sábado, 23 de novembro de 2019

Tecnologia em primeiro lugar, Banco em segundo lugar

Avanços tecnológicos progressivamente levam à interrupção do processo bancário tradicional

Brett King, autor do livro Bank 4.0: Banking Everywhere, Never at a Bank  (UK; John Wiley & Sons; 2019),  narra: as últimas notícias não são apenas a Alipay estar entrando no jogo bancário, mas a Amazon também. No Money 20/20, realizado em Singapura em 2018, Piyush Gupta observou: “apesar do estado da confiança ser maior nos bancos tradicionais, por eles terem marca e vantagens da rede de agências sobre os gigantes da tecnologia, esses novos players têm acesso a bilhões de clientes — e seu custo de aquisição dessa clientela é efetivamente zero”.

Não existe banco capaz de reivindicar a mesma superioridade hoje. Se você pretende ser um competidor em tecnologia, você deve começar com a premissa básica de sua organização ter de mudar radicalmente.

A fundação de um banco na Era 1.0 era simplesmente excelente negócio: boa ROE (rentabilidade patrimonial), boas políticas de risco de crédito, boa distribuição via rede, etc. A base do setor bancário na Era 4.0 está sendo excelente em tecnologia – e ponto final!

Ser bom apenas no negócio bancário será realmente uma penalidade no mundo do Bank 4.0, porque essa complacência pode impedir um banco tradicional de mudar de modo rápido o suficiente. Na Era do Bank 4.0, um banco digital pode sobreviver entregando serviços bancários sem ter as habilidades bancárias essenciais (ou sistemas de informações bancárias essenciais para esse assunto), além da camada de distribuição, caso ele tenha feito os investimentos adequados em tecnologia e design. Toda vez quando temos de introduzir uma nova camada de tecnologia no ambiente operacional dos bancos, redefinimos aos poucos o que é o próprio banco.

  • Quando o primeiro mainframe ERMA [Electronic Recording Machine for Accounting] do banco foi introduzido, ele levou à introdução de números de contas bancárias pela primeira vez na história.
  • Quando o caixa eletrônico chegou, ele nos levou a mudar de cadernetas de anotações escritas para cartões plásticos.
  • Quando chegaram a internet e o celular inteligente, tivemos de mudar o processamento em lote para o tempo real, recursos de processamento direto.
  • Quando a mídia social chegou, levou a sistemas de pagamentos pessoa a pessoa, baseados em IP, pressionarem bancos [nos EUA] a mudarem de três para dois dias de processamento das compensações, para atender à expectativa de obtenção de recursos em tempo real ou quase em tempo real.

Todas as principais novidades desse salto tecnológico levaram a mudanças estruturais e operacionais permanentes em torno dessa nova tecnologia. Não existe relacionamento, produto, serviço ou processo bancário não alterado pela tecnologia ao longo das últimas décadas. Agora até a própria regulamentação está sendo transformada por tecnologia.

A principal mudança do Bank 4.0 é a tecnologia não estar mais transformando elementos do banco, está transformando irremediavelmente a maneira como depositávamos (dinheiro e confiança) no passado. Gupta, do DBS, diz: “o setor bancário deve se tornar ‘invisível’, simplesmente incorporado no mundo ao nosso redor através da tecnologia” – e Brett King concorda de todo coração com essa afirmação.

Francisco González, presidente executivo do BBVA desde 2000, acredita: mais cedo ou mais tarde os gigantes da internet – Amazon, Facebook, Google – serão seus principais rivais. Porque “o mundo digital não vai permitir muitos concorrentes”, em 20 anos, as fileiras dos bancos existentes em todo o mundo podem ser reduzidas de milhares para dezenas. O sistema bancário precisará ser redimensionado para sobreviver. A cautela da regulamentação pode atrasar os e-gigantes, mas não para sempre. “Se você não está preparado para esse momento preciso, e você não está tão eficiente quanto os demais concorrentes estão, você estará brevemente morto.” [“O BBVA se reinventa como um negócio digital”, The Economist, Outubro 2017].

Quando o BBVA identifica uma oportunidade para um novo serviço ou experiência, ele tenta responder como um FinTech faria. Depois de identificar uma oportunidade durante seus “dias de demonstração contábil” trimestrais, três dias depois uma equipe terá sido formada para a executar. Dentro de quatro a seis semanas, um protótipo terá sido implantado e testado em um pequeno grupo de clientes de teste: às vezes funcionários, às vezes, consumidores finais dispostos. O BBVA pretende então lançar esse novo serviço ou experiência dentro de alguns meses após o protótipo ou prova do conceito. Esse tipo de recuperação é inédito na maioria dos bancos e ainda não é rápido o suficiente para González no BBVA. Afinal, ele está olhando o cenário e se preparando para competir com Amazon, Facebook e Google.

Mas lembre-se de no centro disso estar uma simples extrapolação de uma tendência abrangente. A tecnologia está cada vez mais relacionada a essas coisas – gratificação instantânea, personalização final, envolvimento com clientes sem atritos e margens de lucro com base na escala massiva.

A internet foi o começo. Valorizamos as cadeias produtivas e os processos de comércio eletrônico. Eles foram simplificados para a web.

Celulares têm telas menores com recursos restritos de entrega de conteúdo, por isso, precisamos aplicações mais simples com cumprimento mais rápido do prometido. A voz simplifica isso de novo – você não vai precisar ler o número do seu cartão de crédito para o Alexa [Echo Bot da Amazon direcionado por voz] antes dele permitir comprar algo na Amazon. Basta simplesmente o comandar porque seu cartão já estar registrado e o envio da mercadoria só se dará depois de aprovada a compra, inclusive por confirmar as parceiras comerciais a terem, de fato, em estoque. O portal da Amazon virou um market-place de vendas por meio empresas sem a reputação de sua marca.

A cada passo do caminho onde foi removido um atrito, a economia das empresas líderes é enquadrada por entrega com base em ordem digital. Por isso, Brett King continua enfatizando: a economia bancária tradicional baseada em agência está sendo ultrapassada por mudanças simples como a integração digital e a capacidade de escalar muito mais rapidamente dos bancos digitais.

Não é que King odeie agências capazes de empregar muitos bancários – é apenas uma constatação em face do cada vez maior número de paradigmas de design de entrega digital. Logo, as agências se tornam cada vez mais ineficientes na criação de escala e margem de lucro.

A tecnologia está inevitavelmente nos levando a um momento quando os serviços financeiros devem ser prestados sem atrito presencial. O trabalho pesado de KYC e IDV, em conformidade [compliance] e avaliação de risco será feito de modo todos se tornarem algoritmos com desafios em coleta de dados suficientes – e não processos, formas e regras legais requerentes de interpretação. Tudo será código. Portanto, se sua empresa não estiver codificada, ela está mais lenta frente à concorrência.

Como Elon Musk disse, a razão deles colocarem robôs no chão da fábrica de automóveis elétrico em vez de humanos é simples – humanos exigem a Tesla desacelerar o processo de produção para a “velocidade humana”.

O banco 1.0 é a velocidade humana. O banco 4.0 é a velocidade da máquina. Agora: você acha estar pronto como um banco para enfrentar esse cenário futuro em tecnologia?

Tecnologia em primeiro lugar, Banco em segundo lugar publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



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