terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Bancos Digitais X Bancos Tradicionais

Talita Moreira (Valor, 25/11/2019) informa: um terço dos brasileiros bancarizados já é cliente de algum banco digital. No entanto, em apenas 9% dos casos as pessoas têm em um “neobanco” sua conta principal. Os dados são de estudo feito pela consultoria Kantar. Eles mostram: as fintechs ainda têm um longo caminho a percorrer para arrebanhar uma fatia mais relevante do mercado.

O levantamento mostra a adesão aos chamados neobancos (aqueles nativos digitais) é bem maior no Brasil, na Índia e na China em lugar do ocorrido nos países desenvolvidos. Uma das razões para isso, segundo a consultoria, é nesses três países a população ser menos bancarizada ou até tem conta, mas não tem acesso a serviços financeiros.

Nos Estados Unidos, apenas 2% dos clientes de bancos têm conta em banco digital. No Reino Unido, terra do badalado Monzo, a proporção não passa de 4%. Já no mercado indiano, essa fatia salta para 50%. Mas nada se compara ao caso da China, onde 93% da população bancarizada tem conta em neobancos, muito por causa do fenômeno do Alipay.

A consultoria estudou o impacto dessas novas instituições financeiras no varejo bancário em dez mercados: Alemanha, Holanda, França, Espanha e Cingapura, além dos citados acima. Não entram na análise outros tipos de fintechs, como as de meios de pagamento e as plataformas de investimentos. Foram ouvidas 3 mil pessoas com conta em pelo menos um banco digital ou tradicional.

Em países desenvolvidos, os bancos incumbentes souberam agir para melhorar sua oferta. A gente vê isso muito claramente nos Estados Unidos.

O Nubank é o caso de maior sucesso no mercado brasileiro: 28% da população bancarizada tem conta na fintech. Uma parcela de 11% é cliente do Banco Inter, e 4% têm conta no Next, criado pelo Bradesco.

Mas, na hora de usar a conta, as instituições convencionais ainda levam vantagem. No Brasil, quem tem conta em um neobanco deixa, em média, 40% de seu dinheiro na fintech e 60% em um banco incumbente.

Apesar do apelo tecnológico dos digitais, o uso das instituições financeiras tradicionais no canal “mobile” é muito mais significativo — reflexo da escala que elas têm no país. Das dez últimas vezes quando entraram em um aplicativo de banco, em 2,1 delas os brasileiros o fizeram para acessar a conta de uma fintech, e em 7,9 vezes usaram um banco tradicional.

Há algumas razões para isso. Além de serem mais jovens, os neobancos oferecem menos produtos e têm menos credibilidade se comparados aos incumbentes. De acordo com o levantamento, 39,6% dos clientes brasileiros dizem confiar “completamente” nos bancos digitais, enquanto 56,40% confiam nos tradicionais. Na média dos três países emergentes, essas proporções são de 53% e 58%, respectivamente, enquanto nos mercados desenvolvidos os digitais são confiáveis para apenas 19%, e os convencionais, para 47%.

Então, embora milhões de pessoas estejam baixando aplicativos e abrindo contas em neobancos, ainda há um longo caminho a percorrer até os neobancos alcançarem o número de transações, o saldo em conta e o uso regular obtidos pelos bancos tradicionais. Para dizer sem rodeios: depender apenas de serviços de pagamentos instantâneos não vai ser suficiente para os neobancos alcançarem e sustentarem seu crescimento no longo prazo.

A grande mensagem do estudo é os bancos digitais terem de ampliar o escopo de atuação se quiserem se tornar preponderantes no dia a dia de seus clientes. A sugestão vai na contramão do modelo adotado hoje por grande parte das fintechs: o de se especializar em um ou poucos produtos.

Isso não quer dizer, nem de longe, os bancos tradicionais estarem com a vida ganha. Segundo a consultoria, essas instituições podem perder relevância não apenas para fintechs, mas também para concorrentes do mundo físico se estes conseguirem oferecer uma melhor experiência para seus clientes. Os incumbentes proporcionam solidez, mas precisam combinar isso com uma oferta melhor e uma marca com mais apelo para os clientes.

Bancos Digitais X Bancos Tradicionais publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



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