terça-feira, 26 de novembro de 2019

Economistas a dar com pau…

Binyamin Appelbaum, autor de “Hora dos Economistas” [The Economists’ Hour: How the False Prophets of Free Markets Fractured Our Society], publicado em 2019, afirma: os economistas são um grupo diversificado. Qualquer lista razoável inclui Milton Friedman e Karl Marx, ou seja, a associação de economistas não pode ser definida em termos de apoio a nenhum conjunto específico de políticas. Ao descrever a influência dos economistas nas políticas públicas, Binyamin Appelbaum, autor do livro “A Hora dos Economistas”, está ciente de alguns economistas se opor, vigorosamente, a cada uma das mudanças descritas neste livro. De fato, é bem provável poucos economistas terem apoiado todas as mudanças descritas neste livro.

Ainda Appelbaum acha possível falar de economistas, particularmente nos Estados Unidos na segunda metade do século XX, como uma comunidade homogênea. A maioria dos economistas americanos – e em particular aqueles participantes midiáticos influentes nos debates sobre políticas públicas – ocupavam uma parte estreita do espectro ideológico.

Ora, lá como cá… Economistas midiáticos são conservadores – e “chapa-branca”. Louvam em todos seus artigos O Mercado. Aguardam, em consequência, convites para palestras e consultorias muito bem remuneradas por empresas.

Os economistas americanos às vezes são divididos em dois campos, um dos quais com sede em Chicago e favorecendo os mercados em tudo, enquanto o outro com sede em Cambridge, Massachusetts, e favorecendo a mão pesada do governo. Esses campos são algumas vezes referidos como “água doce” e “água salgada”.

Muito é feito com essas distinções primárias. Os principais membros de ambos os grupos favoreceram as principais mudanças descritas neste livro de Appelbaum. Embora a natureza tenda à entropia, eles compartilhavam a confiança de as economias de mercado tenderem ao equilíbrio. Eles concordaram sobre o objetivo principal da política econômica ser o aumento do valor em dólar da produção econômica do país. Eles tinham pouca paciência com os esforços para combater a desigualdade.

As diferenças entre os economistas norte-americanos liberais e neoliberais eram questões de grau. Embora essas diferenças sejam consequenciais – e sejam descritas nas páginas deste livro resenhado aqui – o grau de consenso também é consequencial.

Críticas ao capitalismo, o ponto principal do debate na Europa, raramente eram ouvidas nos Estados Unidos. A diferença é bem resumida pelo cientista político Jonathan Schlefer: “Cambridge, Inglaterra, via o capitalismo como inerentemente perturbado; Cambridge, Massachusetts, passou a ver o capitalismo apenas como questão de ‘ajuste fino’.”

Com o tempo, o consenso americano mudou também as fronteiras do debate em outros países. Por exemplo, os economistas tupiniquins se submetem, voluntariamente, à lavagem cerebral no centro do Império. Acham a rede de relacionamentos com editores de revistas ranqueadas no Qualis ser benéfica para suas carreiras profissionais.

Portanto, “esqueçam o escrito antes, viva o Primeiro Mundo! O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil!”. Aliás, este discurso de servidão voluntária não é muito diferente do proferido pela casta dos militares, formados na ideologia da Guerra Fria… Insistem, de forma anacrônica, em “lamber as botas” dos de lá… Para ascenderem socialmente, embora sejam esnobados por tal submissão, não têm vergonha. I love you!

As diferenças reais entre liberais e conservadores em questões de política econômica tenderam a obscurecer até que ponto o Partido Democrata e os principais partidos de esquerda de outros países desenvolvidos apoiaram a priorização da eficiência econômica. Os conservadores costumam ser os reformadores mais eficazes no “modo conservador”. Os democratas progressistas se inibem – ou não sabem escolher seus melhores quadros porque abominam a meritocracia.

Mas, nas últimas décadas, à medida que a reforma neoliberal avançava em uma direção conservadora, os liberais da esquerda norte-americana frequentemente lideravam a marcha em direção a objetivos impossíveis de os conservadores alcançarem por conta própria. Nos Estados Unidos, a redução da tributação começou sob Kennedy e a redução da regulamentação começou com Carter. Na Grã-Bretanha, o primeiro-ministro trabalhista James Callaghan declarou mortas as ideias keynesianas em 1976. Na França, o presidente François Mitterrand, socialista, impôs austeridade fiscal para preparar o país para a união monetária com a Alemanha. Snif, snif… é de chorar essa “socialdemocracia” reformista adotar bandeiras da direita e abandonar a esquerda…

O colapso da União Soviética solidificou esse consenso político. A divisão do mundo entre sociedades comunistas e capitalistas foi uma das grandes experiências naturais da história, e os resultados pareciam claros. “A Guerra Fria acabou e a Universidade de Chicago venceu”, exultou o colunista conservador George Will em 1991.

Os líderes dos partidos de esquerda reformista chegaram ao poder na década de 1990, como Bill Clinton nos Estados Unidos e Tony Blair, no Reino Unido, [e FHC em terra tupiniquim] continuou, em grande parte, as políticas econômicas de seus antecessores conservadores. O capitalismo tornou-se um monopolista satisfeito no mercado de ideias, com consequências previsíveis: na ausência de alternativas, era difícil reunir a vontade de lidar com suas deficiências evidentes.

Nos últimos anos do século XX e na primeira década do século atual, a revolução da confiança em O Mercado atingiu seu apogeu. As restrições políticas e sociais sobre o papel de O Mercado foram deixadas de lado. Os governos recuaram dos esforços para regular o mercado, investir na prosperidade futura ou limitar a desigualdade. A importância do crescimento econômico tornou-se a coisa mais próxima de um espírito americano: como o presidente George W. Bush disse à nação após os ataques de 11 de setembro: “Devemos resistir ao terror voltando ao trabalho”. Ueba, lula-lá!

O triunfo da economia de livre mercado é às vezes ilustrado por uma imagem de satélite da península coreana à noite, a metade sul iluminada por eletricidade, a metade norte preta como o oceano circundante. É uma imagem poderosa, mas seu significado sempre foi deturpado. A Coréia do Sul, como outras nações ricas, alcançou a prosperidade ao dirigir cuidadosamente sua economia. Esta é a história de planejamento, em economia de mercado. Ela não aconteceu quando as nações decidiram “tirar as duas mãos do volante”

Economistas a dar com pau… publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



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