Milton Friedman (1912–2006) nasceu no Brooklyn, Nova York, e recebeu seu Ph.D. em economia pela Columbia University. Ele ensinou na Universidade de Minnesota, e depois por muitos anos na Universidade de Chicago. Depois de 1977, ele era um Pesquisador Sênior da Hoover Institution em Stanford, Califórnia.
Friedman é mais conhecido por seu trabalho em teoria monetária e por sua preocupação com a livre iniciativa e liberdade individual. Milton Friedman recebeu o Prêmio Nobel de Economia em 1976. O ensaio a seguir, que é reimpresso na íntegra, é o mais influente trabalho na metodologia econômica deste século.
Em seu admirável livro sobre o escopo e método da economia política John Neville Keynes [pai do Keynes] distingue entre “uma Ciência Positiva…[,] um corpo de conhecimento sistematizado sobre o que é; um Ciência Normativa ou Reguladora [,] um corpo de conhecimento sistematizado discutindo critérios de o que deveria ser…; uma Arte da Ciência [,] um sistema de regras para a obtenção de um determinado fim”. Ele comenta: “a confusão entre esses níveis de abstração é comum e tem sido a fonte de muitos erros nocivos”. Insiste na importância de “reconhecer uma Ciência Positiva distinta da Ciência Normativa [Política Econômica ou Arte de Decisões Práticas].”
Este [ensaio] está preocupado principalmente com certos problemas metodológicos surgidos na construção da “Ciência Positiva distinta” solicitada por Neville Keynes – em particular, o problema de como decidir se uma hipótese sugerida ou teoria deve ser provisoriamente aceita como parte do “corpo de conhecimento sistematizado sobre o que é”.
Mas a confusão lastimada por Neville Keynes ainda é tão frequente a ponto de ser um obstáculo ao reconhecimento de a Economia poder ser, e em parte é, uma Ciência Positiva. A Friedman parece ser bom prefaciar o principal corpo do artigo com algumas observações sobre a relação entre Economia Positiva e Economia Normativa.
- Relação entre Economia Positiva e Economia Normativa
A confusão entre Economia Positiva e Economia Normativa é, em certa medida, inevitável. O assunto da Economia é considerado por quase todos tão vitalmente importante por si mesmo, e dentro do alcance de sua própria experiência e competência, mas é fonte de contínua e extensa controvérsia e a ocasião para frequente mudança na legislação.
Autoproclamados “experts” falam com muitas vozes e dificilmente podem ser considerados como desinteressados. Em qualquer evento, em questões que importam tanto, a opinião de “especialistas” dificilmente poderia ser aceito apenas pela fé, mesmo sendo os “especialistas” quase unânime e claramente desinteressados.
As conclusões da Economia Positiva parecem ser, e são, imediatamente relevantes para problemas normativos importantes, ou seja, para questões sobre o que deve ser feito e como qualquer objetivo pode ser alcançado. Leigos e especialistas são inevitavelmente tentados a formular conclusões positivas para se adequar aos preconceitos normativos fortemente sustentados e rejeitar conclusões positivas, se suas implicações normativas – ou o que se diz ser suas implicações normativas – são intragáveis.
A Economia Positiva é, em princípio, independente de qualquer particular posição ética em julgamentos normativos. Como diz Neville Keynes, trata-se de “o que é“, não de “o que deveria ser”.
Sua tarefa é fornecer um sistema de generalizações possível de ser usado para fazer previsões corretas sobre as consequências de qualquer mudança nas circunstâncias. Seu desempenho deve ser julgado pela precisão, escopo e conformidade com a experiência das previsões produzidas. Em resumo, a Economia Positiva é, ou pode ser, uma Ciência “Objetiva”, precisamente no mesmo sentido como qualquer uma das Ciências Físicas.
Claro, o fato de a Economia tratar com as inter-relações dos seres humanos e o investigador ser ele mesmo parte do assunto, sendo investigado em um sentido mais íntimo em lugar do feito nas Ciências Físicas, levanta dificuldades especiais em alcançar objetividade e, ao mesmo tempo, fornecer ao cientista social uma classe de dados não disponível para o cientista físico. Mas nem um nem outro obstáculo é, no ponto de vista de Friedman, uma distinção fundamental entre os dois grupos de Ciências.
A Economia Normativa e a Arte da Economia, por outro lado, não podem ser independente da Economia Positiva. Qualquer conclusão de Política Econômica necessariamente baseia-se em uma previsão sobre as consequências de fazer uma coisa, em vez de outra. Essa previsão deve ser baseada, implícita ou explicitamente, em Economia Positiva.
Não há, é claro, uma relação um-para-um entre as conclusões de Política Econômica e as conclusões de Economia Positiva. Se houvesse, não haveria Ciência Normativa separada.
Duas pessoas podem concordar a respeito das consequências de uma determinada legislação. Pode-se considerá-las como resultantes em um desejável equilíbrio e assim favorecer a legislação. Outra pode a ver como indesejável e assim se opor à legislação.
Friedman arrisca o julgamento, no entanto, de atualmente [meados do século XX] no mundo ocidental, e especialmente nos Estados Unidos, diferenças sobre política econômica entre os cidadãos desinteressados derivam predominantemente das diferentes previsões sobre as consequências econômicas de agir – diferenças, em princípio, possíveis de ser eliminadas pelo progresso da Economia Positiva – ao invés de de diferenças fundamentais em valores básicos, diferenças sobre as quais os homens, em última análise, só podem lutar contra.
Um exemplo óbvio e não sem importância é a legislação de salário mínimo. Sob a confusão de argumentos oferecidos a favor e contra tal legislação, há um consenso subjacente sobre o objetivo de alcançar um “salário mínimo” para todos, para usar a frase ambígua aparecida comumente em tais discussões. A diferença de opinião é amplamente fundamentada em uma diferença implícita ou explícita nas previsões sobre a eficácia deste particular instrumento em promover o fim acordado.
Os proponentes acreditam ter a capacidade de prever os salários mínimos legais diminuírem a pobreza ao aumentar os salários daqueles recebedores de menor renda em relação ao salário mínimo, bem como de alguns recebedores de valor acima do salário mínimo sem qualquer aumento compensatório no número de pessoas totalmente desempregadas ou empregadas de forma menos vantajosa em relação à outra forma.
Outros oponentes acreditam (ou preveem) os salários mínimos legais aumentarem a pobreza, aumentando o número de pessoas desempregadas ou empregadas de forma menos vantajosa. Isso compensa, negativamente, qualquer efeito favorável sobre os salários de quem permanece empregado.
Um acordo sobre as consequências econômicas da legislação pode não produzir um acordo completo sobre sua conveniência, pois as diferenças ainda podem permanecem sobre suas consequências políticas ou sociais. Mas, dado acordo sobre objetivos certamente seria um longo caminho para produzir consenso.
Diferenças intimamente relacionadas na análise positiva fundamentam visões divergentes sobre o papel apropriado e local dos sindicatos e a conveniência de controles diretos de preços e salários e de tarifas. Diferentes previsões sobre a importância da chamada “economia de escala” explica amplamente visões divergentes sobre a conveniência ou a necessidade de uma detalhada regulamentação governamental da indústria – e até da adoção do socialismo em lugar da iniciativa privada.
Essa lista poderia ser estendida indefinidamente. Claro, o julgamento de Friedman [ferrenho anticomunista] sobre as principais diferenças de opiniões sobre a política econômica no mundo ocidental serem desse tipo é em si uma declaração “positiva” a ser aceita ou rejeitada com base em evidências empíricas.
Se este julgamento for válido, significa um consenso sobre “correta” política econômica depende muito menos do progresso da Economia Normativa adequada em vez do progresso de uma economia positiva produzindo conclusões, e merecedoras de ser, amplamente aceitas. Significa também um dos principais motivos para distinguir nitidamente a Economia Positiva da Economia Normativa é precisamente a contribuição que pode ser feita para um acordo sobre Política Econômica.
Metodologia da Economia Positiva por Milton Friedman publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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