quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Roteiro do Banco 4.0

Blockbuster, Borders, Kodak e outras empresas da classe das desaparecidas nos ensinaram alguma coisa sobre a escala de interrupção (inovação disruptiva) a qual estamos vendo agora nos serviços financeiros. Simplesmente, nenhuma indústria está imune a esse risco de obsolescência e ninguém admite estar sendo interrompido até quando é colocado em algum “arquivo-morto”.

Será o mesmo no espaço competitivo do Bank 4.0. Para muitos CEOs e membros da diretoria, nessa altura da vida profissional, eles esperam poder se aposentar antes da organização passar por essas mudanças radicais. Mas adiar essas decisões apenas garante a interrupção (inovação disruptiva) ter mais impacto quando ocorrer.

No núcleo do Banco 4.0 está uma redefinição de como os serviços financeiros se encaixam na vida dos consumidores, empresas e organizações usuárias desses serviços. A tecnologia está inevitavelmente redefinindo isso e, ao fazê-lo, não está apenas reduzindo o atrito com a clientela e tornando a entrega mais fácil, está também encontrando maneiras de reformular os serviços financeiros.

Quando analisamos os principais saltos de tecnologia, quando elas mudaram setores inteiros, economias inteiras e mesmo como a sociedade funciona, as maiores inovações ocorreram através do questionamento dos primeiros princípios de pensamento e de design. A imprensa ao passar de cópias manuscritas para produção em massa; transportes ao passar de cavalos montados ou puxando charretes (e locomotivas restritas a faixas designadas por estradas-de-ferro) a automóveis não exigentes de lixeiros recolherem os depósitos de resíduos malcheirosos deixados por aqueles cavalos nas ruas da cidade; fábricas ao passar de itens artesanais com escala limitada às linhas de produção, onde podem produzir produtos diariamente aos milhares, tudo isso criou um novo mundo.

O SpaceX, em apenas 14 anos, reduziu o custo de órbita da Terra em 95%, em comparação com outros fabricantes de foguetes comerciais e mesmo com os esforços próprios da NASA ao longo de 50 longos anos de iteração e desenvolvimento graduais da mesma tecnologia. Um iPhone quebrou a divisão do telefone da Nokia e da Motorola e definiu a referência para todos os smartphones feitos depois dele. Isto mudou materialmente a maneira como nos comportamos e redefinimos a indústria a ponto da Apple dominar por quase uma década desde o lançamento desse dispositivo.

Os primeiros princípios repensados não apenas criam inovação rápida, mas também reescrevem as regras regentes da economia e a dinâmica do mercado do setor. A inovação muda a linha de base de como a sociedade opera em torno do núcleo da utilidade onde outros inovaram. Neste momento, vemos fortes evidências de inovadores como Alipay, Tencent WeChat, M-Pesa. Eles serão os bancos desafiadores do mundo bancário atual – e outros estão ainda usando elementos dos primeiros princípios, sem pensar em recomeçar do zero de modo a entregar serviços bancários de forma mais eficiente em escala.

Brett King faz uma pergunta simples ao considerar tudo discutido atualmente como tecnologias como IA, assistentes de voz inteligente, integração digital, processos e investimentos robóticos, projeto de experiência comportamental e outros desejos comportamentais: se você estava começando do zero, hoje, construindo um banco a partir de agora, você realmente exigiria os clientes visitarem um edifício, assinarem um pedaço de papel, aguardar para receber seu cartão de débito ou talão de cheques de plástico e obter uma conta bancária? Ou você o construiria de maneira diferente?

Nós já sabemos a resposta. Nenhum banco desafiador do mundo investe mais em construção de rede de agências físicas. Nenhum gigante da tecnologia exige uma assinatura à caneta em lugar de um aplicativo para emprestar dinheiro ou ajudá-lo a economizar. A resposta é clara: você vai definir seu banco, definitivamente, de forma diferente. Então, por que você ainda está fazendo isso, o Bank 1.0, de maneira a apenas oferecer uma conta básica?

O foco agora está na superfície do utilitário bancário, em tempo real, e não em colocar produtos em novos canais. Plataformas bancárias dos próximos 10 anos serão diferenciadas através do uso inovador da tecnologia, experiência e design, aproveitando o efeito de rede e maneiras criativas de explorar o comportamento padrão dos clientes.

O Bank 4.0 é uma mudança de paradigma fundamental na prestação de serviços bancários, incorporado na vida dos clientes, quando e onde eles precisarem desses serviços. O Bank 4.0 trata do surgimento de bancos em toda parte através de capacidades tecnológicas onipresentes.

Novos desafios são:

  1. assessoria em escala através da IA;
  2. receita e relacionamento com base na capacidade de serviço instantâneo;
  3. contas bancárias capazes de ajudarem você a economizar e não o recompensar por gastar;
  4. millennials capazes de rejeitarem crédito e buscar simplesmente uma resposta para seu problema ou pergunta.

Dinheiro não é baseado em papel. Receita não é baseada em papel. Relacionamentos não são baseados em pessoas. Bancos em todos os lugares, mas nunca mais em um banco físico.

O maior “banco” do mundo, no final da próxima década, será fenomenal na entrega de tecnologia. As funções do negócio serão cumpridas em torno da entrega de experiência e não de produtos – essas unidades de negócios fornecerão utilidades para os clientes. Os maiores bancos e instituições financeiras terão alcances e escalas fenomenais, rapidamente baseados em incorporação de uma tecnologia a ser usada por você em todos os dias ou de modo a permitirem “efeito de rede”.

Este é o efeito de um utilizador de um bem ou serviço sobre o valor do produto para outros utilizadores. Quando o efeito de rede estiver presente, o valor de um produto ou serviço depende do número de utilizações de outras pessoas. O exemplo clássico é o telefone. Agora o exemplo é o empréstimo peer-to-peer: da pessoa investidora em finanças diretamente à pessoa investidora em bens e serviços, com uma pequena comissão para a interligação. Isto em economia de escala massiva.

Até o final da próxima década, o maior “banco” do mundo terá perto de três bilhões de clientes em 100 países e valerão quase um trilhão de dólares. Brett King aposta: este “banco” será o Ant Financial e, em 2025, já terá superado o ICBC, o maior banco da China no mundo de hoje, em relação ao número de clientes, ativos, depósitos e mercado capitalização. O Banco Industrial e Comercial da China (ICBC), medido pelo total de ativos, é o maior banco do mundo por ser também o maior banco na República Popular da China, junto com o Banco da China, o Banco Agrícola da China e o Banco da Construção Chinês.

Até 2025, você não estará competindo com outros bancos, estará competindo contra players de tecnologia como Ant Financial e Amazon. Se você ainda estar competindo como banco tradicional, será como enfrentar esses caras com os olhos vendados.

As coisas previstas ficaram reais. Se você não estiver correndo rápido e mudando tudo desde o início, você provavelmente terá alguns anos difíceis pela frente.

Para Brett King, isso torna a história bancária emocionante, interessante, dinâmica e interessante. E se você é um banqueiro adverso ao risco e não vê esse nível de mudança como um fator fundamental de ameaça, você deve começar a procurar outro emprego. Talvez vá trabalhar para a Kodak ou outro antigo sucesso de público… já ultrapassado por inovação.

“Obrigado pela leitura e obrigado por fazer parte do diálogo”, diz Brett King no fim do seu livro. Ele espera você estar pronto para o que vem a seguir, porque está chegando o teste de se você está pronto ou não.

Bem-vindo ao futuro – bem-vindo ao Banco 4.0!

Roteiro do Banco 4.0 publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



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