Em função dos impactos singulares da pandemia de COVID 19 sobre as economias ao redor do mundo, a comunidade estatística internacional tem discutido e realizado recomendações de tratamentos específicos1 a serem feitos nesse momento, de acordo com a realidade de cada país e com sua disponibilidade de dados primários. Cumpre destacar que tratamento específico não configura mudança de metodologia.
Nas Contas Nacionais Trimestrais relativas ao segundo trimestre de 2020, onde os efeitos da COVID 19 foram evidenciados principalmente via restrição de locomoção e de funcionamento de algumas atividades, promovemos os tratamentos listados a seguir. Vale ressaltar que o pressuposto básico assumido, recomendado internacionalmente, é que uma hora de trabalho presencial é igual a uma hora de trabalho não presencial.
Os tratamentos foram:
• Administração pública (excluindo saúde e educação): corte de serviços de instituições focadas em atender o público e sem possibilidade de atendimento online, como museus e parques, por exemplo. Tratamento no âmbito do governo federal.
• Educação pública: crianças muito pequenas não tiveram o serviço prestado (creche). Ademais, no ensino superior utilizamos os dados do Ministério da Educação (MEC) de quantos alunos receberam o serviço.
• Educação privada: crianças muito pequenas não tiveram o serviço prestado (creche).
• Mercado de trabalho: A comparação dos resultados para o mercado de trabalho da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – PNADC e da PNAD-COVID19 mostrou tendências muito semelhantes, de modo que a PNADC continuou a ser usada como fonte primária. Continuaremos monitorando os resultados para o próximo trimestre.
Por fim, é importante mencionar que tudo que não foi mencionado acima não sofreu modificação, incluindo o procedimento de ajuste sazonal.
1 Vide textos nos links:
https://www.oecd.org/coronavirus/policy-responses/evaluating-the-initial-impact-of-covid-19-containment-measures-on-economic-activity-b1f6b68b/;
https://www.imf.org/en/Publications/SPROLLs/covid19-special-notes;
https://www.cepal.org/pt-br/topicos/estatisticas-economicas.
O Produto Interno Bruto (PIB) do país encolheu 9,7% no segundo trimestre de 2020, na comparação com o trimestre anterior, auge do distanciamento social adotado para controle da pandemia de Covid-19. Essa é a segunda queda trimestral seguida e o menor resultado para a economia desde o início da série histórica, em 1996, segundo o Sistema de Contas Nacionais Trimestrais, divulgado hoje (1/9) pelo IBGE.
Em valores correntes, o PIB, que é soma dos bens e serviços produzidos no Brasil, somou R$ 1,653 trilhão de abril a junho. Após revisão da queda do primeiro trimestre de -1,5% para -2,5%, a economia acumulou queda de 5,9% no primeiro semestre do ano. Nos últimos quatro trimestres, encolheu 2,2%, e na comparação com o segundo trimestre do ano passado, o recuo foi de 11,4%. O PIB está no mesmo patamar do final de 2009, auge dos impactos da crise global provocada pela onda de quebras na economia americana.
A retração da economia resulta das quedas históricas de 12,3% na indústria e de 9,7% nos serviços. Somados, indústria e serviços representam 95% do PIB nacional. Já a agropecuária cresceu 0,4%, puxada, principalmente, pela produção de soja e café.
Esses resultados referem-se ao auge do isolamento social, quando diversas atividades econômicas foram parcial ou totalmente paralisadas para enfrentamento da pandemia.
Na indústria, o recuo se deve às quedas de 17,5% nas indústrias de transformação, 5,7% na construção, 4,4% na atividade de eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e 1,1% nas indústrias extrativas.
“Nos serviços, a maior queda foi em outras atividades de serviços (-19,8%), que engloba serviços prestados às famílias. Também caíram transporte, armazenagem e correio (-19,3%) e comércio (-13,0%), que estão relacionados à indústria de transformação. Outros recuos vieram de administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social (-7,6%) e informação e comunicação (-3,0%)”, acrescentou a coordenadora.
Os únicos resultados positivos foram verificados em atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (0,8%) e as atividades imobiliárias (0,5%).
Consumo das famílias tem queda recorde de 12,5%
Pelo lado da demanda, a maior queda foi no consumo das famílias (-12,5%), que representa 65% do PIB. “O consumo das famílias não caiu mais porque tivemos programas de apoio financeiro do governo. Isso injetou liquidez na economia. Também houve um crescimento do crédito voltado às pessoas físicas, que compensou um pouco os efeitos negativos”, disse Rebeca Palis.
O consumo do governo recuou 8,8% no segundo trimestre, muito por conta das quedas em saúde e educação públicas, explica a coordenadora do IBGE. “Na saúde, os gastos ficaram mais focados no combate à Covid-19, e as pessoas tiveram receio de buscar outros serviços, como consultas e exames, durante a pandemia. Na educação, utilizamos nas contas o percentual do Ministério da Educação de alunos que tiveram aulas ou não. Isso fez com o que o consumo do governo caísse bastante também”, detalhou a coordenadora, destacando que o resultado não tem relação com a política fiscal.
Os investimentos (Formação Bruta de Capital Fixo) também recuaram 15,4%, por conta da queda na construção e na produção interna de bens de capital. Somente importação de bens de capital cresceu no período.
O balanço de bens e serviços registrou uma alta de 1,8% nas exportações, enquanto as importações recuaram 13,2%. “Essa alta nas exportações tem muito a ver com as commodities, produtos alimentícios e petróleo. Já as importações caíram em vários setores, de veículos, toda a parte de serviço, viagens, já que tudo parou devido à pandemia”, disse a coordenadora de Contas Nacionais.
No acumulado do primeiro semestre, o PIB caiu 5,9% em relação ao mesmo período de 2019, com desempenho positivo da agropecuária (1,6%). Na indústria (-6,5%) e nos serviços (-5,9%) os resultados foram negativos. Essa foi a primeira taxa semestral negativa desde 2017, quando a economia brasileira saiu da crise entre 2015 e 2016, provocada pela política econômica levyana e o golpismo. Agora, voltou a uma nova queda absoluta no PIB. Isto se chama Depressão.
Regressão Econômica: Reformas Neoliberais não são panaceias? publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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