Josh Zumbrun (Dow Jones Newswires, 24/08/2020) informa: em momento quando países do mundo inteiro elevam os gastos para combater a pandemia, as dívidas governamentais dispararam para níveis não observados desde a Segunda Guerra Mundial.
Entre os países ricos, o endividamento subiu para 128% do Produto Interno Bruto, em dados de julho, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Em 1946, o indicador alcançou 124%.
Por enquanto, os governos não deveriam se preocupar com o crescimento da dívida, concentrando-se, em vez disso, em controlar o vírus, disse Glenn Hubbard, que presidiu o Conselho de Assessores Econômicos da Casa Branca no governo de George W. Bush.
“A analogia com a guerra é correta”, disse Hubbard, diretor emérito da Escola de Pós- Graduação de Administração da Universidade Colúmbia. “Estávamos e estamos travando uma guerra. Trata-se de um vírus, não de uma potência estrangeira, mas o nível de gastos não é o problema.”
Após a Segunda Guerra Mundial, os países ricos reduziram a dívida rapidamente, graças, em boa parte, ao crescimento acelerado da economia. A relação dívida/PIB tinha caído em mais de metade, para menos de 50%, em 1959. Desta vez será mais difícil, provavelmente, por motivos que envolvem a demografia, a tecnologia e a desaceleração do crescimento.
Na era de otimismo que se seguiu à guerra, as taxas de natalidade tiveram um surto de crescimento, o que levou a uma expansão das populações em idade ativa. Eram as circunstâncias perfeitas para colher os benefícios da eletrificação, da urbanização e do aprimoramento da medicina.
Até o final da década de 1950, as economias dispararam. O crescimento atingiu em média cerca de 5% ao ano na França e no Canadá, quase 6% na Itália e mais de 8% na Alemanha e no Japão. A economia dos EUA cresceu quase 4% ao ano.
“Teremos sorte se tivermos metade disso nos próximos dez anos”, disse Nathan Sheets, ex-subsecretário do Tesouro dos EUA para assuntos internacionais e hoje economista-chefe da PGIM Fixed Income, subsidiária de gestão de investimentos da Prudential Financial.
Nos últimos anos, EUA, Alemanha e Reino Unido cresceram cerca de 2% ao ano. No Japão e na França, o ritmo foi mais perto de 1%. A Itália praticamente não cresceu.
Embora derrotar o vírus possa gerar otimismo, será difícil reeditar o surto de crescimento pós-Segunda Guerra. O crescimento da população desacelerou nos países ricos, a população em idade ativa está encolhendo em vista do envelhecimento das sociedades e a produtividade está crescendo menos.
No começo da década de 1960, todos os membros do G-7 (grupo dos sete maiores países ricos) tiveram crescimento populacional de quase 1% ao ano ou mais. Hoje, nenhum país do G-7 tem alta populacional de 1%, e o número de habitantes de Japão e Itália está caindo.
O crescimento acelerado da economia e a queda dos gastos militares nos anos do pós-guerra facilitaram a redução da dívida. Nos EUA as despesas federais caíram mais de 50% entre 1945 e 1947.
O fim dos diferentes programas da era da pandemia, como a ampliação do seguro- desemprego e dos pagamentos diretos às famílias, reduzirá o gasto público, mas não tanto como no fim da guerra.
“Será que poderemos evitar que a explosão de gastos do decurso da pandemia se transforme em enormes gastos sociais ampliados no futuro?”, perguntou Hubbard.
Os altos níveis de endividamento atuais não começaram com a pandemia. Desde a década de 1980, mesmo fora de recessões, a dívida cresceu nos EUA, na Europa e no Japão, puxada, em grande medida, pelos gastos com assistência médica e aposentadorias.
Depois da guerra, quando as economias avançadas reduziram os salários e os controles dos preços, uma explosão da inflação ajudou a baixar o endividamento. Hoje, não há inflação à vista, apesar dos enormes gastos de estímulo.
As baixas taxas de juros são característica comum a ambos os períodos. Depois da Segunda Guerra, o Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) manteve baixo o custo dos empréstimos a fim de reduzir os gastos do governo com juros.
Atualmente, não há uma colaboração formal entre o Tesouro e o Fed nos EUA. Mas, num cenário de baixo crescimento, com um mercado de trabalho prejudicado e com a inflação baixa, a maioria dos dirigentes dos BCs veem como apropriado um período prolongado de taxas de juros ultrabaixas.
Por falta de alternativa, se não intencionalmente, as economias avançadas poderão acabar aceitando um mundo com um nível de endividamento bem mais elevado.
Os BCs compraram enormes quantidades de títulos governamentais para reduzir as taxas de juros de longo prazo e respaldar o crescimento em períodos de fragilidade. Isso reduziu o volume de papéis governamentais em poder do público, e o pagamento dos juros sobre esses títulos volta, em grande medida, para o governo.
Mais de US$ 4 trilhões dos US$ 26 trilhões em títulos americanos estão em poder do Fed. O BC do Japão detém mais de US$ 4 trilhões em dívida governamental, parcela ainda maior da dívida total do país, de cerca de US$ 11 trilhões.
O exemplo do Japão mostra que as dívidas podem subir por muito tempo, bem acima de 200% do PIB, sem desencadear uma crise fiscal.
Em vista da magnitude do endividamento dos BCs, alguns dos riscos e desafios da gestão da dívida são deslocados do Tesouro ou do Ministério das Finanças para os BCs, dizem economistas.
“Minha expectativa é que os BCs terão sucesso, mas isso envolve desafios”, disse Sheets, que comandou a divisão de finanças internacionais do Fed. “Quando você está em terreno tão pouco conhecido, sempre há o risco de alguma coisa dar errado. Essa é uma questão geracional com a qual estaremos às voltas por algum tempo ainda.”
Pandemia faz Dívida Pública superar Nível do Pós-guerra publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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