segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Fundamentos da Análise Pós-Keynesiana

Continuo a tradução do artigo LAS CORRIENTES TEÓRICAS Y LOS FUNDAMENTOS DEL ANÁLISIS POST-KEYNESIANO, publicado na revista equatoriana Cuestiones Económicas Vol. 27, No. 2:2, 2017, de autoria de Jean-François Ponsot.

Uma das principais dificuldades na definição do pós-keynesianismo vem de da falta de preocupação em discutir os fundamentos de um novo paradigma entre os membros fundadores PK (Pasinetti, 2007). Eichner e Kregel (1957) foram os primeiros PK a tentar compilar sistematicamente os pilares do novo paradigma PK. A tarefa não é fácil.

Lavoie (2014, p. 34) lista quinze características específicas da análise PK, mas indica imediatamente o escopo limitado neste trabalho: essas listas combinam diferentes registros, misturando preceitos metodológicos, hipóteses teóricas e prescrições políticas.

Para facilitar a tarefa, dois processos são frequentemente usados ​​para evitar essa dificuldade:

  1. identificar o que a análise PK tem em comum com heterodoxia,
  2. esclarecer o que a análise PK rejeita da análise econômica padrão.

Quanto à relação entre PK e heterodoxia a diferenciação dos preceitos subjacentes aos programas de pesquisa heterodoxo e ortodoxo contrasta os dois paradigmas em cinco pontos.

A primeira oposição é de natureza ontológica (ou epistemológica):

  1. pessoas heterodoxas aprendem o mundo de maneira realista (“realismo crítico”);
  2. a ortodoxia faz parte de um processo “instrumentista”, para Friedman o realismo das hipóteses pouco importa, o que conta é a coerência e solidez do raciocínio preditivo.

Neste primeiro ponto, os PKs são muito heterodoxos. Uma obsessão do PK, de fato, é inscrever sua análise no “mundo real”.

b) Em debate está a divergência com relação à racionalidade dos agentes:

  1. a heterodoxia pressupõe os agentes econômicos buscarem a mais alta satisfação possível e definir sua racionalidade em relação ao seu ambiente (“racionalidade contextual”);
  2. a ortodoxia repousa sobre agentes otimizadores e basear sua racionalidade no modelo econômico orçamentário, como, por exemplo, o que é encontrado na teoria das antecipações racionais.

c) A terceira divergência é bem conhecida, corresponde à metodologia de pesquisa utilizada:

  1. método “holístico” e “organista” – apenas a queda da maçã chamou a atenção de Isaac Newton e levou a suas descobertas inovadoras, em vez do crescimento das maçãs, enquanto, sob inspiração de Charles Darwin, compreendemos melhor a economia como um complexo sistema adaptativo, composto de seres humanos e instituições interdependentes em um mundo dinâmico e vivo – para a heterodoxia,
  2. método do individualismo metodológico para ortodoxia: “o mundo é pensado a partir do meu umbigo, isto é, o que é melhor para mim deveria ser todo o mundo, afinal, ‘mamãe jamais me contrariou!’”.

d) O “núcleo econômicoideológico” constitui o quarto ponto de dissimilaridade:

  1. o corpo teórico heterodoxo permanece no tríptico econômico de: produção – crescimento – abundância de recursos a serem distribuídos,
  2. a ortodoxia raciocina em uma economia de livre câmbio, onde o problema de alocar recursos raros permanece ao cargo do livre-mercado sob a ideologia do laissez-faire.

e) Finalmente, heterodoxos e ortodoxos não compartilham “o mesmo posicionamento político” (Lavoie 2014, p.12). É semelhante a uma cisão profundamente ideológica, porque a oposição permanece, em grande parte, na concepção de O Mercado e de O Estado – e, infelizmente, os pós-keynesianos não pensam sob o ponto de vista de A Comunidade!

  1. os pós-keynesianos assumem os mercados serem ineficientes e consideram a intervenção do Estado necessária ser realizada;
  2. o “resto dos economistas” acredita, pelo contrário, na ação virtuosa dos mercados livres (em particular na hipótese de eficiência financeira) e um papel perturbador do Estado quanto ao idílico mundo imaginado “como deveria ser”, isto é, autorregulação do mercado.

Se for feita uma referência aos cinco pontos mencionados acima, a Escola Pós-Keynesiana, evidentemente, se coloca na heterodoxia. Mas isso não basta para definir com precisão o pós-keynesianismo. Em seguida, você pode ver como ele se distingue da ortodoxia.

Lavoie (2015, pp. 816-817) estabelece uma lista de treze pontos do programa da pesquisa ortodoxa em relação à qual os PKs estão claramente separados em suas pesquisas e posicionamentos político-ideológicos:

(1) a teoria de produtividade marginal;

(2) a taxa natural de emprego ou NAIRU;

(3) a taxa de juro natural única;

(4) a teoria dos fundos pré-estabelecidos de empréstimos em função de poupança, canalizada exatamente para investimento, através de “intermediários financeiros neutros” (sic);

(5) o efeito de despejo;

(6) a hipótese de eficiência de mercado;

(7) o princípio das reservas na origem dos empréstimos bancários;

(8) a quantidade excessiva de moeda como causa da inflação;

(9) a Lei de Say: a oferta cria sua própria demanda, logo, o crédito desequilibrará a demanda agregada em relação à oferta agregada;

(10) a determinação do nível de emprego no mercado de trabalho, isto é, na capacitação dos trabalhadores – e aceitação de salário mais baixo – e não em gasto capitalista;

(11) a rigidez dos salários em baixa como causa do desemprego;

(12) a colocação no mesmo plano da dívida pública e da dívida das famílias, ou seja, a dona-de-casa poderia administrar o OGU – Orçamento Geral da União; e

(13) a curva de custo unitário em U.

Fundamentos da Análise Pós-Keynesiana publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



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