Ana Paula Ragazzi (Valor, 28/08/2020) informa: depois de um mês fraco para as emissões de debêntures em julho, agosto caminha para encerrar com volumes próximos a abril, que fechou com R$ 15,6 bilhões em novos papéis.
A maioria das emissões segue com esforços restritos de colocação, mas os bancos também já estão dispostos a testar as ofertas que incluem o investidor de varejo. As duas primeiras ofertas do ano via Instrução 400 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) estão em análise na autarquia. São debêntures de infraestrutura. Elas contam com incentivo fiscal para a pessoa física, de Eneva e da Usina Termelétrica Pampa Sul, que pertence à Engie Brasil.
As ofertas já liquidadas neste mês somam cerca de R$ 9,5 bilhões. Existem mais R$ 4,5 bilhões em operações já divulgadas, mas não concluídas. Meia dúzia de operações ainda não tem valor conhecido – elas incluem elétricas, além de Gasmig e do Madero, conforme dados da CVM. Até o ressegurador IRB andou sondando o apetite dos investidores para uma emissão.
Nessas novas operações, as taxas estão menores em relação ao que se viu no momento mais agudo da pandemia, quando havia recursos disponíveis para as grandes empresas que acessam o mercado de capitais, mas a custos bem mais altos, acima de CDI + 4%. Em alguns casos, o spread já está descendo para a do 1%, um patamar que se via ano passado.
A melhor explicação para a retomada das ofertas em melhores condições para as empresas, dizem fontes, é a velha máxima de que “tem mais dinheiro do que ativo”. “Os bancos estão muito líquidos”, resume um especialista. O que se vê agora, no cenário em que o pior da crise aparentemente já passou, é o reflexo de medidas como os recursos liberados pelo governo para a população, que turbinou a poupança, além da liquidez injetada pelo Banco Central, via redução de compulsório e via programa de letras financeiras com garantias, como exemplos.
Já está acontecendo até mesmo, de acordo com fontes, um fenômeno pouco comum, de emissões saírem sem prêmio em relação a papéis da mesma empresa negociados no secundário. Normalmente, o papel novo sai com um prêmio ao redor de 30 ponto-base. Mas houve esta semana uma emissão da MRV, de R$ 500 milhões com prazo de 5 anos a CDI + 2,40%, que ficou abaixo do que paga um papel da mesma empresa no secundário com prazo de três anos.
Na maior parte das emissões recentes, os recursos continuam sendo captados para reforço de caixa das companhias. Mas já aparecem também alguns planos de investimentos. A principal exceção foi a emissão da Cosan Logística, que levantou R$ 1,7 bilhão para exercer seu direito de preferência em aumento de capital da Rumo. A operação foi liderada pelo BTG Pactual, os papéis têm prazo de 5 anos e remuneram a CDI + 2,65%.
Até o momento, a maior operação realizada em termos de volume foi a da B3, que captou R$ 3,55 bilhões, em papéis de 4 anos, pagando CDI + 1,75%. Os recursos são para “gestão ordinária dos negócios”. A operação foi liderada pelo Bradesco BBI, ao lado de BTG, Safra, Santander e BB. Essa foi uma das operações deste ano que mais contou com a participação de investidores do mercado, que deram conta de 62% da emissão. Os bancos coordenadores ficaram com 35% dos papéis.
Desintermediação e Reintermediação Bancária publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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