Adriana Cotias (Valor, 21/10/2019) informa: o Brasil apresentou uma das taxas de crescimento de riqueza mais elevadas de meados de 2018 para cá, embora os fundamentos macroeconômicos não justifiquem o enriquecimento. Segundo mapeamento global feito pelo Credit Suisse, as famílias brasileiras reuniam ativos da ordem de US$ 3,5 trilhões no fim de junho, com um aumento de US$ 312 bilhões no intervalo de um ano. Esse valor patrimonial equivale quase ao dobro do PIB brasileiro em dólares!
Em paralelo, o número de milionários no país subiu de 217 mil adultos para 259 mil, um incremento de 19,4%, colocando o país no grupo de economias com maior crescimento no período, atrás de Holanda, Alemanha, China, Japão e Estados Unidos.
No Brasil, os ativos financeiros respondiam por 49% do patrimônio bruto das famílias, em comparação a 42% em 2010. É próximo do indicado pelas DIRPF.
As estimativas apontam para um total de 319 mil adultos com patrimônio financeiro acima de US$ 1 milhão no Brasil até 2024, uma elevação de 23%. Trata-se de uma projeção conservadora, porque os pesquisadores do grupo suíço envolvidos no Global Wealth 2019 levaram em conta o crescimento do PIB dos últimos 10 anos, período marcado por taxas modestas e uma Grande Depressão em 2015 e 2016.
Na realidade, como o banco suíço não apresenta sua metodologia, isto é um “chute”! “Se o Brasil ingressar numa fase mais virtuosa como se prenuncia com os juros mais baixos da história, o país pode até somar até 350 mil milionários em cinco anos”, calcula o porta-voz, fazendo apologia enganosa.
“O curioso é que isso é uma Bélgica. No fundo, não é que não tenha um universo fantástico [de indivíduos ricos], mas são 212 milhões de pessoas no país [menos, menos]. O Brasil precisa crescer mais rápido que a média histórica, vai ter mais milionários e reduzir a desigualdade.”
[Fernando Nogueira da Costa: não é um idiota? “Vai ter mais milionários e reduzir a desigualdade”?! Onde esse cara estudou?]
O Brasil foi o único país onde a desigualdade aumentou entre 2016 e 2019. A pesquisa estima o percentual de 1% mais rico da população deter 49% de toda a riqueza familiar do país. A proporção de brasileiros com patrimônio inferior a US$ 10 mil é superior à observada no mundo todo, com um percentual de 70% ante 58%.
O nível relativamente elevado da desigualdade reflete em parte a má distribuição de renda, uma tendência perdurando há séculos no país, aponta o CS. Para os pesquisadores dois fatores têm contribuído para essa dinâmica:
- o acesso restrito à educação de qualidade e
- a divisão entre os setores formal e informal da força de trabalho.
No mundo, mais da metade dos adultos têm patrimônio líquido abaixo de US$ 10 mil, enquanto quase 1% dos milionários possuem, juntos, 44% de toda a riqueza global.
Globalmente, o conjunto de riquezas cresceu US$ 9,1 trilhões entre junho de 2018 e de 2019 e chegou a US$ 360,6 trilhões, uma alta de 2,6% em relação ao mesmo período do ano anterior.
O país com maior acréscimo de milionários no ano passado foi os Estados Unidos, com 675 mil novos indivíduos. Japão e China aparecem na sequência, com 187 mil e 158 mil adultos, respectivamente.
De acordo com o relatório, Polônia (74%), Japão (71%), China (55%), Portugal (49%) e Taiwan (44%) são os países que devem somar a maior quantidade de novos milionários até 2024. As projeções apontam: o número de milionários no mundo chegará a quase 63 milhões nos próximos cinco anos, enquanto a riqueza global aumentará em 27%, chegando a US$ 459 trilhões.
A riqueza total aumentou em todas as regiões de meados de 2018 para 2019. A América do Norte adicionou US$ 4,1 trilhões ao estoque, dos quais US$ 3,9 trilhões vieram dos Estados Unidos. A China e a Europa contribuíram com US$ 3,0 trilhões e a Ásia-Pacífico (excluindo China e Índia) com outros US$ 825 bilhões.
Apesar dos problemas econômicos na Argentina e na Venezuela, a riqueza na América Latina aumentou US$ 463 bilhões, com o Brasil respondendo por US$ 312 bilhões desse total. Nesse conjunto, explicam boa parte da evolução:
- a valorização das ações e
- o impacto cambial.
Ao considerar o grupo de milionários “ultra high”, com patrimônio acima de US$ 50 milhões, o Brasil foi uma das economias com maior estagdesigualdade: não cresce renda nem emprego, mas mais indivíduos entraram nessa categoria entre 2018 e 2019, com acréscimo de 860 adultos, perdendo para os EUA. Estes viram o número de pessoas do topo da pirâmide aumentar em 4,2 mil. Na Rússia, foram 400 novos indivíduos “ultra high“.
Tão importante quanto o crescimento da quantidade de afortunados no Brasil será a forma como vão alocar o capital daqui para frente. Em vez de financiar a dívida pública com juros altos, o banco suíço espera eles estarem mais focados em incentivar a iniciativa privada e o crescimento.
Um movimento especulativo já vem sendo observado entre a parcela da população mais rica atendida pelos serviços de private banking e de gestão de patrimônio, com mais recursos sendo direcionados para alternativas como ações, fundos imobiliários e de private equity. Esgotado todo o prêmio a se extrair da queda dos juros futuros – com a consequente valorização dos ativos de renda fixa -, essa mudança de mentalidade tende a se espalhar para toda a sociedade, cita o executivo alienado da realidade brasileira. Para se ter uma ideia, nas carteiras administradas pelo CSHG, a alocação em ações chega hoje a 25%, na média, de um percentual de 5% há três anos.
O patrimônio líquido, ou riqueza, considera o valor dos investimentos financeiros mais ativos reais (principalmente imóveis) pertencentes às famílias, excluindo-se as dívidas. Corresponde ao saldo líquido do balanço patrimonial. Este pode ser elaborado ao listar os bens ao seu valor líquido se fossem vendidos. A conta inclui os recursos aplicados na Previdência Privada, mas não as pensões públicas.
Para quem conhece os dados disponíveis da ANBIMA, da BOVESPA e das DIRPF, e sabe os valores de mercado dos seus imóveis serem desconhecidos pelos proprietários, caberia o CS expor sua metodologia de pesquisa claramente. Não parece ser convincente.
Leia mais (download dos relatórios):
Global wealth report 2019 (PDF): Global Wealth Report 2019 – Credit Suisse
Global wealth databook 2019 (PDF) : Global Wealth Databook – 2019 – Credit Suisse
Relatório sobre Riqueza Global Fictícia do Credit Suisse publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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