A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) orienta os empresários do comércio de bens, serviços e turismo. Todos utilizam o crédito como ferramenta estratégica, uma vez que permite o acompanhamento do perfil de endividamento do consumidor, com informações sobre o nível de comprometimento da renda do consumidor com dívidas, contas e dívidas em atraso, e sua percepção em relação à capacidade de pagamento.
A PEIC-CNC, como se pode observar na tabela acima, apresenta uma séria distorção no cálculo das famílias endividadas e também na estimativa do tipo de dívida. Se 2/3 das famílias estavam endividadas em julho de 2020, aliás, se elevando em 2,3 pontos percentuais em relação ao mês anterior à pandemia e ao confinamento social, e em número absoluto eram 10,952 milhões de famílias, por essa pesquisa o total delas é estimado em 16,250 milhões. Este número não é considerado amostra, no entanto, é muito inferior ao número de domicílios pesquisados pelo IBGE no Brasil: 71 milhões famílias em uma população de 211,750 milhões pessoas, ou seja, média de 3 pessoas por domicílio.
Alessandra Saraiva (Valor, 29/07/2020) informa: em meio à crise econômica causada pela pandemia, a parcela de famílias endividadas em julho atingiu o maior patamar em dez anos. O percentual das famílias se declararam endividadas foi de 67,4% no mês, acima de junho (67,1%) e de julho de 2019 (64,1%), de acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Ela teve início em janeiro de 2010.
A inadimplência também piorou, informou a CNC. A parcela de endividados que informaram contas em atraso e sem condição de pagar as dívidas ficou em 12% em julho, acima de junho (11,6%) e de julho de 2019 (9,6%) – também a maior fatia da série do levantamento.
“As famílias não estão conseguindo quitar todas as obrigações e estão escolhendo quais contas vão pagar”, resumiu Izis Ferreira, economista da CNC e responsável pela pesquisa.
A piora no indicador de inadimplentes sem condição de pagar ocorre tanto entre famílias mais ricas quanto nas mais pobres. Nesse quesito, de junho para julho, entre famílias com até dez salários mínimos mensais, a parcela foi de 13,2% para 13,7% – era de 11,3% em julho de 2019. Já nas que ganham mais de dez salários mínimos, o indicador passou de 4,7% para 4,9% de junho para julho, tendo sido de 3,4% em julho de 2019.
“Estamos observando que as famílias estão com mais dificuldade de sair da inadimplência”, resumiu a técnica.
Outro ponto levantado pela pesquisa foi o já elevado grau de endividamento das famílias, que representa um terço do orçamento. A parcela média de renda comprometida com dívidas caiu de 30,4% em junho para 30,3% em julho, mas ainda opera acima da fatia de 29,9% em julho do ano passado, informou ela.
Para a especialista, é preciso um esforço maior de alongamento de perfil de dívida, com prazos mais longos e parcelas mais baixas, para o consumidor ter mais condições de quitar as obrigações em dia.
Ao comentar o cenário, Izis lembra: a crise causou profundo estrago no mercado de trabalho. Segundo ela, com a renda do trabalhador em baixa, não há muito mais o que fazer para lidar com a atual crise. Ela causou redução de jornada e salário em diferentes segmentos do mercado de trabalho, além de menor ritmo de vagas no mercado informal.
“Hoje, as pessoas estão lidando com um ‘emaranhado’ de contas”, pontuou ela.
No levantamento, a CNC apurou ainda, em julho, a principal modalidade de dívida, lembrada pelas famílias endividadas, permanece sendo o cartão de crédito (76,2%), seguida por carnês (17,6%) e financiamento de carro (11,3%).
Vale comparar a PEIC com os dados do BCB abaixo sobre o Crédito do SFN por via do Cartão de Crédito. Pagamento à vista sem juros por cartão de crédito é considerado crédito!
Era 76% em dezembro de 1979 e caiu para 71% em julho de 2020. Aumentaram as modalidades de cartão Rotativo (juro de 300% aa) e Parcelado (juro de 147% aa), onde as taxas de juros são elevadíssimas.
A inadimplência é especialmente elevada no Rotativo (38,4%). É menor no Parcelado (5,7%). Em ambos, os adimplentes pagam pelos inadimplentes. Aquela é a maior inadimplência em todos os créditos a PF com recursos livres. Em seguida, vem Cheque Especial com 16,4% em junho de 2020. Inadimplência com Aquisição de Veículos era 4,3% e com Consignado era 2,3%. Com recursos direcionados, o Financiamento Habitacional, para PF, depois de atingir inadimplência de 2,4% em março, com a postergação de pagamentos de prestações, diminuiu para 1,5% em junho.
Pela ordem crescente de participações de saldos no total de crédito com recursos livres com PF, a menor é a de Cheque Especial (2%), Cartão de Crédito Parcelado (2%), Cartão de Crédito Rotativo (4%), Não Consignado (12%), Cartão de Crédito à Vista (15%), Aquisição de Veículos (18%), e Consignado (36%). Estes citados somam 89%.
Obs.: ICC: Índice de Custo do Crédito (taxas de juros anuais)
Para entender o Crédito PF, deve-se somar o concedido com recursos livres e direcionados. Depois pondera a participação das principais modalidades e perceberá o Crédito com Recursos Direcionados tem o maior peso (46%), entre eles o Financiamento Imobiliário representa 33% do Total do Crédito PF. O total Não Rotativo, onde se destacam o Consignado (26%) e Aquisição de Veículos (10%), tem o segundo maior peso (43%). O Rotativo, onde estão o Cheque Especial e os Cartões de Crédito, tem peso menor (11%). Os créditos com menores inadimplências (Habitacional e Consignado) têm maior participação (59%) face aos com maiores perdas.
É outra “leitura” da realidade, face àquela alarmada pela PEIC-CNC, não?
PEIC-CNC: Confunde Amostra com Universo de Famílias Endividadas publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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