quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Atual Conjuntura: Grande Depressão Deflacionária

Alessandra Saraiva (Valor, 20/07/2020) informa: o hiato do produto, diferença entre o PIB corrente e o PIB potencial de um país, registrou no Brasil o pior resultado em 38 anos no segundo trimestre de 2020. É o que mostra levantamento da Fundação Getulio Vargas (FGV).

De acordo com o estudo, o hiato do produto no período, ou seja, diferença entre a capacidade produtiva da economia, e o que foi efetivamente alcançado, foi negativo em 14,1% — o mais baixo da série, iniciada em 1982 pela fundação sobre o tema.

Um quadro de baixa confiança para investir no país, aliado à crise causada originada pela covid-19, levou ao resultado, afirma a economista da FGV Elisa Andrade, uma das organizadoras da pesquisa. “Não tínhamos recuperado ainda da recessão de 2014 e aí veio a pandemia”, considerou. “A pandemia veio coroar um desempenho que já vinha fraco.”

A FGV apurou que o produto potencial crescia, em média, 0,6% de 1982 a 2020. Já no mesmo período, o PIB efetivo subia a 0,5%. Mas, na análise trimestre a trimestre, a especialista comentou que, até o segundo trimestre deste ano, o pior resultado tinha sido no primeiro trimestre de 2017, quando houve saldo negativo de 6,6%.

A recessão pelo qual o país passou entre março de 2014 e dezembro de 2016 também gerou vários resultados negativos, no hiato em torno de 6%. De 2005 até a recessão, o hiato sempre foi positivo – com exceção de 2009, devido à crise financeira originada do mercado subprime americano, ocorrida naquele ano.

Atualmente, o quadro está longe de ser positivo. Os exercícios feitos para calcular o hiato do produto, elaborados pela pesquisadora em parceria com os também economistas da FGV Claudio Considera e Juliana Trece, apontam queda de 9,4% no PIB do segundo trimestre ante o primeiro trimestre, com recuo de 11,2% na comparação com segundo trimestre de 2019.

O cenário atual, além do impacto da pandemia, reflete crise de falta de confiança em investir, e de baixa produtividade no país após a recessão de 2014. “Temos hoje uma questão estrutural muito forte, de não conseguir atrair investidores”, comentou a economista. Isso atinge a questão do capital. Há a questão da confiança do investidor, abalada, por um risco Brasil muito alto, com muita burocracia para abrir negócio.

No entanto, o hiato de produto negativo recorde, registrado no segundo trimestre, deve ser o ponto mais baixo da série no ano. Há sinais de atividade “menos ruim” para o terceiro trimestre deste ano.

Isso, na prática, não significa quadro de melhora no indicador, e sim “menos pior”. “Não podemos nos esquecer que o PIB potencial já estava ruim. Nossa taxa de investimento [no total do PIB] estava muito baixa, desde 2014, quando atingiu 14% e a média brasileira entre 2011 e 2014 era de 20%”, disse a especialista. O IBGE anunciou taxa de investimento de 15,8% no primeiro trimestre deste ano. “Se não houver logo um investimento [na economia] baseado em capital, e que eleve produtividade, creio ser difícil prever crescimento do [hiato] do produto”, concluiu.

Atual Conjuntura: Grande Depressão Deflacionária publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



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