quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Mercado de Capitais dependente de Juros Baixos

A crítica sistemática feita por economistas desenvolvimentistas ao elevado patamar relativo da taxa de juros básica brasileira está comprovando seu acerto. Mercado de Capitais só emerge com juros baixos, ou seja, quando títulos de dívida pública deixam de ser atraentes face às suas operações estruturadas de lançamento de debêntures.

Lu Aiko Otta (Valor, 27/11/2019) informa: dados parciais do mês de novembro de 2019 mostram o volume de debêntures incentivadas de infraestrutura emitidas em 2019 ter batido recorde histórico desde a criação do papel, em 2012.

O saldo parcial estava no fim do mês em R$ 25,9 bilhões. Com isso, foi superado o volume emitido no ano passado, que foi R$ 23,890 bilhões e a maior marca até agora.

O dado parcial de novembro mostra também terem sido 78 emissões em 2019, ante 76 em todo o ano de 2018.

Com isso, o volume de debêntures incentivadas se aproxima cada vez mais daqueles desembolsados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para financiar a infraestrutura. Em cálculo enganador por não comparar o montante da queda dos desembolsos do BNDES, em relação ao seu patamar de 2009-2014, não ter sido exatamente substituído por uma migração do financiamento público para o privado, os neoliberais auto enganam ao afirmar “o aumento das debêntures vem com o decréscimo do BNDES.”

Se as debêntures desbancarão o BNDES já em 2019, é algo possível de se saber só em janeiro de 2020. Usualmente o banco de fomento faz desembolsos grandes no fim do ano. No entanto, houve também uma forte emissão de papéis incentivados pelas empresas.

O Ministério da Economia divulgou o Boletim Informativo de Debêntures Incentivadas referente a outubro de 2019. As emissões acumuladas no ano estavam em R$ 21,269 bilhões.

Desses, R$ 21,249 bilhões foram destinados ao financiamento da infraestrutura. O setor de energia elétrica lidera a recepção desses recursos, com R$ 18,732 bilhões. Em logística, são R$ 2,017 bilhões e saneamento, R$ 500 milhões.

A remuneração média dos papéis acima do IPCA está em 6,3% na área de energia, 6,5% em transportes, 6,7% em telecomunicações e 6,4% em saneamento.

O principal investidor das debêntures incentivadas são as pessoas físicas. Elas têm isenção do Imposto de Renda (IR) sobre seus ganhos. Em outubro, 38,4% dos papéis estavam nas mãos desses investidores. Em seguida, vêm os fundos de investimento, com 29,9%, instituições financeiras ligadas à emissora ou participantes do negócio, com 15,3%, as seguradoras (3%) e os clubes de investimento (1,6%).

A recuperação judicial da concessionária Rodovias do Tietê foi financiada por debêntures incentivadas. Não gerará nenhuma atuação especial por parte do governo. O risco das debêntures é o risco de crédito das empresas.

É interessante mostrar a opção dos fundos de investimento. Eles são interessantes mesmo com a taxa de administração. Nos fundos, há um gestor profissional para a carteira. O investimento da pessoa física, em vez de ficar concentrado em poucos papéis, é diversificado em dezenas de títulos. Assim, se alguma empresa emissora de debênture entrar em dificuldades, a perda é diluída na carteira.

Edna Simão e Lu Aiko Otta (Valor, 27/11/2019) informam: as recentes variações do dólar não devem alterar a estratégia para a dívida pública, disse o coordenador de Operações da Dívida Pública. Tampouco há no radar, até este momento, uma ação extraordinária conjunta com o Banco Central.

Dada a proximidade do encerramento do ano, “dificilmente” o Tesouro fará nova emissão de títulos em moeda estrangeira ainda em 2019. Para 2020, haverá um novo Plano Anual de Financiamento (PAF). No entanto, não trará alterações na estratégia nesse papel.

A apresentação dos dados da dívida pública federal no mês de outubro de 2019. mostrou o saldo em queda de 0,84%, fechando em R$ 4,121 trilhões. As emissões totalizaram R$ 59,43 bilhões e os resgates, R$ 114,07 bilhões.

Tudo indica que o Tesouro fará emissão líquida em 2019. A queda é explicada pelo terceiro maior volume de resgates do ano. Só em Letras do Tesouro Nacional (LTN), foram R$ 107 bilhões. Houve ainda resgates no Tesouro Direto, pagamento de cupom do NTN-C e vencimento de US$ 640 milhões de Globals. Isso explica boa parte do resgate da dívida externa.

Os vencimentos e resgates alteraram a composição da dívida segundo indexador. As LTNs prefixadas recuaram de 31,75% em setembro para 30,42% em outubro. Já as Letras Financeiras do Tesouro (LFTs) pós-fixadas subiram de 38,36% para 39,38% e os indexados à inflação passaram de 25,78% para 26,27%. Os atrelados ao câmbio caíram de 4,11% para 3,93%.

No mês, o saldo em poder de instituições financeiras recuou R$ 29,7 bilhões e o dos fundos caiu R$ 1,6 bilhão. Houve apenas aumento da participação da previdência, de R$ 7,7 bilhões. Entre os não-residentes, houve também um recuo, de R$ 6,5 bilhões.

Esse movimento está concentrado no curtíssimo prazo. No acumulado do ano, a variação do estoque com não-residentes aumentou R$ 31 bilhões. É o primeiro ano, desde a perda do grau de investimento pelo Brasil, que o saldo fica positivo.

Em outubro, o mercado foi benigno, favorecido por uma menor tensão na guerra comercial entre EUA e China, avanço da reforma da Previdência e indicadores de atividade apontando para novas quedas na Selic. No mês, foram renovadas mínimas históricas de custo para todos os papéis da dívida pública. Houve reversão desse quadro em novembro. As tensões comerciais voltaram a aumentar e eclodiram protestos na América Latina. Em novembro, os juros locais reverteram parte da queda recente com o cenário externo mais volátil e fatores relacionados ao quadro doméstico.

Em outubro de 2019, o custo médio do estoque da dívida pública mobiliária federal interna acumulado em 12 meses atingiu 8,43% ao ano, o menor da série iniciada em dezembro de 2005. O custo das emissões acumulado em 12 meses, de 6,99% ao ano, também é o mais baixo da série. Neste caso, ela começou em dezembro de 2010.

Mercado de Capitais dependente de Juros Baixos publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



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