sábado, 1 de agosto de 2020

Fim do Dinheiro em Papel-Moeda com Pagamento Digital

Coincidentemente, recebi da autora, Melisa Murialdo (Redatora e Editora de Conteúdos para a América Latina | CPA Analista) uma análise sobre o tema de minha aula próxima no curso de extensão “Mercado Bancário”. Compartilho-a abaixo.

Cenário Pré-Quarentena: o dinheiro vivo é o rei

Em relação ao consumo diário, América Latina possui um dos níveis mais baixos do mundo de pagamentos eletrônicos. Segundo especialistas, isto a converte em uma região extremadamente atrativa para introduzir novas tecnologias que impulsionem a redução do uso do dinheiro em papel para realizar transações.

Embora as tentativas e as políticas aplicadas até o momento não deram frutos imediatos, no cenário de distanciamento social atual, o Coronavírus está se convertendo no propulsor de novos hábitos de consumo e formas de pagamento, mesmo nas pessoas mais enraizadas ao uso do papel. Por isso, um vírus poderia ser o motor jamais pensado para acelerar a transformação digital e ampliar a inclusão financeira da região.

O modus operandi dos consumidores latino-americanos envolve o uso de dinheiro vivo para as compras cotidianas de baixo valor e deixar os cartões de débito e crédito para as transações de maior valor porque eliminam o risco de levar grandes quantias de dinheiro no bolso, além disso o crédito possibilita o financiamento da compra. Os consumidores preferem pagar com dinheiro em papel porque é uma forma prática, rápida e aceita em todas partes.

No nível cultural, o dinheiro em papel é difícil de destronar, porque é, de longe, a forma de pagamento favorita não só em Latino América, se não no mundo inteiro: em Alemanha, Itália e Japão 90% do total das transações continua sendo realizada com “cash”.

Antes da propagação global do Coronavírus existia só três países onde os meios de pago eletrônicos superavam amplamente a forma de pagamento tradicional: Suécia, Coreia do Sul e China. Este último país, por exemplo, implementou um modelo comercial de baixo uso do dinheiro em papel com fomento, pelo seu presidente, para o uso das moedas digitais, a fins do ano 2019, pediu a adoção acelerada de tecnologia blockchain. Isto poderia supor uma grave ameaça para o dólar dos Estados Unidos.

Cenário Post – Quarentena: a pandemia pode acelerar mudanças de hábitos nos consumidores

A situação de emergência pela que transitamos e que obrigou a maioria da população a permanecer em casa como única “vacina” conhecida até o momento para evitar nos contagiar e propagar o Coronavírus, oferece uma oportunidade para potenciar os meios eletrônicos de pagamento e desalentar consequentemente o uso de dinheiro em papel.

Graças aos desenvolvimentos que se deram no sistema financeiro nos últimos anos que representam um avanço constante das operações bancárias junto à situação de isolamento atual, hoje se observa um maior dinamismo nas transações sem contato: os pagos desta modalidade aumentaram um 35% na América Latina no meio da pandemia.

Brasil agora ocupa o terceiro lugar entre os mercados de transações digitais mais grande do mundo e tem uma alta capacidade móvel, de 83%.

Os canais remotos vêm crescendo tanto que 6 de cada 10 transações se realizam pelos meios digitais: telefone celular ou computador. O uso de smartphones para realizar operações bancárias já supera o uso do Internet Banking.

A quarentena tem um forte impacto nos meios de pagamento utilizados

De acordo a um estudo realizado pela empresa Elo, as compras com cartão cresceram um 25% em mercados e diminuíram um 59% em restaurantes no meio do isolamento. Em total, houve uma queda de 21% nas vendas realizadas com cartão de débito e de 36% nas realizadas com um cartão de crédito.

Porém a contrapartida foi o aumento dos pagos realizados por meio de links, contactless e mediante cartões virtuais. Devido à vantagem digital que possui o país, se observa um crescimento de pagamentos on-line via links; aumento da quantidade de transações sem contato, com a tecnologia NFC (“near field communication”); e maior uso das carteiras digitais. Um estudo da consultora Bain mostrou que 48% dos consumidores brasileiros estão dispostos a mudar a forma de pagar após a quarentena, usando mais cartões e celulares.

É assim que, por exemplo, os pagamentos realizados através do link Cielo aumentaram 200% e o uso do cartão virtual Nubank cresceu 31%: os maiores gastos se concentram nas categorias de streaming e delivery.

O uso dos meios digitais para realizar pagamentos no país já não será o mesmo.

A regulação é um elemento significativo para o crescimento do dinheiro móvel e um dos pontos nos que se deveria avançar porque o marco regulatório para tecnologias financeiras e outras instituições de dinheiro eletrônico é muito recente no país, por isso é pouco desenvolvido e se encontra enquadrado em regulações mais gerais ligadas a sistemas de pagos.

É assim que ao avaliar a forma de responder ativamente aos novos desafios que impõe a economia digital:

  • melhorar a logística para evitar a insatisfação dos consumidores
  • garantir a biossegurança com fretes gratuitos
  • aumentar a mão de obra essencial para evitar atrasos nas entregas
  • oferecer produtos que satisfazem as necessidades da população diversificada
  • aproveitar as vantagens regulatórias na questão de inclusão financeira

Sem deixar de lado complementos analógicos para reduzir os riscos e maximizar os benefícios, a pandemia poderia aumentar o uso de meios de pago diferentes ao dinheiro físico como hábito de consumo na sociedade.

O comércio por meio das plataformas eletrônicas crescerá mais que o varejista tradicional no próximo ano, devido aos novos consumidores digitais terem experimentado a modalidade e os já estabelecidos aumentaram seu uso durante a quarentena.

Para que possam “competir” com o dinheiro em papel, as formas de pagamento eletrônico devem ser:

  • não só seguras para evitar os fraudes informáticos mas também
  • acessíveis a toda a população;
  • rápidas e simples sem procedimentos burocráticos complicados que fazem um círculo interminável de senhas e verificações que paradoxalmente acabam dando a sensação de ter exposto toda nossa privacidade e desencorajando o processo de digitalização da população que o momento atual precisa.

Conclusão:

Como conclusão, graças aos avanços em questões financeiras e digitais que vem se desenvolvendo no Brasil há anos, segundo a analista Melisa Murialdo, da empresa de serviços financeiros omelhortrato.com, se a forma de responder ativamente aos novos desafios que impõe a economia digital é avaliada, sem deixar de lado complementos analógicos para diminuir os riscos e maximizar os benefícios, a pandemia pode consolidar o uso de meios de pagamento diferentes ao dinheiro em papel e o incorpore como um hábito de consumo na sociedade.

É assim que um vírus terminaria sendo o acelerador da extinção do dinheiro vivo e se são tomadas as medidas pertinentes, um motor da transformação digital de que o setor financeiro precisa para favorecer a posição do Brasil como líder na matéria.

Fonte: Banco Mundial, Banco Central, Ministério de Economia, Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), Kantar, Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), Deutsch Bank, Minsait, Bancos Centrales de Países de Latino América, OCDE, CEMLA, The Economist Intelligence Unit, Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs)

Stella Fontes (Valor, 29/07/2020) informa: um dos mais tradicionais conglomerados empresariais do país, o Ultra está entrando em um novo mercado, o de serviços financeiros. Com foco em pagamentos digitais, a sexta empresa do grupo nasce ancorada no programa de fidelidade Km de Vantagens e no aplicativo Abastece Aí!, ambos de sua distribuidora de combustíveis, a Ipiranga, e oferecerá, além da conta de pagamento digital, descontos e um programa de “cashback” que vai além dos postos da rede.

A nova empresa, cuja diretoria se reportará diretamente à Ultrapar, passa a responder pelo Km de Vantagens e pelo Abastece Aí!, herdando uma plataforma de 33 milhões de usuários que hoje estão no programa de fidelidade, incluindo as 4 milhões de pessoas que já usaram o aplicativo como meio de pagamento na rede Ipiranga. No ano passado, o Abastece Aí movimentou R$ 4 bilhões em transações de combustível.

Também está no plano de negócios da nova empresa, batizada Abastece Aí, atuar como distribuidora de produtos financeiros, relacionados ao universo automotivo, incluindo o consumidor. “Estamos olhando para os motoristas. Então, a base potencial de clientes é de quase 50 milhões de pessoas que têm carro no país”, disse o executivo Jeronimo Santos, que está deixando a diretoria de Marketing da Ipiranga para assumir a presidência da nova empresa.

O grupo já tem conversas em andamento com potenciais parceiros e o portfólio de produtos financeiros deve ser ampliado no decorrer do segundo semestre. Isso significa que um cliente da nova empresa poderá contratar o seguro de seu carro ou o financiamento para a compra do veículo por intermédio da plataforma digital.

Até agora, os participantes do Km de Vantagens acumulavam quilômetros (os pontos do plano de fidelidade), que podiam ser trocados por descontos na Ipiranga ou em um dos cerca de 100 parceiros da rede. E o Abastece Aí, uma das funcionalidades do programa de fidelidade, era usado na compra de combustível.

Com as novas funcionalidades, o usuário do aplicativo poderá acumular créditos em reais, resultantes do “cashback”, usados futuramente tanto na Ipiranga quanto em uma rede mais ampla de varejistas parceiros, que está em construção. Os recursos poderão ainda ser transferidos para conta corrente própria. “Com a recorrência, o cliente vai obter cada vez mais ‘cashback’”. Acúmulo e resgate de pontos no programa de fidelidade estão mantidos.

Na avaliação do executivo, que construiu uma carreira de 34 anos em diferentes empresas da Ipiranga, o conhecimento acumulado sobre o segmento de combustíveis e seu consumidor, além da base de participantes elevada já na partida da operação, deve funcionar como diferencial da nova empresa.

“Até agora, a operação conseguia reter clientes para a Ipiranga. Daqui para a frente, a geração de novos clientes será ampliada porque virão os clientes de outros parceiros”, disse Santos. O novo modelo também permite acelerar a migração de participantes do programa de fidelidade para o aplicativo.

Segundo o diretor financeiro da Ultrapar, André Pires, o grupo começou a avaliar alternativas para melhor explorar a escala e a recorrência do Km de Vantagem e do Abastece Aí em 2019. No fim do ano, decidiu ir adiante com o pagamento digital. A pandemia de covid-19 não atrapalhou os planos – ao contrário, o uso crescente da tecnologia como meio de pagamento teve efeito positivo. A expectativa era a de que a operação, que não retira resultados da Ipiranga, trouxesse resultado positivo em três anos, porém a Ultrapar já trabalha com a possibilidade de antecipação desse marco.

Para 2020, o Ultra havia reservado R$ 80 milhões para investimento na nova empresa, a maior parte direcionada a custos e despesas para estruturação e crescimento da operação. Neste momento, porém, a previsão é a de que o valor investido fique em torno de R$ 40 milhões no ano. Em encontro com analistas e investidores no início do ano, o Ultra Day, a Ultrapar havia informado que, dos R$ 200 milhões previstos em despesas para a holding neste ano, R$ 80 milhões se referiam a investimentos em uma plataforma digital de aplicativos. À época não foram revelados detalhes do projeto.

O lançamento da nova empresa faz parte do processo de revisão em curso no Ultra nos últimos anos, que passou pela troca o alto comando em diferentes negócios do grupo e ajustes na estratégia de negócios, entre outras mudanças. Principal operação do grupo, a Ipiranga reviu a política de bonificação de revendedores, em um movimento de restauração de margens.

Em outra frente, a Extrafarma não apenas interrompeu a trajetória de abertura acelerada de novas farmácias, como promoveu a depuração de sua base, com o fechamento das unidades de baixo retorno. No primeiro trimestre, antes do avanço da pandemia, a expectativa do mercado em relação ao grupo era bem mais positiva do que a vista nos dois anos anteriores.

As funcionalidades adicionais do aplicativo estarão disponíveis na nova versão do Abastece Aí, que pode ser baixado gratuitamente nas lojas digitais oficiais de aplicativos para iOS e Android.

Fim do Dinheiro em Papel-Moeda com Pagamento Digital publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



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