sábado, 31 de outubro de 2020

Especulação a respeito do Futuro dos Bancos 1.0

A melhora da percepção de risco fiscal no Brasil e a perspectiva favorável com os resultados corporativos do terceiro trimestre estavam favorecendo um dos setores mais sofridos na bolsa em 2020: o setor bancário. Neste mês (outubro de 2020), as ações dos maiores bancos do país subiam de 13,6% a 19%, em um movimento capaz de amenizar as perdas dos meses anteriores.

Para se ter ideia da recuperação, os quatro grandes bancos – Banco do Brasil, Bradesco, Itaú Unibanco e Santander – listados no Ibovespa tiveram um aumento de R$ 84,7 bilhões em valor de mercado apenas em outubro, de R$ 570,5 bilhões em 30 de setembro a R$ 655,2 bilhões no dia 22/10/2020. Isso representava aumento de 14,8%, ante uma alta de 8,6% no valor de mercado do Ibovespa no mesmo período, de R$ 3,3 bilhões para R$ 3,6 bilhões.

O aumento no preço das ações das instituições financeiras ocorre por alguns motivos. O primeiro é a melhora da percepção de risco generalizada no Ibovespa, diante de certa calmaria no campo político e fiscal já superada pelo besteirol do capitão e sua equipe de incompetentes dirigidos por pura ideologia.

Com isso, os investidores aproveitavam para comprar papéis com fundamentos e considerados atrativos em termos de preço. Esse é o caso dos bancos. Eles, apesar dos ganhos em outubro, ainda caem cerca de 30% no ano.

Outra justificativa está na expectativa com a temporada de balanços do terceiro trimestre de 2020. Após dois trimestres impactados pelo aumento da provisão para devedores duvidosos, a expectativa agora é de queda neste montante, o que resulta em uma recuperação do resultado em base trimestral.

Dificilmente algum gestor ou analista descartaria as ações dos grandes bancos, apesar do aumento da concorrência com as fintechs e novidades como o Pix, o sistema de pagamentos instantâneos do Banco Central, prometerem impactar seus resultados.

Mas o que tem sido visto no mercado neste ano são as ações dos quatro maiores bancos do país ficarem para trás. Enquanto o Ibovespa acumula queda de 11,87% em 2020, as ações de Santander, Bradesco, Itaú Unibanco e Banco do Brasil registram perdas que vão de 28,9% a 34,6% no período.

Com a temporada de balanços prometendo boas notícias, o valor de mercado do segmento bancário tinha iniciado uma recuperação nas últimas semanas, com aumento de R$ 85 bilhões apenas em outubro, o desconto dado nos papéis segue enorme. Isto também ajuda a explicar a recente maior procura pelas ações do setor.

Um dos pontos afetando os grandes bancos está ligado a suas próprias origens e características, considerando serem Banco 1.0: nasceram em um tempo quando internet inexistia. A propaganda enganosa de bancos digitais 3.0 os discriminam: “São como elefantes numa loja de cristais, os bancões se movimentam muito devagar”.

Eles seriam exatamente o contrário de empresas mais novas, com estrutura menor e já nascidas com foco total no digital. “A gente tem vivido em um mundo onde se fala em sistemas rápidos, em ser ágil, e é exatamente o oposto da tradição dos grande bancos brasileiros.”

“Algumas mudanças de paradigmas são necessárias, e a cultura organizacional dos grandes bancos atrapalha. Não basta quem está lá no alto da cadeia de comando fazer esse movimento, é preciso levar isso a toda a cadeia de funcionários, quem está na ponta, atendendo os clientes, precisa se conscientizar também, e não é fácil garantir isso.”

“Ao mesmo tempo, o poderio financeiro dessas companhias é gigante”, diz o “me engane porque eu gosto”. “Além do mais, sim, temos os bancos digitais, mas tecnologia custa caro, e os bancões têm maior capacidade de sustentar toda essa rede tecnológica com investimento constante”, afirma.

Do ponto de vista de quem investe, uma ação está de fato barata se, para o futuro, oferecer perspectiva de ficar mais cara. Se o valor de mercado dela tiver tudo para continuar crescendo. E a incerteza corrente é justamente essa.

As ações estão baratas, mas se tornaram mais arriscadas do que já foram, embora as empresas sigam gerando um caixa enorme e tenham a perspectiva de seguir distribuindo parte dos lucros aos acionistas.

“O que está embutido nesse desconto é o questionamento que o mercado faz, e ele é soberano, sobre se as companhias vão mesmo ser capazes de manter essa performance.”

Além das fintechs brilhando na Era da Disrupção, significando a ruptura definitiva de um mercado para um ambiente completamente novo, há mais concorrência na praça. “Tivemos um período de muitas varejistas com emissão. Essa capitalização foi feita muitas vezes, como no caso da Magalu, para desenvolver a área financeira, focada em oferecer serviços de crédito a desbancarizados”.

Esse é um grande filão a ser explorado: emprestar dinheiro a quem não tem dinheiro para pagar o crédito! Dados mais recentes de pesquisa feita pelo Instituto Locomotiva apontam para 45 milhões de brasileiros nesta situação, sem acesso ao sistema bancário. Esse grupo, a despeito disso, movimenta ao ano mais de R$ 800 bilhões. Esse valor poderá transitar pelo sistema de pagamento, mas não se deve imaginar significar poder de ser cliente adimplente do sistema de crédito ou sobrar para o sistema de gestão de dinheiro.

Está difícil os leigos vislumbrarem o crescimento futuro dos bancos. “Devem continuar lucrativos como já são, mas, para agregarem valor do ponto de vista de investidores, precisam oferecer perspectivas de crescimento desses lucros, e não manutenção.”

“O principal desafio é o crescimento, já são bancos consolidados, não existe muito espaço, estão lidando com essa realidade de poucas vias para crescer mais. Onde bancos tradicionais podem, hoje, encontrar crescimento? Em melhoras operacionais, redução de custo e essa história gera pouco entusiasmo no mercado.”

É raciocínio equivocado analisar fundamentos de duas empresas passarem sempre por “duas pernas”. Além da do crescimento, existe a da rentabilidade. A segunda segue lá, firme para os bancões, ao contrária da primeira. “Dito isso, esses bancos continuam a desfrutar de muita vantagem competitiva. Ela é declinante ao longo tempo, tem sido como no caso do mercado de adquirência [maquininhas], o Pix joga contra e, gradualmente, essa vantagem tende a ir se tornando menor, mas de forma gradativa.”

As ações dos bancos estão muito descontadas, mas a margem de segurança das companhias é muito robusta, “apesar da falta de catalizadores pela frente para trazer retomada dos papéis”. “Mas para investidores de longo prazo, é possível esperar por esses gatilhos.”

As carteiras administradas de forma prudente continuam expostas às ações dos grandes bancos, ainda sendo mais modesta do que já foi. “Já tivemos uma fatia de 10% das aplicações dedicadas a eles, hoje está na casa de um dígito, e muito por conta por gostarmos na Cardinal de um outro banco, o Inter [ganhos no ano de 33,44%], e demos espaço a ele, reduzindo o dos bancos tradicionais”, explica.

Os cautelosos igualmente não descartam as ações dos bancões. Elas seguem ocupando espaço nas carteiras de investimentos geridas por ela. “Acho importante ter diversificação, olhar, sim, para varejistas, empresas diretamente ligadas aos avanços tecnológicos, mas não dá para surfar no modismo e deixar de lado boas empresas como os bancos, apesar das incertezas”.

Especulação a respeito do Futuro dos Bancos 1.0 publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



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