Marina Falcão (Valor, 17/09/2020) informa: houve a colocação na economia, no segundo trimestre, de um volume de recursos 61% superior a perda de renda das famílias no ano acumulado até julho. Somente em cinco unidades da federação (São Paulo, Rio Grande do Sul, Espírito Santo, Mato Grosso e Distrito Federal), o montante do benefício distribuído não compensou totalmente a perda da massa de rendimentos.
Os dados fazem parte de um levantamento realizado pelos economistas Ecio Costa (UFPE) e Marcelo Freire (UFRPE).
Calculada pela Pnad, a massa de rendimentos inclui todos os trabalhadores com 14 anos ou mais – incluindo formais, informais e desalentados – que declararam ter tido rendimento no período da pesquisa. No acumulado até junho, a renda das família recuou R$ 66,8 bilhões, enquanto o auxílio emergencial, segundo Caixa Econômica Federal, somou R$ 108,3 bilhões no segundo trimestre.
O recuo da renda nos meses mais duros da pandemia remonta a dados de 2012, seu menor nível nominal da série história iniciada naquela ano. Em relação aos três primeiros meses do ano, a diminuição da renda das famílias no segundo trimestre foi de mais de 20%. Na comparação anual, a queda foi de 12%.
Apesar disso, quatro Estados do Norte e Nordeste (Rio Grande do Norte, Pará, Amazonas e Amapá) passaram pelo trimestre com avanço da massa de rendimentos. A hipótese mais provável para esse fenômeno é esses Estados não terem feito fechamento da economia (“lockdown”) tão severo, diz Costa, da UFPE. Além disso, diz, o peso de programas sociais na economia já era alto nessas regiões, onde, com exceção do Amazonas, há baixa penetração da indústria.
O auxílio emergencial chegou para quem precisa com muita força. Dados das vendas o varejo já mostram recuperação do setor para os níveis pré-crise. Em categoria mais aquecidas, como alimentos e material de construção, há uma elevação abrupta de preços.
O estudo identificou regiões metropolitanas no Norte e Nordeste. Elas têm maior peso do auxílio emergencial sobre o PIB. Estão enfrentando inflação maior no segmento de alimentos e bebidas no acumulado do ano. Destaque para Salvador, com alta de 8,5% dos preços do segmento. Logo em seguida, aparecem Aracaju (avanço de 7,23%) e Fortaleza (7,03%).
Mesmo diante dessa correlação, o Brasil está hoje ameaçado por uma inflação estrutural. Ninguém planejava excesso de demanda em 2020 quando foi plantar soja e arroz. A oferta vai se ajustar, mas não é da noite para o dia.
No entanto, os movimentos inflacionários de curto prazo podem se acelerar no segundo semestre. Isso porque há uma tendência de recuperação da massa de rendimentos até o fim do ano com a abertura da economia e, em paralelo, o governo continuará injetando recursos, ainda sendo em menor volume, com o restante das parcelas do auxílio emergencial.
Se consideradas as projeções para as nove parcelas do benefício – sendo as quatro últimas reduzidas de R$ 600 para R$ 300 -, o volume de recursos injetado na economia brasileira pode alcançar R$ 326,8 bilhões neste ano, aponta o levantamento.
A resposta do governo brasileiro “foi arriscada, mas possivelmente acertada” sob a ótica da recuperação da economia. O governo do México optou por uma reação mínima e a economia vai cair 10%, enquanto para Brasil se estima recuo em torno 3,5%.
Há elementos para justificar uma preocupação inflacionária, mas eles têm sido superdimensionados. Quando se olha medidas de núcleo de inflação, serviços, salários e expectativa de inflação, a perspectiva extremamente benigna.
Por outro lado, a questão fiscal é alarmante. A resposta do Palácio do Planalto para a crise foi “agressiva” considerando a situação das contas públicas. O governo vai precisar pagar a conta da pandemia, realizando corte de gastos. O cancelamento do Renda Brasil, anunciado nesta semana, é a “realidade fiscal se impondo”.
Ladainha Neoliberal: Dinheiro para Pobres – Risco Fiscal – Risco Cambial – Risco Inflacionário – Risco de Elevação dos Juros publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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