Bruno Villas Bôas (Valor, 03/08/20200 informa: com os impactos da pandemia de covid-19 sobre a atividade econômica e o mercado de trabalho do país, 3,8 milhões de famílias devem retroceder na pirâmide social e passar a integrar as classes sociais D/E neste ano, mostram estimativas realizadas pela consultoria Tendências.
Dessa forma, a base da pirâmide social passará a abarcar um total de 41 milhões de famílias ao fim do ano, o equivalente a 56% dos domicílios brasileiros, a maior proporção desde 2009 (60%). No ano passado, 51% das famílias brasileiras estavam nas classes D/E, o correspondente a 37,2 milhões de lares.
Quem mais vai perder é a classe C, a chamada “nova classe média”. O estudo mostra: a classe C deve encolher em 1,8 milhão de famílias, para 20,9 milhões. As classes A e B também devem ficar menores, em 260 mil e 672 mil famílias, respectivamente. Além delas, 1 milhão de novos domicílios devem surgir em 2020.
As famílias de menor renda concentram as ocupações informais. São empregados sem carteira de trabalho assinada, trabalhadores por conta própria sem CNPJ. Eles dividem-se em ocupações tão variados como camelôs, entregadores por aplicativo e diaristas.
Os informais são os que estão perdendo mais renda por causa da pandemia. Esse fator deve ser o grande responsável por essa migração de famílias da classe C para a D/E. O auxílio emergencial deve aliviar um pouco a renda dos informais, mas não deve compensar toda a perda.
As classes de menor renda serão infladas mesmo com a prorrogação do pagamento do auxílio emergencial de R$ 600 pelo governo. Embora o pagamento do auxílio tenha permitido a redução da extrema pobreza durante a pandemia, o valor do benefício é insuficiente para manter as famílias dentro do critério de classe C.
No estudo, a Tendências classifica como classes D /E as famílias com rendimento mensal de até R$ 2.564. Esse é um critério próprio da consultoria, na ausência de critérios oficiais ou usualmente aceitos. Para a classe C, a renda vai de R$ 2.564 a R$ 6.185. No topo da pirâmide de renda domiciliar estão as classes B (de R$ 6.185 a R$ 19.257) e A (a partir de R$ 19.257).
A renda é usada por especialistas de diferentes países para calcular o tamanho das classes sociais. Porém, existem outros critérios que também podem ser adotados para realizar essa classificação, como a posse de bens, o nível de escolaridade, a segurança econômica e, mesmo, a autoimagem das famílias.
O número de famílias mais ricas, da classe A, também deve encolher neste ano. O topo da vida econômica concentra os empregadores, grupo com o rendimento atrelado à lucratividade das empresas. Para a consultoria, a renda dos mais ricos é afetada pelo ciclo negativo de forma mais rápida até do que a dos trabalhadores assalariados.
Recentemente, a XP Investimentos estimou que o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação) das companhias do Ibovespa deve baixar 73% no segundo trimestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado. Dados do IBGE mostram a crise ter fechado 522 mil empresas no país.
O aumento do número de famílias nas classes D/E pode ser transitório, passado o pior momento da pandemia. Porém, a recomposição da renda das famílias será lenta, sobretudo para os menos escolarizados, uma vez que a crise vai deixar “cicatrizes” no mercado de trabalho.
Além de incertezas quanto ao nível de atividade e ao futuro das políticas ativas sobre o mercado de trabalho, há outras restrições a novas contratações como o fechamento recente de empresas e o elevado ajuste no fluxo de caixa das firmas que seguem em funcionamento.
Pelos números do levantamento, o Brasil foi um país de maioria “classe média” por um curto período de tempo. As classes A, B e C representaram somadas mais da metade dos domicílios do país somente entre 2013 e 2015, quando chegaram a representar 52,5% da famílias em 2014. Hoje, correspondem somados 44,1% dos lares. Aí deram o Golpe… Acabou a Era Social-Desenvolvimentista e voltou a Velha Matriz Neoliberal.
Regressão Social: Empobrecimento da População Brasileira publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário