sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Economistas de O Mercado Vidente, ou melhor, Onipotente, Onipresente e Onisciente, cuja impropriedade lógica é própria de Ser Sobrenatural

Alex Ribeiro (Valor, 18/12/2019) afirma: marcada por uma das maiores recessões da história, a década chega ao fim e deverá deixar um legado negativo para a se começar. Os economistas videntes acreditam, de forma sustentada, o Brasil possa crescer algo como apenas 1,5% por ano, embora no curto prazo haja espaço para superar esse percentual, devido à alta capacidade ociosa do capital e do trabalho. Mesmo com o ajuste fiscal e as reformas neoliberais em curso, o consenso da pesquisa Focus de expectativas do mercado financeiro [“vida inteligente”] dentro de quatro anos, a economia atinja uma velocidade máxima de cruzeiro de 2,5%.

A esperança é os economistas estarem mais uma vez enganados, como estiveram há uma década. Eles acreditavam, então, o Brasil haver entrado em uma fase duradoura de prosperidade, com taxas de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) de 4,5%. Até os economistas do Fundo Monetário Internacional (FMI), geralmente mais contidos nas suas projeções, previam um crescimento médio de 4,3%.

A média de crescimento de 2010 a 2019 será de 1,38%, considerando uma estimativa de expansão de 1,1% do PIB neste ano. Com base no começo oficial da próxima década, a se iniciar em 2021, a média de avanço do PIB em dez anos ainda mais desfavorável. No período de 2011 a 2020, ela é de 0,86%, levando em conta uma expansão do PIB de 2,25% para o próximo ano. Isto porque nesse período considerado ficará de fora o avanço da economia de 7,5% registrado em 2010. Volta, Lula!

Confira a ladainha apologética dos economistas-chefes de O Mercado (os mesmos de sempre) e demais propagandistas “chapa-branca”. Tomam como obrigação profissional a propaganda enganosa. Ao contrário de todos os economistas heterodoxos e/ou desenvolvimentistas, eles confiam no ex-parceiro, o oportunista ex-banqueiro de negócios, disposto a ser puxa-saco do capitão reformado a fim de propiciar bons negócios privados para sua casta de mercadores.

“O risco para a próxima década é o PIB potencial surpreender para cima, não para baixo”, afirma o economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato Barbosa. “É difícil medir o efeito na produtividade de todas essas reformas que estão sendo feitas, por isso elas não estão nas contas da maior parte das pessoas.”

O Banco Central entrará, em 2020, no quarto ano de estímulos monetários, com a possibilidade de um corte adicional da taxa de juros em fevereiro, para 4,25% ao ano. Mas os limites da política expansionista já entraram no radar. Pela primeira vez, alguns membros do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC manifestaram, em ata divulgada ontem, preocupação com o risco de a economia se acelerar demais, preenchendo mais rápido do que o esperado a capacidade ociosa da economia.

O BC, porém, pode estar enganado nos seus temores. Na última década, o Copom errou de forma consistente as suas estimativas de inflação. Num primeiro período, até 2016, projetou inflação menor do que a efetivamente medida. Desde então, passou a errar para o outro lado, superestimando a inflação. O conjunto de analistas do setor privado cometeu os mesmos erros.

“Toda essa discussão sobre como aumentar o PIB potencial será importante apenas no médio prazo”, diz o economista Marcelo Kfoury Muinhos, professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV EESP). “Existe capacidade ociosa para crescer acima do PIB potencial por uns dois anos.”

Especialistas começam a discutir também os limites externos à expansão da economia, depois que um aperfeiçoamento feito pelo BC na metodologia de cálculo do balanço de pagamentos revelou que o déficit em conta corrente era mais alto que se imaginava, em 3% do PIB.

O ex-diretor de assuntos internacionais do Banco Central Tony Volpon diz que as estimativas do PIB potencial (velocidade máxima que a economia pode crescer no longo prazo sem acelerar a inflação) feitas há uma década eram vitaminadas por fatores passageiros. O Brasil vivia o chamado bônus demográfico, que foi a entrada de um grande contingente de trabalhadores no mercado. O ambiente internacional também era muito benéfico aos exportadores de commodities, com a alta de preços provocada pela expansão quantitativa feita pelos países desenvolvidos e a demanda da China.

“O mundo era outro”, afirma economista-chefe do Banco Santander, Ana Paula Vescovi. Ela cita alguns números: a China crescia 10,6% em 2010, e o comércio internacional, 7%. O barril do petróleo chegou a US$ 91,80, a tonelada do minério de ferro estava em US$ 173 e o índice de commodities cresceu 25%. Toda essa sensação de riqueza nos termos de troca se trazia numa cotação do dólar de R$ 1,67.

O PIB potencial também foi fortalecido com a manutenção, pelo governo Lula, do chamado tripé macroeconômico, com o respeito ao regime de metas de inflação, câmbio flutuante e superávits primários. “O sentimento no primeiro governo Lula era de que estávamos virando a página na questão macro”, diz a economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif. “O primeiro governo Lula reduziu muito o medo de uma política econômica heterodoxa, e o risco-país caiu”, diz Honorato, do Bradesco.

As expectativas otimistas para o PIB potencial se frustraram com a virada dos ventos internacionais e relaxamento do tripé macroeconômico [isto é um mito dogmáticos dos tucanos]. “A mudança na política macro começou no final do governo Lula”, diz Zeina.

Um sintoma disso foi o superaquecimento da economia, que facilitou a eleição da presidente Dilma. No exterior, os termos de troca ficaram menos favoráveis. “O ambiente externo virou a partir de 2010, e o governo entendeu errado essa virada, como se fosse uma crise semelhante à de 2008”, afirma Volpon, que é economista-chefe do UBS Brasil. “Houve uma má reação de política econômica, com um conjunto de medidas que ficou conhecido como a nova matriz macroeconômica.”

[Isto é apresentado como uma verdade inquestionável por conta de ausência de debate plural entre economistas de linhas de pensamento econômico distintas na mídia brasileira. Na falta desse confronto de ideias, todos — empresários e leigos — erram ao terem acesso a um pensamento alternativo.]

Passada uma década, o ambiente internacional segue distante do quadro de 2010. O crescimento da China é estimado pelo FMI em 6,1% para 2019, o barril de petróleo está cotado em torno de USS 65, a tonelada do minério de ferro está em US$ 94 e o índice de commodities sobe pouco mais de 10% em 12 meses. Mais importante, o comércio mundial deverá registar uma expansão de apenas 1,2% neste ano, em virtude da guerra comercial.

O ambiente internacional menos favorável – junto com o fim do bônus demográfico – faz com que, na partida, a economia brasileira tenha uma perspectiva de expansão menor. “Para crescer mais, teria que ter alguma coisa positiva no ambiente mundial, algo que melhorasse os termos de troca do país”, afirma Volpon,.

Sem uma sorte grande na economia mundial, uma taxa sustentada de crescimento mais robusta dependerá de fatores domésticos. Zeina chama a atenção para o legado negativo que foi deixado pela recessão e pelas más políticas econômicas adotadas a partir do fim do segundo governo Lula, que estão sendo corrigidas gradualmente desde o governo Temer. “A economia tem uma alta capacidade ociosa, mas o longo período de crise deteriorou o estoque de capital, inclusive o capital humano”, afirma.

A capacidade de crescimento é determinada por basicamente três fatores:

  1. o número de trabalhadores na economia;
  2. o estoque de capital investido na economia; e
  3. a produtividade desses fatores, ou seja, quando é possível produzir para cada unidade de trabalho e de capital.
  • A oferta de trabalho depende de fatores demográficos;
  • o estoque de capitais é determinado pelos investimentos; e
  • a produtividade, também pelos investimentos e pelas reformas econômicas.

[Perceba como economista-chefes de bancos ignoram:

  1. o papel da alavancagem financeira;
  2. o ciclo de retomada do crescimento através do crédito demandado por projeto de investimentos em infraestrutura;
  3. os investimentos públicos, tanto os subsídios registrados no OGU, quanto os das empresas estatais, para impulsionar os gastos privados.]

Muitos dos economistas de O Mercado, sempre ouvidos pelo Valor, fizeram um cálculo rápido de cabeça: no período de 20 anos até 2017, a economia cresceu em média pouco menos de 2%, com uma taxa de investimento média de 18% do PIB no período. Hoje, a taxa de investimento está pouco acima de 16% do PIB, e a população cresce menos. Dessa forma, a capacidade de crescimento sustentado seria inferior a 2%.

Os percentuais mais citados, calculados pelos modelos econométricos, são algo como 1% ou 1,5%. A projeção de expansão de 2,5% no médio prazo revela, portanto, alguma esperança ideologica de as reformas fiscais neoliberais, os cortes de direitos trabalhistas (e, em consequência, da demanda popular) e microeconômicas vão fazer algum efeito para estimular investimentos e a produtividade. Ledo engano…

Ana Paula Vescovi foi secretária do Tesouro Nacional e ex-secretária-executiva do Ministério da Fazenda. A contrapartida dos investimentos é a poupança. Ela faz um outro cálculo rápido: a poupança do setor privado é de 19% do PIB, mas o déficit do governo consome algo como 5% ou 6% do PIB dessa poupança. Sobra, portanto, apenas uma poupança de 13% do PIB para bancar os investimentos na economia, de pouco mais de 16% do PIB. Esse beabá ortodoxo é pré-keynesiano, mostrando o despreparo de quadros técnicos do setor público e do setor privado… Lastimável.

“Essa diferença entre o investimento e a poupança doméstica é financiada pela poupança externa”, afirma ela. A contrapartida dessa poupança externa é o déficit em conta corrente. Chegou a 3% do PIB, depois de o BC fazer uma revisão na metodologia estatística do balanço de pagamentos. “Os economistas começaram a olhar esse fato, mas por ora esse não é um gargalo fundamental. Se fizermos nossa parte, vamos atrair investimentos diretos e em carteira para o financiamento externo.”

A questão fundamental, sustenta, é aumentar a poupança doméstica. “É preciso reduzir a despoupança do setor público”, diz. Ou seja, reduzir o déficit dos governos, que dessa forma deixariam de absorver uma parte relevante da poupança doméstica. A despoupança do setor público, argumenta, também ajuda a explicar os limites mais estreitos para o crescimento da economia, quando comparado com a situação de uma década atrás. Em 2010, o Brasil tinha superávit primário de 3,05% do PIB e um déficit nominal de 2,5% do PIB.

“Aos poucos, estamos fazendo o ajuste e convergindo para um padrão melhor, mas ainda temos déficit primário”, afirma Ana Paula. O resultado está negativo em 1,5% do PIB, e o governo só prevê superávit em 2023. “Aqui e ali, estão dizendo que a dívida se estabiliza com déficit primário, mas não tem mágica que sustente isso. Se todo mundo perceber que o Brasil vai ficar com um déficit primário permanente, o prêmio de risco aumenta, e a dívida pública volta a subir.”

Esse tipo de raciocínio de um século atras ainda perdura no enquadramento mental desses economistas desatualizados.

Honorato concorda: a redução da despoupança do setor público é um caminho para aumentar os investimentos. Ele chama a atenção, por outro lado, para o fato de a taxa de poupança reagir à retomada da economia. As empresas respondem por uma parcela significativa da poupança privada, e a economia aquecida aumenta lucros e a poupança das empresas.

Para ele, o Brasil também pode absorver um pouco mais de poupança externa. A revisão nas estatísticas do balanço de pagamentos revelou, argumenta, que o país está acumulando menos ativos no exterior (recursos que eram contabilizados como lucros reinvestidos no exterior, na verdade, foram gastos em outras transações da conta corrente). Isso é diferente de o país precisar atrair mais capitais estrangeiros para cobrir um déficit em conta corrente mais alto. Além disso, afirma, o país pode manter déficits se tiver com uma economia organizada. Esta usa bem os recursos para melhorar a capacidade de crescimento.

A aposta atual de O Mercado é os limites do PIB potencial não pesarem na decisões do Banco Central até o começo de 2021, para quando os analistas esperam o início do ciclo de alta de juros. Mas, até lá, o Copom deverá navegar um período de observação, quando de fato vai verificar o quanto de capital físico e humano restou da recessão.

“O Banco Central terá que olhar com carinho a economia no ano que vem para ver se será preciso subir os juros mais cedo do que o esperado”, diz Zeina. “Sim, temos ociosidade na economia, mas de baixa qualidade. Temos máquinas, mas velhas.”

Volpon diz que, à medida que a economia crescer e começar a preencher a capacidade ociosa, as empresas vão voltar a investir. “Isso provoca uma pressão de custo”, diz ele. “Por isso que o BC não precisa, agora, colocar mais estímulos na economia.”

Kfoury diz: o fato de a taxa de desemprego ter ficado estacionada em 12% a despeito de a economia ter crescido perto de 1% nos últimos anos é um sinal de o PIB potencial estar ao redor desse valor. Portanto, haveria espaço para crescer um pouco além disso – algo como 2,5% – por uns dois anos. Mas ele pondera: será preciso observar o comportamento da atividade e inflação ao longo do tempo. “Às vezes, a capacidade ociosa está num setor, mas a demanda vem em outro, como infraestrutura”, afirma o economista. “Aí, aparece o gargalo.”

Enquanto economistas dessa formação forem os únicos a formarem a opinião pública, esta estará mal informada... Isto é culpa da falta de pluralismo no debate público sobre a economia brasileira pautado pela “grande” (sic) imprensa.

O Indicador Antecedente Composto da Economia (IACE) para o Brasil subiu 0,6% em novembro, para 118,5 pontos, informou o Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getulio Vargas (FGV). Ela publica o indicador em parceria com The Conference Board (TCB).

Das oito séries componentes, quatro contribuíram positivamente para a evolução do indicador no mês, com a maior contribuição dada pelos índices de expectativas dos setores de serviços e indústria.

Já o Indicador Coincidente Composto da Economia (ICCE), também fruto da parceria e que mensura as condições econômicas atuais, subiu 1,1% para 105,2 pontos, no mesmo período. Este é o maior nível da série histórica, iniciada em janeiro 1996.

“O resultado do ICCE em novembro reforça a percepção positiva em relação aos indicadores mais recentes da economia brasileira”, afirmou o economista Paulo Picchetti, da FGV, em comentário no relatório. “Por sua vez, o IACE sinaliza o aumento da probabilidade de aceleração do nível de atividades nos próximos meses”, completou.

O IACE reúne oito componentes da economia brasileira:

  1. taxa referencial de swaps DI pré-fixada 360 dias, do Banco Central;
  2. Ibovespa;
  3. índices de expectativas da indústria, dos serviços e do consumidor, todos da FGV;
  4. produção física de bens de consumo duráveis, do IBGE;
  5. índice de termos de troca e índice de quantum de exportações, ambos da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex).

Vejam a mistura de estatística objetiva com avaliações especulativas subjetivas, como esse mal-cozido desse um indicador substantivo…

Especulação anual dos videntes é sempre o mesmo: o otimismo contumaz é logo revertido e o imprevidente diz, simples e rotineiramente, ser uma “vítima de acontecimentos coletivos” ou “choques aleatórios inesperados”…

Confira abaixo a má qualidade dos quadros técnicos da equipe econômica atual.

“O ciclo de reindustrialização da economia brasileira já começou”, disse o secretário especial de Produtividade, Emprego e Competitividade, Carlos Da Costa. A participação do setor no Produto Interno Bruto (PIB) deve avançar um ponto percentual neste ano, depois de uma trajetória de queda desde os anos 1980. Oba, oba…

Contribuíram para esse resultado medidas de desburocratização adotadas ao longo deste ano, segundo o secretário. “E aquilo que tem atrapalhado a indústria ao longo dos anos, como juros altos, câmbio apreciado e falta de previsibilidade, já teve melhora significativa”, afirmou.

A avaliação foi feita após uma reunião com parlamentares e representantes de setores da indústria, quando se discutiu um plano para combater o chamado custo Brasil. Ele foi estimado em R$ 1,5 trilhão, ou 22% do Produto Interno Bruto (PIB), em um estudo elaborado a pedido do governo, do qual participaram entidades do setor produtivo e governo.

O estudo mapeou os custos das empresas em 12 elementos e os comparou com a média dos países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) para chegar à cifra trilionária. Só.

São eles:

  1. abertura de negócio,
  2. financiamento,
  3. emprego de capital humano,
  4. infraestrutura,
  5. acesso a insumos básicos,
  6. ambiente jurídico-regulatório,
  7. integração com cadeias produtivas globais,
  8. honrar tributos,
  9. acessar serviços públicos,
  10. reinventar o negócio,
  11. competir de forma justa,
  12. encerrar o negócio.

O último ponto é o mais esperado… Aliás, a abordagem ideológica do tema ambiental por parte do governo brasileiro impacta negativamente a imagem do Brasil no exterior. E afasta investidores e importadores estrangeiros…

Contraste a opinião do tecnocrata neoliberal com a opinião do CNI.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) espera a economia brasileira crescer 2,5% em 2020, o dobro do estimado para este ano, de 1,2%. Segundo projeções divulgadas, a atividade econômica deverá ser impulsionada pelo aumento de 2,8% no PIB industrial e de 6,5% no investimento. Na avaliação da entidade, no entanto, um ritmo sustentado de crescimento depende de avanços na agenda de reformas.

O gerente-executivo de Política Econômica da CNI, outro economista ideólogo, afirmou: a expectativa de ambiente de negócios mais favorável deve alavancar o crescimento no ano que vem. Ele destacou que o setor privado está respondendo à melhora do ambiente de negócios pós-aprovação de medidas como a reforma da Previdência e a Lei da Liberdade Econômica. “Vamos começar o ano com o otimismo que vem do fim de 2019.”

Ele ressaltou a necessidade de aprovação de outras medidas, principalmente a reforma tributária. Defendeu também o andamento de reformas microeconômicas. Acha só elas serem capazes de melhorar o ambiente de negócios, a qualificação dos trabalhadores e a produtividade. “Precisamos acelerar o ritmo de transformação da economia. A prioridade é a tributária, grande entrave ao crescimento.”

Ah, é? Não era a reforma da Previdência Social, isto é, o corte dos direitos trabalhistas, somada à reforma trabalhista do golpista temeroso?

O presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, disse ser favorável a uma reforma tributária “ampla e irrestrita”, mas entender que o governo não terá tempo de concluir o processo em um ano. “Só a reforma dos impostos federais já é uma grande vantagem. Se a gente conseguir atingir IPI, PIS e Cofins, já adiantará muito.”

Na avaliação da entidade, o andamento dessa agenda levará também a uma recuperação mais acentuada do emprego. A projeção da CNI é que a taxa média de desocupação ficar em 11,3% no próximo ano — contra uma projeção de 11,9% para este ano. Que melhoria extraordinária! 0,6 pontos percentuais, uma glória para o neoliberalismo!

Para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a projeção é de 3,7% no ano, abaixo da meta. Para a taxa nominal de juros, a estimativa é de 4,5%.

A CNI espera ainda o déficit primário representar 1,3% do PIB no próximo ano, e a dívida bruta, 79,3%. A taxa nominal de câmbio deve ficar em R$ 4,05 pela média anual e o balanço comercial deve registrar superávit de US$ 38 bilhões.

Para a entidade, outro desafio a ser enfrentado pelo governo é o de reduzir o custo de capital das empresas. Este não tem acompanhado os cortes na taxa Selic. Há também preocupação ainda com instabilidades no cenário externo. Ele segue adverso.

Incertezas comerciais e disputas ainda não solucionadas podem impactar o crescimento do comércio e da economia mundial. A avaliação é de o mundo menos globalizado e com maior protecionismo dificulta a entrada dos produtos brasileiros.

A CNI divulgou também pesquisa indicando que 84% das grandes empresas do setor pretendem investir em 2020. O percentual é o maior desde 2014, quando foi de 85%. Para a entidade, o resultado reforça um cenário de recuperação dos investimentos dos últimos anos. Paroles, paroles…

De acordo com o documento, 64% das grandes empresas afirmaram ter realizado seus planos de investimento em 2019 tal como planejaram. “A frustração em 2019 foi muito menor”, avalia os industriais ao contrário do povo brasileiro.

Confronte essa opinião apologética com os números reais abaixo.

A crise ao afetar a indústria brasileira de transformação há década faz a produção doméstica de bens intermediários perder espaço para insumos importados, especialmente aqueles com maior grau tecnológico, de acordo com estudo realizado por técnicos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). A fabricação de produtos intermediários (insumos para o segmento industrial) responde por cerca de 60% da indústria de transformação.

A análise parte de 2016, quando a perda de participação dos bens nacionais é mais notável, segundo os técnicos. De janeiro daquele ano até setembro de 2019, a produção doméstica de bens intermediários cresceu apenas 0,9%, enquanto o volume das importações dos mesmos produtos cresceu 50,3%, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), citados pelo Ipea. Ainda na mesma base de comparação, o Indicador Ipea de Consumo Aparente de bens industriais, um indicador da demanda interna, teve alta de 6,9% para o grupo econômico dos bens intermediários.

Dados desagregados pelos técnicos do Ipea mostram, nesse período de quase três anos, enquanto a produção de insumos industriais elaborados aumentou 1,1%, as importações cresceram 60,2%. No caso de insumos para alimentos e bebidas elaborados, houve queda de 10,3% na produção e aumento de 2,2% na importação. Já a produção brasileira de combustíveis e lubrificantes elaborados caiu 10,7%, para uma importação que subiu 127%.

Nos insumos básicos, a produção conseguiu andar à frente da importação nos segmentos de combustíveis e lubrificantes e bens industriais, mas no segmento de alimentos e bebidas, enquanto a produção cresceu 1,7%, a importação saltou 37%. Nas peças e acessórios para bens de capital, a fabricação doméstica cresce 2,2%, enquanto as importações saltam 62%. Na análise do período mais recente, nos últimos 12 meses, o retrato é o mesmo com pequenas alterações (veja o quadro).

Os motivos para essa perda de espaço dos bens nacionais são tanto conjunturais, como a recessão, quanto estruturais, como a perda de densidade tecnológica da indústria e de sua participação na atividade, entre outros fatores, dizem os técnicos. A mesma análise, afirmam, se estende a toda a indústria de transformação, mas nos intermediários a escala é maior.

Eles destacam a conhecida perda de participação relativa da indústria no Produto Interno Bruto (PIB). Ela cai desde 2004, ano em quando atingiu o ponto mais alto (17,8%) na série histórica iniciada em 1996, do IBGE. Em 2018, atingiu 11,3% do PIB, menor ponto da série.

Registro: de 2003 a 2007, de maneira inédita, houve cinco anos com superávit no Balanço de Transações Correntes. Foi quando o boom das commodities e o efeito China permitiram maiores importações industriais.

“De modo geral, mesmo antes da crise econômica, o setor tem sofrido com problemas crônicos, associados, em grande medida, às condições de oferta, cujas consequências têm mantido a sua produtividade em níveis reduzidos, afetando negativamente seu poder de competição”, escrevem Helena Nobre de Oliveira, Leonardo Mello de Carvalho e Marcelo Nonnenberg, autores do estudo. Entre as condições citadas pelos técnicos, estão:

  1. gargalos na infraestrutura,
  2. excesso de burocracia e
  3. sistema tributário complexo e oneroso.

Eles não comentam o relacionamento como o exterior por parte de uma indústria desnacionalizada!

A longa e profunda recessão dos anos 2014 a 2016 piorou esse quadro. “Os elevados níveis de ociosidade do capital, além de impedir uma recuperação mais rápida dos investimentos, podem ter gerado defasagens tecnológicas no parque industrial, cujas consequências podem significar um aumento da dependência por insumos importados”, escrevem os autores.

Eventos pontuais também prejudicaram a produção de insumos, como o incêndio que paralisou as atividades da refinaria de Paulínia (Replan), em São Paulo. Ele reduziu a produção de derivados de petróleo e biocombustíveis entre os meses de julho e agosto de 2018.

O aumento dos insumos importados nos últimos anos também pode ser um indício de o setor de bens intermediários passar por transformações estruturais. Se, por um lado, o crescimento da dependência por insumos importados com maior conteúdo tecnológico pode favorecer um aumento de produtividade, em outros, pode também eliminar segmentos na cadeia de produção da indústria.

Enquanto isso, os líderes (ex)industriais fazem lobbies para obter benefícios fiscais e trabalhistas em visão de curto prazo

Economistas de O Mercado Vidente, ou melhor, Onipotente, Onipresente e Onisciente, cuja impropriedade lógica é própria de Ser Sobrenatural publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



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