Economistas-chefes de bancos buscam “fazer a cabeça” de seus patrões contra o crédito! Não lhes custa nada o excesso de cautela por aversão ao risco atávica. A preferência pela liquidez ocupa seus “corações e mentes” em lugar da alavancagem financeira. Esta aumenta a economia de escala, logo, a produtividade e o lucro. Eles se esquecem: a preferência pela rentabilidade define o capitalismo!
Flávia Furlan (Valor, 11/12/2019) avalia: o crédito à pessoa física acelerou no último ano — e vem crescendo acima da tendência histórica. Bastou essa retomada para acender um “sinal amarelo” diante de:
- o endividamento ainda elevado das famílias,
- a deterioração dos indicadores de inadimplência e
- a lenta recuperação do mercado de trabalho.
Esse tom mais alarmista não avalia a relação entre fluxos de juros e renda. Eles mesmo fazem (falsas) projeções de recuperação mais forte da economia em 2020, acima de 2%, e não confiam na manutenção de juros nas mínimas históricas ser repassado para novo crédito?!
Levantamento realizado pela economista-chefe da XP Investimentos mostra a carteira de crédito para indivíduos ter atingido o recorde de 27,5% do Produto Bruto Interno (PIB) em outubro de 2019, ficando 0,62 ponto percentual acima da tendência, segundo série iniciada em 2002. Oh!!!
O indicador, conhecido como “hiato do crédito”, sinaliza aquecimento do mercado de empréstimos e financiamentos [?!]. Isto porque o avanço do estoque em relação ao PIB está pouco acima da tendência de longo prazo!
Hiatos positivos indicariam aumento da inadimplência em dois a três trimestres. Automatismo de cérebro Tico-e-Teco (“2 neurônio” sem S) funciona assim tipo gangorra…
- o ciclo de queda de juro promovido pelo Banco Central e
- a volta do apetite para emprestar dos principais bancos do país.
“Estou incomodada com os novos indicadores do crédito à pessoa física porque a lenta geração de vagas no mercado de trabalho deve continuar”, afirma a economista. Segundo a economista-chefe, houve deterioração da qualidade da mão de obra. Esta ficou muito tempo fora do mercado de trabalho — e a parcela dos desempregados continua.
As empresas demitiram aquém do que poderiam na crise, pelos custos de desligamento, segundo a perversa análise da economista. Então, pode não haver um boom de contratações durante a recuperação. Ora, ora…
De fato, “o aquecimento do mercado de crédito se dá com as famílias já altamente endividadas”. Ora, isso é dado de estoque, devido principalmente ao crédito imobiliário em longo prazo. Suas prestações não comprometem os orçamentos domésticos. Por contrato, inicialmente, são feitas abaixo de 30% da renda, mas o comprometimento pode abaixar com o ganho maior de renda familiar ao longo do tempo.
Dados do BC mostram, em setembro, 44,8% da renda anual dos brasileiros estava comprometida com estoque de dívidas. Esse indicador é dado pela relação entre o valor atual das dívidas das famílias no SFN e
a massa de rendimentos acumulada nos últimos doze meses.
Caiu antes, principalmente nas modalidades de consumo, devido a:
- a avaliação de risco do credor,
- a menor disposição das pessoas físicas para o consumo e
- a recuperação da renda real pela queda da inflação.
O indicador voltou à tendência de alta, após cair a 41% em janeiro do ano passado. Voltou a se aproximar do topo de 46,8%, alcançado em abril de 2015.
A parcela do fluxo da renda mensal usada para o pagamento do serviço de dívidas (fluxos de amortização e juros) estava em 20,6% em setembro de 2019, acima dos 19,8% verificados 12 meses antes. Nos anos de recessão (2015 e 2016), esse percentual ultrapassou os 22%.
O maior comprometimento da renda da massa dos indivíduos devedores com o serviço da dívida ocorre mesmo em um cenário de queda da Selic para a mínima histórica, de 5% até aqui. Isso porque a taxa cobrada no crédito à pessoa física, além de não acompanhar o mesmo ritmo de redução, é bem superior ao juro básico.
Dados do BC mostram, em outubro de 2019, a taxa média de juros para a pessoa física no crédito com recursos livres estava em 49,7% ao ano, pouco abaixo dos 52% de um ano antes.
O comprometimento da renda deve crescer acompanhado do avanço no mercado de trabalho para ser sustentável. No cenário básico da consultoria (com 60% de probabilidade de ocorrer), a economia crescerá e haverá geração de emprego em 2020. Alias, como estava previsto para esse ano…
Ainda assim, as estimativas apontam para avanço do endividamento das famílias em relação à renda de 2 pontos percentuais, para 56%. Já o comprometimento da renda mensal deve subir de 28% em 2019 para 28,3% no próximo ano. Os indicadores divergem dos medidos pelo BC porque incluem dados de cartão de crédito e consideram a massa de rendimento habitual.
Economista do banco Santander também se preocupa com o avanço da inadimplência para as pessoas físicas nas últimas medições do BC. Ela saiu de 3,3% em julho para 3,5% em outubro, puxada pelas modalidades com juros altos, como cartão de crédito parcelado e cheque especial. Oh!!!
“A situação do crédito às pessoas físicas é delicada e não está completamente estabilizada, porque depende da continuidade das reformas”, disse o ideólogo. “A reforma neoliberal vai permitir o desenvolvimento sustentável para os próximos anos”, é a ladainha contumaz dessa gente estúpida.
Além disso, segundo a economista, o cenário pode se tornar sensível caso o crescimento projetado para 2020 não se materialize – o boletim Focus desta semana traz um avanço de 2,2% do PIB para o próximo ano, ante 1,1% projetados para 2019.
Em seu último relatório de estabilidade financeira, o BC destacou: os ativos problemáticos (inadimplência, reestruturação de dívidas e operações mais arriscadas) tiveram leve aumento, embora ainda estejam em níveis mínimos, enquanto as novas safras demonstram tendência de aumento do risco concentrado para o crédito pessoal (excluindo consignado). Nessa modalidade, os ativos problemáticos, que representavam 12,8% do estoque em setembro de 2018, chegaram a 13,2% em junho de 2019.
Segundo o BC, a concessão de crédito às pessoas físicas deve continuar crescendo – nos últimos 12 meses até outubro, o aumento foi de 14% -, com nível de risco pouco acima do atual devido à estratégia dos bancos de avançar em linhas mais rentáveis e arriscadas. Contudo, sem uma efetiva retomada da economia, essa estratégia pode ser alterada.
Outro economista-chefe, este da Serasa Experian, afirma a situação não ser confortável. “Há 63,85 milhões de inadimplentes no país”: ⅔ da população ocupada?! 50 milhões além do número de desempregados?!
Desde maio do ano passado, esse grupo ganhou 3 milhões de pessoas. Obviamente, não está no horizonte uma nova crise de inadimplência.
Há três variáveis capazes de afetar a inadimplência:
- a inflação,
- o alto endividamento e
- o desemprego.
“Para 2020, estamos otimistas, porque o desemprego deve cair e a inflação está controlada”, diz os vendedores de ilusão em todo fim de ano. “O que poderia gerar uma preocupação maior é o excesso de endividamento, mas acho pouco provável porque em 2020 entra para valer o cadastro positivo. Este atua na redução sistêmica da inadimplência, dimensionando melhor o risco dos indivíduos.”
O raciocínio equivocado confunde estoque de dívidas passadas com fluxo de novos endividamentos. Não percebe a atual queda dos juros não afetar o serviço da dívida passada prefixada. Enfim, tamanha estupidez é o resultado de:
- más escolas ortodoxas de Economia e
- carência de um debate plural na mídia entre economistas neoliberais e desenvolvimentistas, para haver contraponto às burrices costumeiramente ditas por aqueles.
Recessionistas contra Crédito: Aversão ao Risco do Capitalismo pela confusão entre fluxos e estoques publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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