo de crescimento econômico e as instituições inclusivas sobre as quais ele se baseia criam tanto perdedores quanto vencedores na arena política e no mercado econômico. O temor da destruição criativa se encontra na origem da oposição às instituições políticas e econômicas inclusivas – e da defesa das exclusivas por parte de conservadores, seja da casta dos mercadores, seja da dos militares, em aliança.
Schumpeter relaciona os períodos de prosperidade ao fato de o empreendedor inovador, ao criar novos produtos, ser imitado por empreendedores copiadores. Estes investem recursos para também produzir os bens criados pelo empresário inovador. Consequentemente, uma onda de investimentos de capital ativa a economia, gerando a prosperidade e o aumento do nível de emprego.
À medida que as inovações tecnológicas ou as modificações introduzidas nos produtos antigos são absorvidas pelo mercado e seu consumo se generaliza, a taxa de crescimento da economia diminui. Tem início, então, um processo recessivo com a redução dos investimentos e a baixa da oferta de emprego.
A alternância entre prosperidade e recessão, isto é, a descontinuidade no aumento de produção, é vista por Schumpeter dentro do contexto do processo de desenvolvimento econômico. É um obstáculo periódico e transitório no curso normal de expansão da renda nacional, da renda per capita e do consumo.
Até o aparecimento da Teoria do Desenvolvimento de Schumpeter, as descontinuidades cíclicas eram explicadas por economistas em função das flutuações da atividade cósmica do sol, da alternância de boas e más colheitas, do subconsumo, da superpopulação etc. Sua grande contribuição foi estabelecer a correlação entre o abrupto aumento do nível de investimento após as inovações tecnológicas, transformadas em produtos para o mercado. O período subsequente de prosperidade econômica, após a incorporação da novidade aos hábitos de consumo da população, é seguido por uma redução do nível de emprego, produção e investimento.
O domínio da política econômica keynesiana na reconstrução do pós-guerra, quando a demanda efetiva era fomentada também por gastos públicos em investimentos, foi questionado pelos economistas da supply side economics. Suas ideias neoliberais ficaram conhecidas como reaganomics. Vivemos a crise dessa Era do Neoliberalismo. No retrocesso brasileiro é pior: sofremos a tentativa anacrônica da aliança Chicago’s Oldies e casta dos militares impor a política econômica do Chile da ditadura do Pinochet!
Hoje, assume maior importância o estudo Teoria do Desenvolvimento schumpeteriana. Era justifica intervenção estatal, isto é, a política do Estado empreendedor, dada a ausência de empreendedores inovadores na periferia. O Capitalismo de Estado chinês está superando o Capitalismo de Mercado ocidental. Ele elabora um planejamento indicativo para “iniciativas particulares” contribuírem com estratégias benéficas ao desenvolvimento nacional com inclusão social.
Aqui, o neoliberalismo quer a redução governamental ao Estado mínimo. Até em uma nova crise de destruição criativa o empresariado conservador pedir novamente socorro ao Estado.
Previsão do Passado para contar a História do Futuro, por Fernando Nogueira da Costa
Previsão do Passado para contar a História do Futuro publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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