sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Perda de Fundos DI Pós-fixado e de Crédito Privado

Fernando Torres e Marcelo D’Agosto (Valor, 21/10/2020) avaliam: clientes dos quatro maiores bancos de capital aberto do país poderiam ter ganhado R$ 678 milhões a mais com seus investimentos sem alterar em nada seu perfil de risco e mesmo sem trocar de banco. Para isso, bastaria terem migrado suas aplicações para os fundos com melhor desempenho entre os DI e de renda fixa disponíveis em seus bancos.

O levantamento comparou fundos de investimentos de mesmos bancos, todos DI ou renda fixa, com o mesmo perfil de risco, mas com retornos diferentes. E quase toda a diferença de rendimento tem um único motivo e ele poderia ser conhecido antes da aplicação: a taxa de administração. Carteiras mais caras de bancos rendem cerca de 20% do CDI porque com Selic a 2%, a taxa de administração pesa muito nos rendimentos ex-post dos fundos.

Valor Investe percebeu, ao fazer o levantamento usado nesta reportagem, os bancões cobrarem 2%, 3% e até 4% em fundos conservadores, apesar de virem reduzindo paulatinamente essas cobranças para evitar entregar retornos nominais negativos já na largada para os cotistas, em um cenário quando a Selic está em 2% ao ano.

A conta é muito simples: se um fundo cobrar mais de 2% de taxa, naturalmente já perderá do CDI, o índice de referência. Por isso, as grandes instituições estão fazendo o mínimo para não cobrar para entregar (com 100% de chance) um retorno nominal negativo.

O que talvez não tenha entrado na conta da calibragem da taxa foi a crise provocada pelo coronavírus e pelo isolamento social. O crédito privado é um ativo privado (debênture) com risco de crédito: falência das empresas emissoras em um crash de suas ações.

Passou a fazer parte das carteiras para incrementar os retornos, mas balançou seu valor de mercado no primeiro semestre. Em setembro, por causa do risco fiscal e da Selic na mínima histórica, foi a vez de até mesmo o título público mais conservador da praça, o Tesouro Selic (ou LFT), dar prejuízo.

O resultado é, no acumulado do ano até setembro, os fundos conservadores mais caros de bancos tradicionais, como Banco do Brasil, Bradesco, Itaú e Santander, estão dando retornos iguais ou abaixo de 20% do CDI.

No caso do banco de origem espanhola, duas carteiras conservadoras de varejo chegam a acumular retorno negativo de janeiro a setembro, com o peso da taxa de 1,75% ao ano atual se somando ao ambiente adverso na renda fixa.

Para chegar a essas conclusões, o levantamento selecionou 57 fundos conservadores dos quatro principais bancos, com R$ 214 bilhões em patrimônio e 2,68 milhões de cotistas. Todos de perfil de risco similar, e em alguns casos com carteira idêntica (por aplicarem no mesmo fundo master).

Desse total, R$ 43 bilhões, de 277 mil cotistas, estão aplicados nos dois fundos conservadores de melhor desempenho de cada um dos bancos neste ano. Os outros R$ 171 bilhões, de 2,4 milhões de cotistas, estão nas carteiras mais caras e de desempenho pior.

A conta do potencial de R$ 678 milhões de ganho extra foi feita ao se comparar o retorno que cada carteira teve de fato, considerando o patrimônio médio e excluindo a variação por aportes e resgates, com o que os fundos piores teriam se a rentabilidade fosse igual à dos melhores fundos de cada banco. O resultado foi um retorno real de R$ 2,54 bilhões contra uma rentabilidade potencial de R$ 3,22 bilhões.

Essa conta do retorno potencial é bem conservadora, porque considera retorno de, no máximo, 80% do CDI obtido por essas aplicações.

Em um segundo cenário, considerando se os clientes mantivessem seu perfil de risco conservador, mas olhassem para fora dos grandes bancos e buscassem, por exemplo, uma conta remunerada ou CDB pagando 100% do CDI, teriam obtido retorno extra de R$ 1,8 bilhão.

Perda de Fundos DI Pós-fixado e de Crédito Privado publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



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