segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Mercado de Luxo: Valores Pecuniários em lugar de Valores Culturais e Morais

Cada casta de natureza ocupacional possui seus valores morais e/ou culturais. Ethos é uma palavra com origem grega com o significado de “caráter moral“. É usada para descrever o conjunto de hábitos ou crenças definidoras de uma comunidade ou nação.

No âmbito da Sociologia e Antropologia, o ethos são os costumes e os traços comportamentais capazes de distinguir um povo. Por exemplo, ethos dos indianos são os valores de suas castas. A desigualdade social e a consequente estratificação social são piores no Brasil.

O ethos dos brasileiros, aparentemente, seria a mistura. No entanto, o ethos dos ricaços, historicamente, é a busca de exclusividade. Com a mobilidade social, eles desejam se distinguir da “plede rude”.

No passado, esta era escrava, fazia o trabalho manual. Hoje, os ricaços tentam passar um verniz “cultural” em rápidas pinceladas de consumo de luxo para demonstrar uma distinção em lugar de ter consciência social, altruísmo e empatia com os mais pobres.

O ethos também exprime o conjunto de valores característicos de um movimento cultural ou de uma obra de arte. Nesse caso, os multimilionários buscam curadores para adquirir pinturas decorativas de suas mansões de luxo. Além de alguns as usarem para “lavar dinheiro-sujo e/ou sonegado ao fisco”.

Ethos pode ainda designar as características morais, sociais e afetivas definidoras do comportamento de uma determinada pessoa ou cultura. O ethos se refere ao espírito motivador das ideias e costumes.

Na retórica, o ethos é um dos modos de persuasão ou componentes de um argumento. O ethos é a componente moral, o caráter ou a autoridade do orador para influenciar o público. As outras componentes são o logos (uso do raciocínio, da razão) e o pathos (uso da emoção).

No viés de auto atribuição de riqueza é necessário sempre um discurso justificador para seu valor fictício ou imaginário. Atribuir um valor para um bem supérfluo tem a função psicossocial de esnobar.

É necessário diferenciar os “bens da moda”: desejados porque outros já os possuem. Estes são adquiridos por inveja, querendo ter igual aos outros. Os “bens esnobes” são desejados porque os outros não os possuem.

O ricaço bem-sucedido tem o desejo de ser diferente, exclusivo, quer se “destacar da multidão” pelo gosto peculiar. Os “bens de consumo conspícuo”, como define Veblen em sua Teoria da Classe Ociosa, têm de ser facilmente notados. Esse bens são desejados porque são reconhecidos como caros!

A desaceleração econômica afeta boa parte dos países desenvolvidos e impactou para baixo o número de milionários e bilionários no mundo no ano passado. No entanto, no Brasil, eles continuaram a crescer e fecharam 2018 com US$ 4 bilhões a mais no total de suas fortunas, em comparação a 2017.

O número de bilionários no mundo encolheu 4,3% no período, somando uma fortuna de US$ 8,5 trilhões. Os dados são de pesquisa global feita pela consultoria PwC em parceira com o banco suíço UBS. Eles apontam para uma inversão de curva global após cinco anos de crescimento de 34,5% nos recursos dos bilionários. Exceção feita ao Brasil, quando seu número de afortunados avançar de 42 para 58 pessoas, e de US$ 176 bilhões para US$ 180 bilhões.

Pela Forbes, o número de bilionários brasileiros se elevou de 180 em 2018 para 206 em 2019. A fortuna somada deles passou de R$ 975,6 bilhões para R$ 1.205,8 bilhões. Em setembro de 2019, a riqueza financeira dos clientes Private Banking somada alcançou R$ 1,225 trilhão.

Apesar da quantidade e do volume financeiro maiores, a geração e manutenção de riqueza foi menos pujante e não se deu na proporção esperada pelos especialistas. Isso porque os novos bilionários vêm apresentando menos capacidade de manter seus bilhões intactos. Ou mesmo de fazer seu dinheiro multiplicar-se na dimensão desejada.

“Isso puxa a média de riqueza dos bilionários já no clube para baixo. Porque se os novos bilionários entraram com US$ 1 bilhão cada, o volume total deveria ter aumentando em US$ 16 bilhões. O que não aconteceu”, explica o líder de mercado de consumo da PwC Brasil.

Para 2019, o consultor espera o acúmulo de fortunas avançar um pouco mais no país, devido a eventos geradores de liquidez no mercado, como:

  1. operações de fusões e aquisições,
  2. abertura de capital (IPO) e
  3. empreendedorismo de alto impacto (como o das startups e das fintechs).

Na verdade, cresce mais o número pela morte de velhos bilionários e fracionamento de seus bilhões entre os herdeiros.

Essa geração de riqueza eleva as diferenças sociais. Esse ciclo começou em 2018, quando se registraram 374 transações de M&A no Brasil. Mergers and Acquisitions (M&A), ou Fusões e Aquisições (F&A) para os caboclos, se refere à consolidação de empresas ou ativos.

Elas geraram cerca de US$ 37,3 bilhões, conforme o que foi declarado. Metade das operações não revelaram o valor das negociações. Do total informado, mais de 10% envolviam empresas familiares.

O perfil do novo milionário e bilionário vem mudando e reflete no mercado de consumo. São indivíduos mais jovens, ligados a empresas de tecnologia. Eles se enriquecem mais rapidamente se comparados aos empreendedores industriais e varejistas do passado. 

Atualmente, percebe-se mais empresas familiares participando dessas operações. O que significa mais dinheiro no bolso dos principais acionistas. O que se reflete no crescimento da indústria de ‘wealth management’ e do private banking”.

Nos grandes eventos de obtenção de ganhos de capital e liquidez (IPOs e M&As) aparecem as family offices: famílias com grandes fortunas que investem no mercado financeiro.  Isso tende a movimentar o mercado de novos ricos e empreendedores.

Atualmente, a imagem almejada pelos novos ricos é eles terem mais consciência social, ambiental e ética de consumo. As empresas de luxo estão mais preocupada em engajar esses consumidores nessa autoimagem.

Existe empresa especializada em planejamento patrimonial com clientes de renda média mensal em torno de R$ 2,5 milhões. A nova geração de milionários vem especialmente de pequenos empresários, médicos, herdeiros e executivos de grandes companhias.

Os millennials, nascidos entre 1981 e 1996, representam 27% do mercado global de luxo. A expectativa é eles corresponderem a 40% da clientela desse universo em 2025. As gerações mais novas pressionam por linguagens mais contemporâneas, projetos mais colaborativos e antenados com a sustentabilidade. Essa turma determinará se as marcas de luxo conseguirão se manter bem sucedidas no futuro.

Uma marca famosa de joia, p.ex., passou a dar a menor atenção a seus produtos mais icônicos, como os anéis de noivado, ciente de os jovens de hoje já não enxergarem o casamento como um destino inevitável para a mobilidade social. Surgiram outras prioridades, como um celular de última geração. Mas o comportamento dos millennials em relação aos produtos de luxo não difere muito do de outras gerações ao preferirem as joias mais tradicionais — e simbólicas.

Na medida na qual a fortuna aumenta, a qualidade e a diversidade de investimentos também. Quanto mais cifras acima de um milhão de dólares estiverem disponíveis, maiores serão as possibilidades dos investimentos.

Mas para acessar produtos financeiros mais sofisticados é preciso abrir mão de liquidez e correr um pouco mais de risco se a intenção é atingir um retorno mais alto e fazer a fortuna se multiplicar. Isso porque se há pouco tempo dava para ganhar 10% ao ano em fundos multimercado e de renda fixa, hoje, com a taxa básica de juro, a Selic, em 5% ao ano, isso ficou difícil. Ou o portfólio fica agressivo, com aposta maior na Bolsa, ou é necessário alongar o prazo de vencimento dos títulos em carteira.

Na percepção dos agentes de mercado, no private banking — clientes com mais de R$ 3 milhões líquidos para investir, em alguns bancos; o líder Itaú exige acima de R$ 10 milhões — dá para ter em vista um portfolio como um todo, separando o percentual de mais longo prazo.

A tendência atual está em investimentos alternativos como:

  1. fundos de private equity e venture capital,
  2. crédito privado exclusivo,
  3. estratégias com ativos e passivos casados,
  4. economia real (debêntures de infraestrutura) com vencimento de cinco a 10 anos e
  5. fundos imobiliários de renda e de incorporação.

Essas estratégias casadas permitiram este ano as carteiras dos milionários do banco se rentabilizassem em dois dígitos, em média 14%. Mas, daqui para frente será cada vez mais difícil atingir esses patamares.

O Itaú detém mais de 30% desse mercado de Private Banking, com R$ 373 bilhões em patrimônio líquido (PL) investidos no Brasil e R$ 480 bilhões se somados os recursos alocados em outros países de seus clientes brasileiros. Só este ano, sua captação líquida foi superior a R$ 35 bilhões e deve fechar o ano com R$ 40 bilhões em dinheiro novo. Desse total, R$ 5 bilhões estão em investimentos alternativos. Mais de 40% de sua base acessou produto de natureza mais sofisticada.

Essa movimentação reflete uma disputa acirrada entre bancos e gestoras pela conquista de uma participação cada vez maior de um público com mais de R$ 1,2 trilhão em PL investidos no mercado doméstico em setembro de 2019. Ele cresceu 13,3% nos nove primeiros meses deste ano, segundo levantamento feito pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

Um produto típico para esta classe de investidores são os fundos exclusivos, indicados geralmente para quem tem recursos acima de R$ 20 milhões. Além da facilidade de compra, venda e resgate, o fundo exclusivo tem a agilidade de alocação e acesso a ativos financeiros específicos disponíveis para os investidores institucionais e não para a pessoa física.

Tudo a ser decidido por ricaços passa por consultoria/curadoria. Com o juro menor, para as alocações de ativos fazerem sentido, tem de olhar para fora também e para ofertas exclusivas. Nesse contexto, a proximidade com o banco de investimento nunca foi tão sinérgica.

A segunda maior carteira private banking, com R$ 230 bilhões, é a do Bradesco. Houve mudança de perfil de investimento dos milionários de sua carteira este ano. Em dezembro de 2018, 31% da base private do Bradesco tinha perfil conservador. Hoje são 18,3%. Já os arrojados eram 15% e agora são 27%.

A publicação da instrução 476 pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em junho de 2018 criou ainda a possibilidade de criação de instrumentos de investimentos com oferta pública limitada a até 50 investidores. Esses exclusivos têm sido oferecidos aos milionários. Produtos como FIDCs com cota sênior ou mesmo FIP de participação estão sendo estruturados para atender ao cliente private e as family offices. Fundos de private equity e venture capital não aparecem nas plataformas de investimentos.

A fintech XP possui pouco mais de R$ 70 bilhões em PL no private, mas tem a pretensão de se tornar líder deste mercado em cinco anos. Compete com o CSHG suíço. Este avança em ambiente dominado por instituições financeiras nacionais e defende que o fato de ser um banco global possibilita acessar ativos diferenciados no exterior. O banco suíço tem R$ 180 bilhões em recursos aplicados de brasileiros dentro e fora do país e possui representação em Zurique, Genebra, Bahamas, Rio e São Paulo. Tem olhar local e internacional diferenciado para auxiliar a fuga de capital.

A alta gastronomia e os hotéis de luxo da categoria do Fasano representam apenas 4% do mercado de luxo. Só acima de champanhes, vinhos finos e destilados premium, correspondentes a 3%. Responsável por 51% desse universo, o segmento maior é o de carros de luxos. As marcas de roupas, sapatos, joias, óculos, relógios, canetas e cosméticos respondem pelos 42% restantes.

Tudo somado, a indústria do luxo brasileira deverá terminar este ano, segundo a Euromonitor International, com um faturamento de R$ 28,5 bilhões. Observe ser um percentual muito baixo ou um “arredondamento” nominal do estoque de R$ 1,225 trilhão do estoque de riqueza financeira do private banking.

O resultado representa um crescimento de 5,5% em relação ao ano anterior – e de 13,5% em comparação a 2014. O desempenho foi alavancado principalmente pela indústria automotiva e pelo segmento do qual a moda faz parte, sobretudo em razão das vendas de perfumes e peças de roupa.

As fabricantes de veículos premium, puxadores de mais de metade das vendas do mercado de luxo no Brasil em 2018, esperam repetir o desempenho este ano. No geral, o segmento teve crescimento 13,7% superior ao de 2017. Os automóveis representam metade da receita total das vendas no segmento de luxo, mas apenas 2% das vendas totais de veículos no país são premium.

Mercedes-Benz, BMW, Audi, Kia, Volvo, Land Rover, Mini, Porsche, Jaguar e Lexus foram os campeões da categoria premium. Todos exibem tecnologia embarcada como diferenciais de conforto e segurança para atrair um consumidor exigente, mas eles ainda integram um nicho restrito do mercado brasileiro.

No ano de 2018, a Mercedes-Benz emplacou 12.131 unidades no país. Até outubro deste ano foram emplacados 8.261 automóveis da marca. O Classe C, com preço de tabela de R$ 179.900 a 324.900, lidera mais uma vez as vendas da montadora alemã no Brasil, com 2.780 unidades.

A conectividade da telemática MBUX, sigla de Mercedes-Benz User Experience, busca transformar os veículos da fábrica em um smartphone sobre rodas, com maior conforto e agilidade nos comandos. Eles podem ser acionados por voz.

No ano passado, 11.375 de carros BMW, custando entre R$ 165.950 e R$ 799.950, foram emplacados no Brasil. O resultado representa um crescimento de 11,4% em relação a 2017 e a expectativa de crescimento para este ano é de 10%, a mesma previsão para 2020 – a marca responde por 25% do segmento das montadoras de luxo.

Incluindo a divisão de motos e a marca Mini, da mesma empresa, 20 novos veículos foram lançados neste ano. Fabricado no Brasil e disponível desde março, o novo BMW Série 3 custa a partir de R$ 195.950. Ele virou seu modelo mais vendido.

O SUV mais vendido foi o X1 com preço de tabela de R$ 191.950 a R$ 235.950. Parte da reação da montadora no mercado nacional se deve a investimentos focados em uma ofensiva no segmento de alto luxo no mundo todo. Atualmente, a BMW representa 25,1% do mercado premium no Brasil.

A Audi mantém o desempenho de vendas do ano passado, quando ficou em terceiro lugar entre os campeões, mas teve queda de mais de 12% na comparação com 2017. Este ano espera crescer pelo menos em participação de mercado.

A fábrica de São José dos Pinhais (PR) produz o A3 Sedan para o mercado brasileiro. O modelo foi o segundo da Audi em vendas em 2018, com 1.991 unidades. O líder foi o Q3, que vendeu 3.227. A aposta é o lançamento dos novos Audi Q8, A6 e A7 ajudar o desempenho este ano.

Todos contam com um novo sistema de entretenimento, com duas telas sensíveis ao toque e retorno tátil, o Traffic Jam Assist. Ele combina o controle de cruzeiro adaptativo com o Audi Lane Assist, oferecendo suporte ao motorista na aceleração ou frenagem, e tração integral. As pessoas passam muito tempo dentro do carro, então é preciso o veículo ter equipamentos capazes de permitirem total conectividade, além de desempenho, segurança e design.

A Kia Motors do Brasil é coreana copiadora dos alemães. Os últimos lançamentos da marca são os modelos Stinger GT, com preço de tabela de R$ 349.990. Para a classe média tem o Cerato 2.0, de R$ 94.990.

Em 2018, a montadora sul-coreana sem fábrica no Brasil registrou o licenciamento de 11.719 veículos no país. Foi um crescimento de 39% nas vendas em comparação com 2017.

O verdadeiro luxo reside nos detalhes possíveis de serem exibidos. O extraordinário cria o desejo de diferenciação ou exclusividade para esnobar.

Esnobar tem como contrapartida manifestar desprezo, desrespeito por outra pessoa. O ricaço menospreza o pobre, demonstrando-lhe indiferença.

Localização, arquitetura, tecnologia e segurança são atributos essenciais de casas e apartamentos. Alguns poucos custam mais de R$ 100 milhões.

Por exemplo, haviam 660.490 imóveis  à venda no ZapImóveis em 06/12/19 a partir de R$ 1 milhão. Curiosamente, o DIRPF AC 2017 registra 672.578 milionários em PL per capita acima de R$ 1 milhão e renda na faixa mensal acima de 30 salários mínimos, portanto, entre o 1% mais rico.

O valor contábil total dos apartamentos e casas foi de R$ 2,325 trilhões, enquanto joia, quadro, objeto de arte, de coleção, antiguidade, etc., foi estimado só em R$ 14,3 bilhões. É decoração dos imóveis de luxo.

Diferenciais como estilo, comodidade e acabamento refinado também são exigências de um público formado por empresários, executivos e investidores. Um dos setores menos afetados pela recessão, o mercado de imóveis de luxo mantém-se valorizado. Vendas e lançamentos haviam desacelerado nos últimos anos, mas voltaram a subir, estimulados pela queda dos juros.

Os negócios nesse mercado demandam discrição e exclusividade. Imobiliárias especializadas oferecem consultoria personalizada e investem em corretores de alto nível, bem informados também sobre outros assuntos e capazes de manter uma conversa variada com esse público.

O cliente tem que sentir segurança. Como o ciclo de venda é muito mais demorado, cria-se um vínculo entre corretor e cliente. Por exemplo, uma imobiliária vendeu recentemente, por R$ 30 milhões, uma casa no mercado há quase três anos. Há imobiliária com cerca de 6 mil imóveis cadastrados, à venda por preços entre R$ 3 milhões e R$ 120 milhões.

Não é um segmento imune a crises. Na fase mais aguda da recessão, entre 2015 e 2016, houve um movimento expressivo de venda de casas de alto padrão em São Paulo por parte de empresários. Eles faliram ou tiveram que colocar suas empresas em recuperação judicial. Até os muito ricos pararam de investir em imóveis no Brasil, por causa do cenário econômico.

Mas se é o último mercado a sofrer com a crise, costuma ser também o primeiro a sair dela. A reação vem sendo notada desde o fim de 2018. Em São Paulo, a retomada começou antes do segundo turno das eleições, quando os ricaços afastaram o medo de tributação progressiva e fim de isenção de lucros e dividendos com a eleição do ultraliberalismo econômico e conservadorismo em costumes sociais.

Investir em imóveis de alto padrão nos Estados Unidos e Europa tornou-se uma alternativa para brasileiros de alto poder aquisitivo também em momentos de crise econômica. Nos últimos anos, com a recessão interna, a procura de casas e apartamentos de luxo no exterior por parte de brasileiros cresceu bastante, principalmente em cidades como Miami, Orlando, Nova York, Lisboa, Paris e Londres.

Agora, sem medo de ser tributado, esse público está voltando a apostar no país. Juros baixos e desvalorização do real também contribuem para tornar o mercado brasileiro mais atraente.

As taxas de financiamento imobiliário nunca foram tão baixas. Caíram de 11%, três anos atrás, para 7%. Descontando a inflação, dá uma taxa real em torno de 4%, mesmo nível em vigor nos Estados Unidos.

A expectativa é de o movimento mudar de direção em função do câmbio. Se a situação se acalmar, quanto à Guerra Comercial EUA X China, as pessoas multimilionárias devem aumentar novamente a busca por imóveis no exterior.

Em Portugal, o fluxo de brasileiros dessa faixa socioeconômica teve impacto no próprio mercado local. O pico foi em 2018. A demanda continua em 2019, talvez não na intensidade de 2017 e 2018, mas ainda é forte. Entre 2016 e 2018, a participação dos brasileiros no mercado de Portugal alcançou igual ou maior dimensão se comparada a dos próprios portugueses.

O mercado de condomínios de luxo com opções de lazer trouxe um conceito além de conforto, beleza, segurança e comodidade. O consumidor de alta renda espera mais. Morar, ou passar fins de semana, em casas com acesso a campos de golfe, piscinas com ondas, hípicas para equitação, trilhas para caminhada pela natureza, pista para pouso aeronaves e marina para barcos é uma realidade desejada, e disponível, para quem pode dispor de, no mínimo, R$ 2,5 milhões para viver uma experiência capaz de ultrapassar o simples ato de comprar um bom imóvel. É para quem almeja uma casa exibicionista também de um estilo de vida de luxo e glamour, diferenciada da medíocre vida besta da plebe rude.

Empreendimentos como o Fasano Cidade Jardim, Village Boa Vista, ambos em São Paulo e Aretê Búzios, no Rio de Janeiro, com pista de pouso para jato particular e marina para barcos, são alguns exemplos. Também no Rio, dois condomínios na Barra da Tijuca, bairro carioca a beira mar, Golden Green e Reserva Uno contam com campos de golfe. Os apartamentos têm plantas a partir de 500 metros quadrados, com valores superiores a R$ 7 milhões. O diferencial em áreas urbanas fica por conta do lazer sofisticado, como spa, piscina térmica, pistas de corrida e quadra de tênis.

Quanto ao retorno em SP, o metro quadrado há dez anos foi vendido em um empreendimento semelhante, o Parque Cidade Jardim, a R$ 5 mil. Hoje, está em R$ 35 mil.

O Village Boa Vista, condomínio de apartamentos de 150 m2 a 400 m2, contíguo à Fazenda Boa Vista, no município de Porto Feliz, adota o conceito de segunda residência. É casa para fins de semana e férias. Além de contar com todo o complexo de lazer da fazenda (cavalos, trilhas, dois campos de golfe, de pólo, quadra de tênis, espaço para triatlo, ciclismo e lago voltado para natação), a novidade ficará por conta de uma piscina com ondas de até 2,70 metros de altura. Um achado para os surfistas do campo esnobarem!

O projeto veio a partir de um estudo realizado no mundo voltado para segunda residência. Ele concluiu o lazer ser uma das coisas importantes nesse mercado. As pessoas querem ter um lugar prático onde pudessem reunir amigos e família para demonstrar serem mais ricos.

Em comum, esses clientes têm hábitos e culturas similares de exibicionismo. Os proprietários da Fazenda Boa Vista são, em geral, famílias com sobrenomes tradicionais e profissionais liberais de destaque. Muitas famílias reúnem várias gerações em casa, avós, pais e netos para comemorar a ascensão social.

O segmento de luxo passou ao largo da crise. Esse é um mercado com comportamento descolado de outro segmentos imobiliários.

Um dos motivos, além da queda de juros, foi o crescimento de 8,4% do rendimento médio do grupo 1% mais rico, segundo o IBGE. No ano passado, 14 mil brasileiros entraram para o grupo dos possuidores patrimônio superior a US$ 1 milhão, conforme a consultoria Capgemini. Hoje, há 186 mil milionários em dólares no Brasil. Ou 672.578 milionários em reais com faixa mensal de renda acima de 30 salários mínimos. Este é o 1% mais rico brasileiro.

A aviação executiva brasileira está ganhando alcance. Dos 5.570 municípios do país, 1.110 já são acessíveis por jatinhos particulares. A aviação comercial atende pouco mais de 140 cidades. No total, são cerca de 11.800 aeronaves executivas em operação, a terceira maior frota do mundo. Nesse universo, o luxo é uma marca. Por exemplo, o Phenom 100, jatinho da Embraer mais usado no país, com 86 unidades voando, custa US$ 4,5 milhões. O cliente tem 11 opções de design de interior.

Depois da turbulência da crise quando o segundo lugar foi para o México — a maior frota é a dos EUA –, o mercado brasileiro aponta para uma retomada. De acordo com a Associação Brasileira de Aviação Geral (Abag), o negócio de jatos executivos cresceu entre 6% e 7% no primeiro semestre, comparado com o período anterior.

O agronegócio é o principal propulsor do avanço nesse setor, seguido por varejistas como Magazine Luiza, Havan e jogadores de futebol. Neymar optou pelo helicóptero ACH145, com preço básico de US$ 11 milhões.

Iates e lanchas de milhões de reais ainda navegam com desenvoltura no país apesar do marasmo da economia. O segmento não exibe mais a pujança de um crescimento de 20% ao ano até meados da década. Ele perdeu competidores no mercado interno como Ferreti e Bruswick, mas se readaptou para sobreviver.

A Azimut Yachts Brasil, marca do Grupo italiano Azimut-Benetti, com matriz na Itália, reconhecido como o maior produtor de iates de luxo do mundo e com operações em 70 países, tem fábrica em Itajaí, Santa Catarina. Inaugurada em 2010, a estratégia para superar o cenário complexo foi a produção de embarcações de 56 a 100 pés em substituição à linha de 40 pés.

A estrela é o Azimut 27 Metri. Custa R$ 40 milhões. O projeto é assinado por designers italianos. Grande parte da estrutura é em fibra de carbono 100% pura, inédito no mercado náutico do Brasil. São 27 metros de comprimento. É uma das maiores embarcações montadas e fabricadas no país. O primeiro mega iate, com 350 m2, deve ser entregue no início de 2020.

A Schaefer Yachts participa do setor náutico brasileiro há 27 anos. Nela, o portfólio de lanchas e iates para atender o consumidor de alta renda é variado. O Schaefer 25M é uma das ofertas. Tem comprimento de 24,75 metros e pode receber até 21 passageiros – 12 para pernoite. Um dos últimos lançamentos do estaleiro catarinense é o Schaefer 770, com 23,56 metros de comprimento e capacidade para 20 pessoas – dez para pernoite.

No estaleiro da Intech Boating, detentora da Sessa Marine no Brasil, instalado em Palhoça (SC), a atração é o novo Sessa C44. A embarcação aposta em elegância, esportividade e alto desempenho da marca italiana. O proprietário pode decidir entre duas configurações de cockpit: a clássica, com amplo solário e garagem para bote, ou a versão com duplo cockpit, com duas mesas que podem acomodar até 12 pessoas para o almoço. Tem comprimento total de pouco menos de 14 metros, capacidade para 14 passageiros – cinco para pernoite -, dois motores Volvo IPS 600 e autonomia para 200 milhas náuticas (370,4 km). Custa a partir de R$ 3 milhões.

Na Boat Show de São Paulo, em setembro de 2019, a Intermarine, uma das líderes na fabricação de embarcações de classe mundial no país, exibiu o Intermarine 24M, com design projetado pelo estúdio Luiz de Basto Designs. Com 81,36 pés (24,80 m) de comprimento, é equipado com dois motores MAN de 1900 hp cada, chega a 31 nós de velocidade máxima. O modelo pode ter até cinco suítes e capacidade máxima para 26 pessoas. O ticket médio das linhas do estaleiro está em torno de R$ 6,5 milhões.

Foram anos difíceis para o setor de moda e acessórios de luxo. Da retração de quase 20% registrada pelo setor de 2016 para cá, o saldo deixado foi de debandada de grifes como Versace, Ralph Lauren, Lanvin e Piaget. Elas chegaram ao Brasil apostando na euforia do início da década, mas fugiram dos altos custos de importação, do freio no apetite do consumidor e, principalmente, da dificuldade em se adequar aos hábitos de compra nacionais.

Vender moda fina no Brasil é uma equação de ofertar acessórios mais baratos, manter na vitrine lançamentos caros e mimar esse perfil de cliente. No mundo, segundo a Deloitte, faz roupas, bolsas, acessórios e sapatos responderem por 23% do mercado de luxo.

Movido por emoção, desejo e impulso, o mercado brasileiro de joias e relógios deveria, a exemplo do que acontece em outros países, manter vendas crescentes. Afinal, acredita-se, a crise passa longe dos consumidores capazes de movimentarem esse exclusivíssimo universo de “objetos extraordinários”, i.é, não ordinários.

No Brasil, nos últimos quatro anos, o segmento joalheiro viu seu faturamento encolher cerca de 20%. O país deixou de ser endereço de grifes internacionais como Vaucheron e Piaget. Estima-se um faturamento desse segmento de luxo ao redor de R$ 1,5 bilhão no país.

Além da crise, o mercado nacional sofre com as altas de preço do ouro e do dólar. No caso das marcas internacionais, o maior vilão é a carga tributária. Ela transformou o país em grande exportador de compradores de relógios. A cada R$ 100 vendidos em relógio no país, R$ 60 ficam em impostos, levando o consumidor brasileiro a comprar fora e trazer no pulso.

Há ainda o desafio da segurança urbana. Ela limita o uso das peças a eventos e ocasiões especiais. Além disso, há forte penetração de atividades ilegais – os chamados sacoleiros.

Para quem deseja esquecer o país, mosteiros aninhados em penhascos cobertos de farta vegetação, experiências enogastronômicas inesquecíveis, culturas exóticas, arte secular, lugares remotos, vida selvagem como nunca se viu. Para quem aprecia roteiros sob medida, o mundo é uma fuga da triste realidade brasileira. É só desvendar.

Tendência, para as agências com oferta de viagens de alto padrão, é inusitado aos olhos do turista: diversidade, sustentabilidade, originalidade. Chique é ser diferente, único.

Quem diria conhecer o Butão, país supostamente mais feliz do mundo? Quem opera no nicho do turismo personalizado, aposta na singularidade do roteiro, e faz o convite para uma jornada interna. Epa!

O mergulho espiritual se dá em meio a bambuzais, glaciares, picos escarpados, plantações de arroz e coníferas. Antigos mosteiros e lhakhangs (templos), impressionantes estátuas reverenciando Buda, santuários medievais, conventos e centros de meditação se sucedem ao longo do programa de 7 noites (a partir de U$ 8,7 mil por pessoa, parte terrestre: +/- R$ 40 mil.

Ainda convida para trilhas e passeios de bicicleta a uma altitude de mais de 2.000 metros, rituais de bênçãos e orações. Para fechar a viagem com chave de ouro, um jantar em trajes tradicionais, à luz de velas, música ao vivo e danças folclóricas, em meio a ruínas de pedra do século XII emolduradas pela impressionante cordilheira do Himalaia.

Mas se o Butão se revela destino exótico, não menos insólito é se entregar à arte imersiva da ilha japonesa de Naoshima, no mar interno de Seto, outra opção da Primetour. Feito sob medida para os amantes da arte contemporânea, arquitetura e design, o roteiro completo de 10 noites (a partir de U$ 14,7 mil por pessoa, parte terrestre: +/- R$ 60 mil. É possível descortina o delírio criativo de artistas como Tadao Ando, Niki de Saint Phalle e Yayoi Kusama, sem desprezar aspectos do Japão tradicional, com suas cerejeiras, gueixas e templos budistas.

“Cultura” (exibicionista) também é enogastronomia com direito a selfie para mostrar aos outros. Ponto de convergência entre os prazeres da mesa, o senso de aventura e a conexão com a natureza, a África do Sul é tendência em alta: no roteiro de 12 dias (a partir de U$ 14,7 mil por pessoa, parte terrestre) preparado pela Teresa Perez Tours, visita à região vinícola de Stellenbosh, safári no Kruger Park e passeios na cosmopolita Cidade do Cabo, com sua Table Mountain, formação rochosa de cume plano para observar a paisagem vista melhor em TV 4K, e Boulders Beach, faixa de praias com pinguins.

Primos distantes dessas aves dos mares austrais, os lobos e leões- marinhos são algumas das espécies avistadas como no Zoo ao lado de iguanas- marinhas, atobás e tartarugas no cruzeiro a Galápagos. Ele integra a viagem de 9 dias ao Equador (a partir de U$ 7,4 mil por pessoa, parte terrestre) também proposta pela Teresa Perez Tours. Jovens e casais novos, com filhos, têm especial predileção por esse tipo de opção.

A hotelaria de luxo no país vem atraindo investidores, interessados no consumidor de alta renda, menos vulnerável a crises econômicas. Essa é uma clientela capaz de bancar diárias de até R$ 15 mil, conforme o grau de requinte do serviço oferecido.

Com foco no cliente top, o setor hoteleiro registra nos últimos meses lançamentos de novos empreendimentos, como os dos grupos Fasano e GJP Hotéis e Resorts, ambos na cidade de São Paulo, em pré-construção.

O movimento se repete em outras regiões, com o recém inaugurado Vogal Luxury Beach, em Natal (RN). São 84 apartamentos voltados para o mar, ocupados por brasileiros e estrangeiros. As diárias vão de R$ 1,5 mil a R$ 5,25 mil. Para o réveillon, as tarifas para seis noites no hotel serão de R$ 23 mil por casal.

O mercado de turismo de luxo faturou no ano passado R$ 870 milhões, com alta de 31% frente a 2017, segundo dados da Brazilian Luxury Travel Association (BLTA), entidade com 38 hotéis e operadoras.

Profissionais para trabalhar no mercado de luxo devem ter algumas características específicas, dado o nível de exigência de exclusividade da clientela. O vendedor atuante nesse mercado tem de ser um bom observador, detalhista, caprichoso, discreto, mas também detalhista, caprichoso, discreto, mas também proativo.

Esses consumidores compram muito por sugestão. Tem uma parcela que compra por impulso e pelo hábito. Porque vê uma foto pelo Whatsapp, recebe uma coleção em casa para experimentar ou mesmo um carro para passar o final de semana.

Eles também são convidados a passar o dia em um barco, ter alguma vivência em um hotel de luxo ou fazer uma refeição em um restaurante. Quem quer atrair e fidelizar esse cliente deve ter um olhar atento, para o test-drive (experimentar o luxo), e levar em conta até onde pode ir com a proatividade, para não ser invasivo.

Nos últimos anos, o design de interiores vem sofrendo mudanças que refletem os novos jeitos de morar. Hoje, o conforto, a praticidade e a preocupação ambiental se tornaram aliados do alto luxo.

Às vezes, a reordenação de espaço precisa de um simples toque para ganhar requinte. Alguns objetos clássicos permanecem no imaginário das pessoas e, entre os mais requisitados, seja por jovens recém-casados ou os que cultuam a tradição, está o lustre de cristal Baccarat – a marca francesa com 255 anos de história e que se tornou sinônimo de sofisticação.

Para inovar na decoração não precisa de muito: basta deslocar uma peça de seu tradicional lugar. Um tapete Aubusson, por exemplo, pode sair do chão e ir parar numa parede. Em tons pasteis, com temas florais e medalhões típicos da Renascença Francesa do século XIV, os pequeno tapetes podem se transformar em delicadas obras de arte exibidas na sala de jantar.

Em tempos quando as pessoas passam mais tempo em casa, muitas vezes na cozinha gourmet, dois itens se tornaram essenciais: o refrigerador e uma adega, mesmo para quem não seja enófilo. A queridinha das geladeiras de luxo hoje é da marca alemã Liebherr, em razão de suas avançadas tecnologias de preservação de alimentos e baixo consumo de energia. Já entre as adegas, as preferidas são da linha Sommelier, com opções de 40 até 230 garrafas.

Dois leilões, realizados em um intervalo de uma década, ajudam a caracterizar o mercado mundial de vinhos premium, estimado em US$ 71 bilhões por ano, pela consultoria inglesa Bain & Company. No primeiro, realizado em 2007, a venda de uma garrafa do bordeaux Château Lafite 1787, que teria pertencido ao ex-presidente americano Thomas Jefferson, causou alvoroço. Primeiro, pelo preço: US$ 160 mil por uma garrafa de 750 ml, e anos depois, por dúvidas sobre a sua autenticidade.

O evento, realizado com pompa pela casa londrina Christie’s, revelou que há uma parcela da população disposta a desembolsar muito dinheiro para ter uma garrafa exclusiva, de preferência se for um rótulo francês, da Borgonha ou de Bordeaux.

No ano passado, um Domaine de la Romanée-Conti, da mítica safra de 1945, foi vendido por US$ 558 mil, o atual recorde de preço por garrafa de vinho. Nesse segundo leilão, não havia dúvidas sobre sua autenticidade. Os cem lotes postos a venda no leilão da Sotheby’s, em Nova York, estavam desde sempre na reserva especial de Robert Drouhin, da Maison Joseph Drouhin, um dos grandes produtores de vinho da Borgonha.

A garantia de procedência nunca foi tão cobiçada como nestes tempos de falsificações quase perfeitas de rótulos e garrafas. Atualmente, a informação de vinhos “ex-châteaux” ou “ex-domaine”, algo como direto das adegas dos grandes châteaux ou domaines, vale ouro no mercado mundial de vinhos premium.

A procedência garantida das garrafas é um dos diferenciais do Le Club Ficofi, um dos mais exclusivos clubes de vinho, com 240 sócios ao redor do mundo, dez deles no Brasil. Criado em 1990 pelo francês Philippe Capdouze, o Ficofi disponibiliza vários serviços personalizados, como visitas e degustações em château, guiadas pelos próprios donos das vinícolas; armazenamento das garrafas em adega climatizada enquanto o cliente não as despacha para a sua cave pessoal, consultoria para compra de vinhos, entre outros.

Seus membros já investiram mais de US$ 50 milhões na compra de rótulos lapidados pela Ficofi, de grifes como os châteaux Mouton Rothschild, Margaux ou Lafite; a Domaine de La Romanée-Conti, na Borgonha; o Opus One e a Halan Estates, nos Estados Unidos, entre outros.

Palavras como exclusividade, luxo ou experiência, que têm sido usadas para despertar o sonho de consumo de alguns, são cada vez mais vistas como datadas. Talvez por estarem, na maioria das vezes, associadas a um projeto de marketing a clamar pela “diferenciação”, mas peca pela mesmice.

Em gastronomia a palavra luxo se perde completamente. Você está apenas comendo e aí podem ser coisas mais simples ou mais sofisticadas. Tem lugar para todos e para todas as tendências, ainda mais em cidade cosmopolita como São Paulo.

A palavra exclusividade pode ser lida em termos de mercado. Uma coisa é você ter dez mesas e um garçom e, outra, ter um garçom a cada duas mesas. Isso muda a qualidade de atendimento e o preço. Nesse sentido, a exclusividade é o que determina o luxo, independentemente do bom ou do mau gosto. Apenas porque é algo para poucos acaba fazendo o preço subir. Mas quanto tempo essa experiência dura?

Compare. O Evvai neste ano ganhou uma estrela Michelin e estreou em 40o lugar na lista latino-americana do 50 Best Restaurants, tem dois menus: um a la carte, “mais pé no chão”, quando o cliente busca o que há em restaurantes mais tradicionais e o degustação, este “conta uma história”, tem uma sequência de 13 pratos e custa R$ 389, sem bebidas. Atualmente, 45% da clientela do restaurante, com 70 lugares, pede o degustação.

Presente em todas as listas internacionais de melhores restaurantes, a Casa do Porco, situada em uma esquina do centro de São Paulo, perto da Cracolândia, mostra o quanto o conceito de luxo é discutível por ser acessível à classe média de alta renda. O restaurante figura na lista latino americana do 50 Best em 6o lugar e, atualmente, é o único brasileiro, em 39o, entre os primeiros 50 no ranking internacional.

Embora sempre seja citado como o restaurante de Jefferson Rueda, a casa é comandada por ele e sua mulher, Janaína. Depois da passagem de Rueda por casas caras como Pomodori e Attimo, o casal decidiu fazer uma cozinha mais acessível e barata. “Nossa ideia era cozinhar para mais gente, mas o medo era perder o glamour. O Jefferson estava louco de ir para o centro da cidade”.

O menu degustação da Casa do Porco, que tem nove etapas, custa R$ 129, e é escolha de 80% dos frequentadores. “Nós descemos do salto e a Casa do Porco virou luxo. Fazer luxo dá muito trabalho: é quebrar as barreiras da desigualdade e atender muito mais gente (16.800 pessoas por mês). Fico feliz quando vejo um taxista com a família fazendo selfie nas nossas mesas.”

Mercado de Luxo: Valores Pecuniários em lugar de Valores Culturais e Morais publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



Nenhum comentário:

Postar um comentário