sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Debêntures Pouca Diferença Fizeram no Crédito Ampliado

Em outubro de 2019, o crédito ampliado alcançou R$ 10 trilhões (140,8% do PIB), redução de 0,6% no mês, refletindo principalmente a retração na dívida externa (-2,8%), em função do impacto da apreciação cambial de 3,8%. Na comparação interanual, o crédito ampliado cresceu 10,2%, destacando-se os títulos de dívida (+13,6%), seguido da dívida externa (+10,1%) e dos empréstimos e financiamentos (+6,4%).

O crédito ampliado a empresas e famílias totalizou R$ 5,6 trilhões (78,6% do PIB), variações de -0,4% no mês e de 10,6% em doze meses. No mês, houve expansão do saldo dos títulos privados (1,5%, refletindo o desempenho das debêntures) e dos empréstimos e financiamentos (0,4%), contrabalançados pela redução de 3% na dívida externa, decorrente da variação cambial.

O saldo das operações de crédito do SFN totalizou R$ 3,4 trilhões em outubro (aumento só de 0,3% no mês), acompanhando crescimento na carteira de pessoas físicas (1,1%, saldo de R$ 2 trilhões). Na carteira de empresas, ocorreu queda de 0,8% no mês (saldo de R$ 1,4 trilhão), considerados os efeitos de amortizações sazonais em modalidades com recursos livres e da apreciação cambial.

Na comparação interanual, o crescimento da carteira total ampliou-se de 5,8% para 6,3%, mantendo a expansão de 11,3% no crédito às famílias, com o crédito às empresas permanecendo estagnado.

As concessões de crédito dessazonalizadas apresentaram em outubro queda generalizada em seus vários segmentos. Logo, os estímulos monetários feitos pelo Banco Central (BC), a partir de julho de 2019, não chegaram à atividade econômica. Por enquanto, os cortes na Selic influenciam apenas as taxas de juros cobradas pelos bancos. Em algumas linhas são as menores da série estatística do BC.

As concessões de crédito total tiveram recuo de 1,96% em outubro, ante setembro, nos dados dessazonalizados. Já as concessões do crédito livre, mais sensíveis aos estímulos monetários, tiveram recuo de 2,4% no mês. O recuo nas concessões do crédito livre atinge tanto o segmento de pessoas físicas (queda de 0,97%) quanto de pessoas jurídicas (redução de 3,59%). A exceção foi o crédito livre não rotativo (exclui cheque especial e cartão de crédito). Este crédito apresentou aumento de 2,62%.

O desempenho do mercado de crédito vem sendo acompanhado com especial atenção por membros do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC. O colegiado tem chamado a atenção para o risco de os cortes na taxa básica de juros se transmitirem com mais força para a economia [?!], depois com a mudanças recentes no mercado de crédito com intervenções do governo ultraliberal na economia (e ultraconservador na política e costumes):

  1. mais crédito livre concedido mais por bancos privados, e
  2. recuo do crédito direcionado concedido mais por bancos públicos.

Em um conceito bastante citado pelos membros do Copom – as concessões acumuladas em 12 meses – houve certa estabilidade no período. No crédito total, elas passaram de 12,5% para 12,7% entre setembro e outubro; no crédito livre, recuaram ligeiramente, de 13,5% para 13,4%. O quadro é distinto entre o crédito livre a empresas, cuja taxa de expansão se desacelerou de 12,2% para 11,5%, e o crédito livre a pessoas físicas, ganhando impulso de 14,5% para 14,9%, sempre se comparar a variação em 12 meses entre setembro e outubro.

O presidente do BC, Roberto Campos Neto, vem alardeando em especial a taxa de expansão das concessões acumuladas em 12 meses do crédito livre não rotativo a pessoas físicas. Houve apenas um discreto avanço, de 27,2% par 27,7%, entre setembro e outubro.

No mês passado, houve também baixo crescimento dos estoques de crédito. O saldo total subiu 0,3% em relação a setembro, para R$ 3,372 trilhões. No acumulado de 12 meses, a alta foi de 6,3% – expansão mais forte do que os 5,8% registrados até o mês anterior. Além disso, a alta de outubro foi a mais forte nesse tipo de comparação desde dezembro de 2015. O crescimento vem sendo puxado principalmente pelo crédito livre. Ele teve alta em todos os meses do ano, segundo Fernando Rocha, chefe do departamento de estatísticas do BC.

Mas as concessões (fluxos de empréstimos) têm uma correlação mais forte com a atividade econômica comparado com os estoques. Estes podem oscilar devido a fatores como:

  1. variação da cotação do dólar,
  2. renegociação de dívidas com a incorporação de juros ao principal.

Embora ainda não tenha tido um efeito expressivo no volume de crédito, os cortes da taxa Selic estão reduzindo os juros bancários. Em outubro, a taxa de juros média ficou em 23,9%, um recuo de 0,6 ponto em relação ao mês anterior. Além disso, quatro linhas foram no mês passado para as suas mínimas históricas. São elas:

  • antecipação da fatura do cartão de crédito (11,2%);
  • aquisição de veículos para pessoas jurídicas (12,4%);
  • capital de giro (15,2%);
  • crédito consignado (20,9%).

A taxa básica de juros está atualmente em 5%. O BC vem sinalizando mais um corte de 0,5 ponto para a próxima reunião do Copom. Ela provavelmente será realizada na segunda semana de dezembro.

Historicamente, a resposta do crédito à política monetária está dentro do padrão. Um box do Relatório de Inflação de março de 2018 mostra, depois de o BC começar o ciclo de baixa da Selic:

  1. os juros bancários começam a reagir um ou dois meses;
  2. as concessões apresentam crescimento entre seis e oito meses depois.

Debêntures Pouca Diferença Fizeram no Crédito Ampliado publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



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