A chamada “preferência pela liquidez” em PMPP ou depósitos à vista ocorre em Grande Depressão Deflacionária. Para evitar a marcação-a-mercado, o homem prudente opta por reter moeda em espécie ou na conta-corrente. Outra opção é deixar em CDB (depósitos a prazo) por conta de um baixíssimo custo de oportunidade.
A preferência pela poupança financeira ocorre quando os juros estão em termos reais negativos. Assim, o planejamento de cortar gastos para investir uma parcela da renda substituta do papel de acumulação de capital financeiro antes realizado pelos juros compostos. Por exemplo, quem tinha um milhão de reais e recebia juros de 1% ao mês (14,25% aa) acumulava a cada mês dez mil reais. Hoje, tem de poupar mensalmente este valor para obter reservas financeiras para aposentadoria. É simples assim…
Adriana Cotias (Valor, 21/08/2020) informa: as famílias e empresas brasileiras aumentaram a poupança financeira na crise e fizeram ajustes nas suas carteiras. Segundo estimativas feitas pelo Cemec, centro de estudos de mercado de capitais conveniado à Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), o fluxo de dinheiro novo destinado às diversas classes de ativos domésticos alcançou R$ 353 bilhões neste ano, até maio.
Nos cinco meses imediatamente anteriores, entre agosto e dezembro de 2019, só R$ 7 bilhões foram acrescentados a esse conjunto. Segundo Carlos Antonio Rocca, diretor do Cemec, embora os números não sejam diretamente comparáveis, dão uma ideia do que aconteceu com as reservas financeiras na crise provocada pela pandemia de covid-19.
Com as empresas acumulando uma enorme disponibilidade financeira para fazer frente ao período de vacas magras, a pessoa física perdeu representatividade na captação de recursos. Mesmo com a injeção de dinheiro do auxílio emergencial – com depósitos feitos pelo governo em contas de poupança – a balança financeira pendeu para o setor corporativo.
O fluxo de reserva das empresas aplicado em ativos financeiros foi estimado em R$ 273 bilhões. A principal fonte de captação foi o crédito bancário, com R$ 111 bilhões entre março e abril. Já os volumes guardados pelas famílias chegou a R$ 80,2 bilhões, com acréscimo de R$ 24 bilhões neste ano, ou 42% em relação aos últimos cinco meses de 2019.
“As empresas geraram um forte aumento de poupança financeira, a sugestão da teoria é: as companhias buscaram reforçar o caixa já em março, correram para tomar empréstimos adicionais para enfrentar o período mais difícil”, diz Rocca. Em março, mês em que a gravidade da pandemia ficou clara, ele cita que R$ 92 bilhões escoaram por meio do crédito. “É pouco provável que a geração de caixa [operacional] tenha ajudado. Um pedaço disso pode ter sido também a redução ou a suspensão do pagamento de dividendos.”
As cifras foram projetada com números disponíveis até julho em diversas bases de dados, considerando-se o caixa, ou seja, a variação entre aplicações e resgates, uma metodologia que não tem relação com o conceito de poupança das contas nacionais, explica Rocca.
Do lado da pessoa física, como houve perda de renda, foi a queda de consumo ligada ao fechamento do comércio e alguma precaução das famílias preocupadas com as incertezas da crise que ajudaram a elevar a poupança financeira, prossegue o pesquisador.
Usando como base a média mensal do PIB do primeiro trimestre, o valor da poupança financeira de famílias e empresas representaria 11,7% do conjunto das riquezas nacionais entre janeiro e maio e atingiria 19,6% do PIB entre março e maio, período que concentra a maior parte da variações dos fluxos analisados pelo Cemec.
Os investidores pessoas físicas mudaram significativamente a composição de suas carteiras. Os fundos tiveram resgates da ordem de R$ 125,1 bilhões até maio, com o dinheiro realocado em depósitos a prazo, títulos de dívida privada e ações, além da própria caderneta. Dos R$ 205,3 bilhões investidos nas diversas classes, 80% foram destinados para aplicações que indicam a busca por alternativas de maior rentabilidade, segundo o Cemec.
Para Rocca, nos próximos meses as famílias devem usar parte da poupança constituída na fase mais aguda da crise porque a recuperação da renda e do emprego pode demorar para voltar aos níveis pré-pandemia.
As empresas buscaram preservar liquidez em opções de menor risco. Reduziram suas aplicações em ações, títulos públicos e fundos, aumentando a parcela em depósitos a prazo e dívida privada, provavelmente de emissão bancária, destaca o Cemec. Dos R$ 388,8 bilhões efetivamente aplicados pelas companhias 57,2% foram para depósitos a prazo.
As medidas emergenciais para injetar recursos no sistema financeiro possibilitou o forte aumento do crédito, com impacto potencial da ordem de 17% do PIB, o que provavelmente inflou a poupança financeira do setor corporativo. De acordo com o Cemec, a captação líquida proveniente de emissão de dívida e ações atingiu R$ 126,7 bilhões em março e abril.
No setor corporativo, Rocca diz haver dúvidas se as reservas extras feitas nos primeiros meses do ano serão suficientes para enfrentar a queda das vendas e da geração de caixa. Ele não vê, contudo, entraves para que os bancos ampliem a oferta. “É claro que isso não se aplica a todas as empresas. Do aumento de crédito em março e abril, 90% foi para as grandes. As pequenas e médias sempre enfrentam mais dificuldade.”
Preferência pela Poupança Financeira publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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