sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Queda do PIB Per Capita, Aumento Maior do Desemprego e Consequente Aumento da Produtividade

Produtividade dos Fatores

Álvaro Fagundes (Valor, 14/10/2020) informa: as novas projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) mostram o PIB per capita brasileiro crescer em um ritmo menos da metade da média dos emergentes no próximo ano , além de afundar mais que o dos seus pares neste ano. Enquanto os fundamentos ficam piores, a bolha de ações infla com o juro ínfimo…

Segundo o FMI, o PIB per capita do Brasil vai encolher 6,4% neste ano e crescer 2,2% no ano que vem, enquanto que a média dos emergentes é de retração de 4,7% em 2020 e alta de 4,8% em 2021. Para a média global, a estimativa do Fundo é de queda de 5,6% neste ano e expansão de 4% no ano que vem. Os cálculos da entidade levam a paridade do poder de compra (PPC), que é uma forma de refletir melhor o custo de vida dos países.

A vantagem do brasileiro em renda em relação à média dos países emergentes e em desenvolvimento vai encolher não só neste ano como também no próximo.

De acordo com os dados divulgados ontem pelo FMI também em PPC, o PIB per capita do Brasil no ano que vem será de US$ 15,2 mil, ante US$ 11,3 mil dos emergentes e em desenvolvimento, uma vantagem de 35%. Em 2014, o PIB per capita brasileiro era de US$ 15,8 mil, o que representava 62% mais que seus pares. Para 2025, o Fundo projeto que a folga brasileira será de 34%.

Não só o cenário para a economia brasileira não se confirmou, com a forte recessão iniciada ainda em 2015 e a fraca recuperação que veio a seguir (uma das 10% mais lentas vistas no mundo nos últimos 50 anos, segundo o próprio FMI), como também o cenário para os próximos anos não é pleno de otimismo.

Para este ano, o Fundo estima que o PIB do país vai encolher 5,8%, seguido por uma recuperação de 2,8% no ano que vem. A previsão anterior, de junho, apontava retração de 9,1% em 2020 e alta de 3,6% em 2020. Segundo a entidade, a economia nacional vai seguir em ritmo fraco até pelo menos 2025, quando a projeção é de crescimento de 2,2%, menos da metade da prevista para os emergentes: 4,7%.

A economista-chefe do FMI, Gita Gopinath, ressaltou que o país enfrenta uma “dura recessão” neste ano, mas que o cenário melhor que o previsto em junho reflete a recuperação melhor que a esperada então, com a abertura da economia e as medidas fiscais adotadas pelo governo – e que a redução desses estímulos no ano que vem explica a projeção menor de crescimento para 2021.

A retração de 5,8% do PIB brasileiro neste ano, se confirmada, vai ratificar mais uma década perdida para a economia nacional e que encontra poucos paralelos entre seus pares globais. No período 2011-2020, o PIB brasileiro teria um crescimento médio anual de 0,01%, ficando no 164o lugar entre 192 países, acima de economias que enfrentaram a crise europeia (Portugal, Espanha e Itália), desastres naturais (Porto Rico) e guerras (Líbia e Iêmen), além de Argentina e Venezuela.

Não é só no PIB que o Brasil vai ficar para trás. O mesmo vai acontecer no emprego, de acordo com as projeções do FMI. O organismo prevê que a taxa de desemprego vai fechar 2020 em 13,4% (ante 11,9%) e vai subir para 14,1% no ano que vem. Dos países das América, só Venezuela e México verão o desemprego aumentar em 2021 pelas previsões da entidade.

No auge da pandemia de covid-19 no país, a produtividade da economia brasileira mostrou comportamento racionalmente esperado, quando há imenso desemprego, e teve alta recorde, ao avançar 16,9% no segundo trimestre em relação a igual período de 2019. Os cálculos aritméticos são do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV). A expansão trimestral foi a mais forte desde o início da série do Ibre, em 2013.

Segundo os pesquisadores responsáveis pelo estudo, o aumento ocorreu porque o grau de utilização dos fatores de produção e o total de horas trabalhadas pelos brasileiros caíram muito mais do que o valor adicionado à economia no período: qual?! Assim, esse movimento não reflete um ganho de eficiência genuíno e, portanto, não deve mudar o quadro de desempenho ruim da produtividade nos últimos anos.page2image797535696

O Brasil não tem estatísticas oficiais para a produtividade total dos fatores (PTF). Tal como o hiato do produto (medida de ociosidade na economia) e a taxa neutra de juros, a PTF é o que os economistas chamam de “variável não observável”, ou seja, baboseira hipotética de economistas “racionais-dedutivos” não tão racionais… Ela mede a eficiência com que os fatores capital e trabalho se transformam em produção.

Para analisar o comportamento conjuntural desse indicador, os pesquisadores Fernando Veloso, Silvia Matos e Paulo Peruchetti construíram uma série trimestral da PTF, com base nas Contas Nacionais Trimestrais e na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, ambas do IBGE. Coletadas nessa última pesquisa, as horas efetivamente trabalhadas foram usadas para calcular a produtividade do trabalho.

Como medida do uso do estoque de capital, o Ibre/FGV adotou o nível de utilização de capacidade instalada (Nuci) na indústria de transformação, que compõe a sondagem do instituto do setor, como uma aproximação para o nível de utilização total da economia. O ideal seria um índice que abarcasse o percentual de uso do fator capital em todos os ramos de atividade, mas o país também carece de estatísticas nessa área, pondera Veloso.

Além da perturbação causada no mercado de trabalho – que levou as horas efetivamente trabalhadas a diminuírem 27,6% no segundo trimestre -, a paralisação das atividades na esteira do novo coronavírus provocou forte redução do estoque de capital em uso nessa comparação. A queda foi de 17,1% nos três meses terminados em junho, destacam Veloso, Silvia e Peruchetti.

Os dois movimentos tiveram influência positiva sobre a PTF entre abril e junho porque o valor adicionado à economia teve retração menor no período, de 10,8%. Usando muito menos máquinas e trabalhando muito menos horas, o produto caiu em intensidade mais fraca, o que gerou aumento da produtividade, observa Veloso, afirmando ser difícil interpretar esse dado em meio à elevada volatilidade e incerteza trazidas pela pandemia.

No mercado de trabalho, uma possível explicação para o avanço da produtividade no período mais agudo da recessão é a saída da ativa dos trabalhadores informais, que em geral são menos escolarizados e exercem ocupações menos produtivas, afirma o pesquisador. Com o ganho de participação de trabalhadores com mais anos de estudo na força de trabalho, pode ter havido impacto de alta na PTF, disse.

Em relação ao menor uso do estoque de capital, a análise é semelhante. “Da mesma forma que houve mudança na composição da força de trabalho, os setores da economia mais afetados pela pandemia foram os menos produtivos, como serviços pessoais, domésticos, restaurantes e hospedagem”, aponta Veloso, para quem ambas as hipóteses levantadas como influências positivas sobre a produtividade tendem a ter efeito passageiro.

O economista pondera que é difícil fazer prognósticos no momento, mas a alta da PTF pode ser revertida, à medida que pessoas e empresas de baixa produtividade voltem ao mercado. “Diante da grande incerteza entre os diferentes indicadores de produtividade, vamos precisar aguardar a superação da pandemia e a normalização da atividade econômica para avaliarmos com mais segurança a evolução da PTF no Brasil”, dizem Veloso, Silvia e Peruchetti.

No levantamento, os três pesquisadores citam estudo recente do Banco Mundial que mostrou impactos negativos na produtividade decorrentes de eventos muito adversos, como guerras, crises financeiras, desastres naturais e pandemias. As estimativas da instituição chegam a queda de 8% da PTF três anos após crises epidemiológicas severas como a atual, observam.

De acordo com os economistas do Ibre/FGV, nas crises geradas por esses eventos, a produtividade diminui devido à redução dos investimentos, com o aumento da incerteza. Há, ainda, efeitos negativos sobre a oferta de mão de obra e sobre o funcionamento do mercado de trabalho, além de impacto negativo sobre a acumulação de capital humano com o fechamento de escolas.

Desta vez, não há por que ser diferente, avalia o recitador de ladainha neoliberal. Para ele, é essencial retomar a agenda de reformas estruturais, como a administrativa e tributária. “As reformas já eram urgentes antes da pandemia e agora se tornaram ainda mais importantes.”

No Brasil, neoliberais viraram reformistas estruturalistas!!! 🙂

Queda do PIB Per Capita, Aumento Maior do Desemprego e Consequente Aumento da Produtividade publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



Nenhum comentário:

Postar um comentário