segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Paradoxos da Riqueza

Apesar de parecerem singulares, os dramas pessoais vividos por grandes empresários e executivos estão longe de ser únicos. Na verdade, eles se repetem com bastante frequência na vida de quem chegou lá, como mostra uma pesquisa do banco UBS, o maior gestor de fortunas do mundo.

O banco ouviu 2,2 mil americanos com pelo menos US$ 1 milhão em investimentos (dos quais 610 tinham mais de US$ 5 milhões líquidos) para identificar suas preocupações, metas e necessidades. As respostas mostram, claramente, os paradoxos da riqueza – e isso vale para quem tem milhões ou bilhões, como os nossos personagens.

Há os que trabalham demais para ter cada vez mais, mas aproveitam de menos: eles simplesmente não conseguem usufruir, como queriam, dos prazeres proporcionados pelo dinheiro. Mesmo quem aproveita a fortuna e se gabam de suas conquistas, acaba carregando uma enorme culpa por abrir mão da convivência com a família – justamente porque não conseguem se livrar da mania de multiplicação do patrimônio.

Existem ainda aqueles preocupados com o “estrago” de um estilo de vida sem nenhuma privação poder causar aos filhos, embora admitam o enorme prazer em proporcionar aos herdeiros o que há de melhor. A pesquisa mostra muitos dos milionários até pensam em desacelerar, de verdade. Mas a ideia passa rapidinho, solapada pelo medo de perder o que amealharam durante anos.

São situações sem soluções simples. Na ânsia de melhorar, buscar mais e crescer, há sempre a sensação de algo ter sido deixado de lado. A escolha pelo trabalho, pelas reuniões e pelos compromissos inadiáveis é fácil de justificar: todos querem alcançar o que há de melhor para si e suas famílias.

O problema é o preço a ser pago. Aos 40 e poucos anos, quando estão ocupados em vencer na vida, é natural abrir mão da convivência mais intensa com a família. O problema, quando se chega aos 60 e já se conquistou muito, ser comum haver um certo arrependimento sobre o que foi priorizado na vida.

Os comportamentos dos milionários americanos identificados na pesquisa do UBS podem ser transferidos quase sem mudanças para os brasileiros. Uma dessas atitudes, por exemplo, diz respeito ao querer mais, sempre.

Quem já acumulou até US$ 1 milhão líquido quer ter US$ 2 milhões; quem chegou aos US$ 10 milhões almeja US$ 25 milhões. Esse irrefreável desejo de multiplicação é sustentado por uma equação bem óbvia: o estilo de vida vai ficando mais sofisticado conforme a riqueza cresce, o que aumenta a demanda por mais.

A ambição é inerente ao ser humano e, por si só, não é ruim. Mas não a qualquer preço, nem usada sem equilíbrio.

A diferença entre pessoas financeiramente bem-sucedidas (milionárias) e financeiramente super bem-sucedidas (bilionários) resume-se ao fato de os últimos ganharem muito dinheiro, mas não gostam de gastá-lo.

De fato, uma série de magnatas atribuem suas fortunas a seus hábitos financeiros. Você quer ficar rico? Há, então, uma forma de fazer isso: gaste menos do que você ganha. Se você gastar menos o fluxo de renda e o acumular em estoque de riqueza, você ficará rico.

A obsessão pelo trabalho e a exclusão da família e dos sentimentos podem ser compreendidos como um vício alimentado pela dopamina, o neurotransmissor do prazer. Na ganância, os sentimentos e o prazer são escravizados patologicamente pelo poder.

Ao lidar com planejamento de fortunas percebe-se algumas mudanças importantes no comportamento dos milionários brasileiros. Uma delas diz respeito à preocupação em investir em filantropia de maneira estruturada, algo que vem acontecendo com mais força nos últimos cinco anos.

Nos Estados Unidos, essa é uma realidade consolidada, sobretudo por questões fiscais. Aqui não são só doações, mas uma busca por interferir nas mudanças sociais de uma forma mais ativa.

Os brasileiros também têm buscado mais qualidade de vida: por questões de governança corporativa e familiar, os patriarcas não exigem mais a presença dos filhos nos negócios da família, como faziam até há pouco tempo. Assim, os herdeiros conseguem ir atrás de seus sonhos e de outras expectativas de realização pessoal, sem brigar com o legado da família.

Essa costuma ser uma das discussões mais presentes no planejamento de fortunas, porque a relação entre as pessoas é mais preciosa do que qualquer bem. A pesquisa, porém, indicou uma pressão maior nas gerações mais recentes, tanto para “chegar lá” quanto para manter ou aumentar o patrimônio.

As mudanças de atitude dos milionários brasileiros fazem parte de um movimento global maior. Ele é conduzido pelos millennials, a geração tornada adulta na virada do milênio, vivendo em rede e começando a viver os conceitos de economia compartilhada.

Tal qual pensadores como o filósofo Gilles Lipovetsky, que escreve sobre a hipermodernidade e é autor de livros como A Era do Vazio e O Império do Efêmero, previa há 20 anos, estão acontecendo agora ações de solidariedade em dimensões nunca vistas. Uma tentativa de as pessoas se reconectarem com suas próprias raízes.

A expectativa é que, depois de observar os valores – e o preço pago pela geração anterior –, os millennials deem mais atenção ao equilíbrio emocional, a palavra-chave na resolução dos problemas apontados na pesquisa. Progresso, hierarquia e disciplina só podem ser valores de uma sociedade vertical, em que o termômetro de sucesso é ascender a patamares maiores.

Como vivem em uma sociedade em rede, os millennials têm outras medidas, mais valiosas. A dificuldade no diálogo entre essa geração e seus pais, especificamente, tem a ver mais com expectativas sobre a vida do que com as lições tão duramente ensinadas sobre o dinheiro em si.

Nelas, ou se tira o dinheiro dos filhos, criando pobres meninos ricos, ou se dá tudo, para que eles aproveitem e valorizem o esforço do pai. Os pais tentam regular o dinheiro para dar lições de valor porque sua única noção de valor é essa: o dinheiro. Faz parte da profunda incultura, em um sentido mais amplo.

Esse filho tende a buscar mais o compartilhamento e a solidariedade. Isto não é um consenso. O compartilhamento é apenas mais uma forma de multiplicação do consumismo desenfreado, em vez de uma alternativa para economizar os recursos do planeta. De todo modo, será interessante observar a nova geração destinar ou não sua fortuna tão duramente conquistada pelos pais para fins altruístas.

Quem sustenta as marcas de luxo, hoje, é a classe média. Os muito ricos querem discrição e exclusividade. Eles vivem em outro universo, absolutamente restrito. Quando a sua conta bancária pode comprar qualquer coisa, você quer o que ninguém tem.

10 principais diferenças entre os milionários e as outras pessoas

1 – Milionários aprendem e crescem sem parar, a classe média pensa que o aprendizado termina quando acaba a educação formal

3 livros sobre uma mesa com uma maçã sobre eles

“Se uma porcentagem de sua renda não for destinada à sua instrução financeira, você continuará preso à classe média. Quanto mais recursos dirigimos a esse tipo de educação, mais ricos ficaremos.”

2 – Milionários aceitam as mudanças de bom grado, a classe média se sente ameaçada pelas mudanças

Dois aquários e um peixe pulando de um para o outro

“As pessoas inseguras resistem às mudanças, enquanto as confiantes as recebem de braços abertos. Os milionários são confiantes.”

3 – Milionários pensam no longo prazo, a classe média, no curto

Homem no topo de montanha usando um binóculo

“O pensamento das pessoas muito pobres está voltado para cada dia; o das pobres, para cada semana; o da classe média, para cada mês; o das pessoas ricas, para cada ano; e o dos milionários, para cada década.”

4- Milionários falam sobre ideias, a classe média, sobre coisas e outras pessoas

Fila de lâmpadas

“Os milionários falam sobre ideias e fazem as coisas acontecerem. A classe média fala sobre as coisas e as observam enquanto acontecem. Os muito pobres falam sobre outras pessoas e perguntam: O que aconteceu?”

5 – Milionários trabalham visando ao lucro., a classe média trabalha visando ao salário

Pilhas crescentes de moedas

“Quando a renda vem do salário, ela é extremamente limitada. No entanto, se aprendemos a obter lucro, o céu é o limite.”

6 – Milionários assumem riscos calculados, a classe média tem medo de arriscar

Ilustração de menino tentando atingir um alvo

“Os milionários não temem se arriscar. Isso não quer dizer que não sintam medo. Tanto eles quanto a classe média têm seus temores. Mas é o modo como lidam com esse sentimento que determina os resultados que obtêm.”

7 – Milionários têm múltiplas fontes de rendas, a classe média tem apenas uma ou duas fontes de renda

Torneiras jorrando cédulas e moedas

“O segredo para criarmos várias fontes de renda é nos concentramos em transformá-las em renda passiva. Renda que exige pouca manutenção ou administração da nossa parte.”

8 – Milionários se concentram em aumentar seu patrimônio líquido, a classe média se concentra em conseguir aumento de salário

Ilustração com várias casas ficando cada vez maiores

“Trabalhe de forma inteligente, não de maneira árdua. Concentrar-se no patrimônio liquido é trabalhar de modo inteligente. Concentrar-se no salário é trabalhar de maneira árdua.”

9 – Milionários fazem a si mesmos perguntas que os fortalecem, a classe média faz a si mesma perguntas que a enfraquece

Ilustração de ser humano com um sinal de interrogação na cabeça

“As questões fortalecedoras se fixam naquilo que conseguimos fazer. Por sua vez, as perguntas que nos enfraquecem se concentram no que não conseguimos fazer e em por que as coisas são difíceis.”

10 – Milionários acreditam que precisam ser generosos, a classe média acredita que não tem condições de dar nada

Criança oferecendo uma pêra

“Ser generoso é gratificante. E uma sensação ótima quando damos de coração.”

Paradoxos da Riqueza publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



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