Lucas Hirata (Valor, 31/08/2020) informa: a perda de relevância do Brasil nos mercados globais tem ficado cada vez mais evidente em um dos principais índices de referência para bolsa do mundo. Com a participação nas mínimas históricas, as ações das companhias do país representam apenas 5% do índice MSCI para mercados emergentes – um referencial para alocação em economias em desenvolvimento -, o acusa o baixo interesse de estrangeiros pelos ativos daqui. E, diante de tantos ruídos e volatilidade, parte dos analistas afirma as perspectivas não serem muito mais otimistas.
O desânimo com a exposição do Brasil no exterior contrasta com o observado há 12 anos atrás, na Era Social-Desenvolvimentista com o PT no poder, quando o país liderava a composição do índice. Em junho de 2008, as ações das empresas brasileiras chegaram a responder por 17,5% de todo o MSCI de mercados emergentes.
De lá para cá, a China e outras economias asiáticas agarraram grande parte da atenção dos investidores. Já o Brasil acabou perdendo ainda mais espaço nos anos de crise, em um processo que não teve reversão até o momento. No fim de junho de 2020, por exemplo, a participação local era de 5,14%, ficando perto de suas mínimas históricas.
Mais especificamente neste ano, o grande culpado foi a depreciação do câmbio. Em reais, a bolsa caiu pouco, mas sofre uma queda bem acentuada em dólares. Isso reflete uma história que se repete, que é o baixo crescimento e incertezas. A perspectiva não é boa nem ruim, ela é incerta. Ninguém sabe. Mas o investidor gosta de segurança e previsibilidade.
Esses índices acionários do MSCI são cotados em dólar e servem como carteiras teóricas que buscam refletir a importância de cada mercado, além de indicar papéis com maior potencial de valorização. Mas, fora a própria construção do portfólio, as variações diárias das ações que compõem o índice também influenciam no seu peso. Ou seja, em uma época que os papéis brasileiros se desvalorizam em dólar e outros mercados avançam, é natural que o Brasil perca relevância.
O índice de emergentes sobe 0,62% no ano, enquanto o MSCI Brasil cai 34,95% e o do México recua 24,56%. Os asiáticos, por sua vez, avançam com ainda mais intensidade, num sinal de que o status quo não deve mudar tão cedo. O índice da China, por exemplo, tem alta de 19,60% no ano.
O MSCI Brasil tem de longe o pior desempenho do mundo e isso é um reflexo da desvalorização da moeda. O câmbio brasileiro parece estar significativamente mais barato nesses níveis, e poderia rodar em torno de R$ 5 – o dólar gira em torno de R$ 5,4125 por aqui -, mas “o ruído local nos impede de estar otimistas com a moeda”.
Mas, vale dizer que as ações no Brasil têm ficado para trás mesmo em moeda local. O Ibovespa patina em agosto e registra baixa de 0,75%, com queda de 11,68% em 2020. Já o índice mexicano S&P/BMV IPC, também conhecido pela sigla MXX, sobe 2,09% no mês e recua 13,20% no ano até o momento.
Em ranking de volatilidade, o Brasil também é destaque, com o segundo maior “beta” entre os grandes países emergentes, de acordo com dados do Bank of America (BofA). Ativos com beta elevado são justamente aqueles que oscilam com maior intensidade que a média do mercado, seja para cima ou para baixo – sendo, assim, um bom termômetro de volatilidade.
Apenas a África do Sul tem um beta mais alto, considerando os retornos totais em dólares. Mas não se trata apenas do câmbio – muito disso está relacionado ao próprio cenário local. Tanto é que, em termos de moeda local, o Brasil ainda registra o terceiro maior nível de volatilidade, atrás da África do Sul e da China – país que responde por quase 40% do MSCI de emergentes.
O beta do Brasil para emergentes aumentou nos últimos dez anos, enquanto seu peso no índice diminuiu de 15% para 5% hoje. Essa volatilidade apenas caiu em 2018 e 2019, quando os mercados de ações do Brasil se recuperaram com a perspectiva de uma agenda de reforma abrangente.
Neste momento, contudo, não faltam exemplos de ruídos políticos e riscos fiscais que prejudicam a previsibilidade no mercado local e o interesse dos investidores globais. Só nesse período de pandemia, dois casos são emblemáticos: a decisão do Congresso em permitir a extensão do Benefício de Prestação Continuada (BPC) e a iniciativa de senadores em barrar vetos presidenciais sobre aumento de salários no setor público. Ambas as iniciativas assustaram investidores devido ao risco para as contas públicas, mas foram revertidas em seguida. De todo o modo, a questão do teto de gastos ainda está rodeada de incertezas e deve trazer mais instabilidade daqui para frente.
Ruína Política e Decadência Econômica do Brasil publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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