A moeda nacional (real) não foi apreciada por investidores, mas sim a norte-americana (dólar) foi mais depreciada…
Victor Rezende e Gabriel Roca (Valor, 28/07/2020) informam: o ambiente de fraqueza do dólar no mercado internacional foi reforçado ontem. O índice DXY, que mede o desempenho da moeda americana em relação a outras divisas principais, despencou ao menor nível desde junho de 2018. E, para estrategistas de câmbio, há espaço para que a trajetória de depreciação do dólar globalmente prossiga.
O euro tem sido a moeda que mais atrai as atenções dos agentes do mercado e também testa os maiores níveis desde 2018 ao se aproximar da marca de US$ 1,18, no momento em que a união fiscal entre os países da União Europeia dá apoio à moeda única e tira o apelo de segurança da divisa americana.
Dados divulgados pela Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC) mostram que os investidores continuam apostando contra o dólar na Bolsa de Futuros de Chicago (CME). O destaque, inclusive, fica com as posições compradas em euro, ou seja, que apostam na valorização da moeda única, que atingiram o maior nível desde abril de 2018. Ainda segundo o CFTC, os investidores também elevaram a aposta em divisas como o iene e o franco suíço.
O aumento no número de casos de covid-19 nos Estados Unidos, o excesso de liquidez colocado em vigor pelos bancos centrais e a expectativa de que o Federal Reserve (Fed) manterá as taxas de juros em níveis baixos por um período prolongado são alguns dos motivos que têm apoiado a visão de um dólar fraco globalmente.
Além disso, como nota a estrategista-chefe de investimentos da Charles Schwab, Liz Ann Sonders, dados de mobilidade têm mostrado que a Europa está na liderança no retorno à normalidade. França, Alemanha e Espanha caminham rumo a níveis de mobilidade pré-pandemia, enquanto países como EUA, Suécia e Reino Unido estão mais atrasados.
Não por acaso, os estrategistas de câmbio do Goldman Sachs acreditam que, “se os ativos europeus tiverem um desempenho tão bom ou melhor em relação aos mercados americanos nos próximos trimestres, como esperamos, a diminuição das posições compras em dólar deve continuar, o que gerará uma apreciação adicional do euro e de outros pares”.
Índices de confiança na Europa também têm mostrado desempenho superior às expectativas do mercado, o que eleva as apostas de uma recuperação acelerada em solo europeu. Ontem, o instituto Ifo informou que o índice de clima para os negócios na Alemanha, maior economia europeia, subiu de 86,3 pontos em junho para 90,5 em julho, acima do nível de consenso do mercado (89,0). Já nos EUA, o índice de confiança do consumidor, que será divulgado hoje pelo Conference Board, deve cair de 98,1 ponto em junho para 94,5, nas expectativas do mercado.
Com a tendência positiva apontada para a Europa, o cenário de fraqueza da moeda americana deve se consolidar, esperam os estrategistas de câmbio do Morgan Stanley, que veem espaço para alguma queda adicional do dólar pela frente, especialmente contra o euro, o dólar australiano e o dólar canadense.
Para o Morgan Stanley, um dos motivos principais para a rápida depreciação da divisa dos EUA está no declínio dos juros reais americanos, além da valorização dos ativos de risco e de notícias positivas relacionadas à união fiscal da União Europeia, desenvolvimento de vacinas e indicadores econômicos que favorecem o euro. O banco americano espera que o euro atinja a marca de US$ 1,18 e ainda vê o dólar australiano a US$ 0,7250; o dólar a 1,31 dólar canadense e o DXY em 93,50 pontos.
O estrategista sênior de câmbio do banco sueco SEB, Richard Falkenhäll, nota que as qualidades defensivas do dólar e a demanda global por liquidez, que beneficiaram a moeda americana no auge da crise da covid-19, “agora se tornaram negativas à medida que o apetite por risco global se recupera em meio a respostas políticas sem precedentes dos governos e dos bancos centrais”. Falkenhäll também acredita que o fator determinante por trás do enfraquecimento recente do dólar foi a queda rápida e expressiva dos juros reais americanos nas últimas semanas.
“Juros americanos mais altos atraíram entradas de capital para ativos dos EUA por vários anos. Com essa vantagem quase esgotada e as taxas de juros americanas em torno do mesmo nível que em outros países, essa mudança acentuada reduziu drasticamente a atratividade dos EUA”, diz Falkenhäll. Ele argumenta, ainda que a queda nos custos de hedge “provavelmente desencadeou um reequilíbrio mundial do risco do câmbio em dólar entre investidores estrangeiros, criando significativos fluxos negativos para o dólar”.
Há, contudo, quem acredite que o movimento atual é exagerado e veja o dólar ganhando algum fôlego em breve. É o caso da estrategista sênior de câmbio do Rabobank, Jane Foley, que lembra que a moeda americana é a mais comum para contratos de dívida e ainda é muito usada no comércio internacional.
“Mesmo com os juros baixos e as perspectivas de crescimento piores, o dólar ainda é um ativo de proteção mais prático do que o iene ou o franco suíço para muitos investidores”, afirma. Para ela, se o mundo for atingido por outra onda de grande incerteza, é provável que muitos investidores se esforcem para garantir um novo suprimento de dólar. “Dadas as preocupações com uma segunda onda de covid-19 e seus impactos na economia, existe o risco de que a recente corrida para vender dólares possa estar se estendendo demais”, afirma.
Os estrategistas do Rabobank veem, inclusive, risco de o euro volte ao nível de US$ 1,16 nas próximas semanas.
Gustavo Ferreira (Valor, 29/07/2020) informa: o velho bordão “o ouro vale mais que dinheiro” está sendo levado a sério por investidores brasileiros. Os contratos para compra de ouro mais negociados na B3 custavam, no dia 28/08/20, R$ 324 por grama, valor que indica uma valorização de quase 60% no ano, enquanto o dólar subiu 28% e o Ibovespa caiu 10%.
Esse movimento está em linha com o rali de preços em Nova York. Desde a inusitada queda para US$ 1.477 por onça-troy (31.3 gramas), o metal já subiu 31% e no dia 28/7/20 fechou a US$ 1.945. No dia 24/7/20, pela primeira vez, superou US$ 1.900.
No mundo da pandemia, a alta do ouro coincide com a perda de prestígio do dólar como reserva de valor. A moeda americana caiu nesta semana ao nível mais baixo em dois anos quando comparada a uma cesta de moedas.
A explosão da demanda por ouro no Brasil está só o início. As aplicações em ouro representam ainda apenas 0,5% dos portfólios. A alta deve-se à demanda na mesma conjuntura econômica que vem empurrando mais pessoas para a bolsa. As decisões são relativas; o ouro, por definição, paga juro zero, mas a renda fixa, hoje, nem isso. O ouro ainda tem todo um fetiche, a história de ser escasso.
Para explicar a vantagem do ouro sobre o dólar, os EUA estão imprimindo muita moeda, mas ouro, não podem imprimir. Essa injeção abundante de dinheiro novo na economia, como reza a cartilha dos economistas, uma hora vai virar inflação [?!].
Quem não incluiu ouro no cardápio de seus fundos chora todo dia, porque olho e o ouro não para de subir. Mas é algo tão falado que parece ‘esticado’ demais” e cedo ou tarde o rali vai perder força.
Especulação com Tendência Pressuposta Firme de Preços de Ativos publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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