Binyamin Appelbaum escreve sobre Economia e Negócios para a página editorial do New York Times. De 2010 a 2019, ele foi correspondente em Washington para o Times, cobrindo a política econômica após a crise de 2008. Ele trabalhou anteriormente para o Washington Post, o Boston Globe e o Charlotte Observer, onde seus relatórios sobre empréstimos subprime ganharam o Prêmio George Polk e foram finalistas do Prêmio Pulitzer. Ele mora com sua esposa e filhos em Washington, DC. Traduzo parcialmente seu último livro recém publicado.
Uma revolução conservadora ocorreu entre os economistas quando a profissão se massificou. Surgiu, nos anos 70, aqueles capazes de acreditar no poder e na glória dos mercados estarem à beira de uma ascensão à influência empresarial e governamental. Transformaria os negócios do governo, a conduta dos negócios e, como resultado, os padrões da vida cotidiana.
À medida que o quarto de século de crescimento seguinte à Segunda Guerra Mundial chegou ao fim na década de 1970, esses economistas convenceram os líderes políticos a reduzir o papel do governo na economia. Passaram a confiar nos mercados serem capazes de produzirem melhores resultados em relação aos burocratas.
A economia é frequentemente chamada de “ciência sombria” por sua insistência em as escolhas serem feitas em trade-off, porque os recursos são limitados. Mas a mensagem real da economia, e a razão de sua popularidade, é a promessa tentadora de ela ajudar a humanidade a afrouxar essas circunstâncias de escassez. Alquimistas prometeram fazer ouro com chumbo; economistas disseram poderem fazê-lo ex nihilo, isto é, do nada criar alguma apenas através de uma melhor formulação de políticas!
Nas quatro décadas entre 1969 e 2008, período chamada por Binyamin Appelbaum de “Hora dos Economistas” [The Economists’ Hour: How the False Prophets of Free Markets Fractured Our Society], publicado em 2019, emprestando uma frase do historiador Thomas McCraw, os economistas desempenharam um papel de liderança na redução de impostos e gastos públicos, desregulamentando grandes setores da economia e limpando o caminho para a globalização.
Os economistas também se tornaram políticos. O número de economistas empregados pelo governo dos EUA aumentou de cerca de dois mil em meados da década de 1950 para mais de seis mil no final da década de 1970.
Os Estados Unidos foram o epicentro do fermento intelectual e o principal laboratório para a tradução de ideias em políticas, mas o abraço dos mercados como a cura para a estagnação econômica foi um fenômeno global, capturando a imaginação dos políticos em países como o Reino Unido, Chile e Indonésia. Os Estados Unidos começaram a eliminar a regulamentação de preços do governo em meados da década de 1970.
Até o maior país comunista do mundo aderiu à revolução. Em setembro de 1985, o líder chinês Zhao Ziyang convidou oito economistas ocidentais proeminentes para um cruzeiro de uma semana no rio Yangtze, com uma grande parte da elite de formuladores de políticas econômicas da China. Mao Zedong havia pregado que considerações econômicas sempre estavam subordinadas a considerações políticas. As discussões daquela semana ajudaram a convencer uma nova geração de líderes chineses a depositar maior fé nos mercados, catalisando a construção da China de sua própria versão de uma economia baseada no mercado, mas planificada: capitalismo de Estado ou socialismo de mercado?
Este livro é uma biografia da revolução conservadora dos economistas ortodoxos. Algumas figuras de destaque são relativamente conhecidas, como Milton Friedman. Ele teve maior influência na vida americana em relação a qualquer outro economista de sua época. Arthur Laffer esboçou uma curva em um guardanapo de coquetel em 1974 e ajudou a fazer cortes de impostos, uma bandeira-de-luta da política econômica republicana. Outros podem ser menos familiares, como Walter Oi, um economista cego que ditou a sua esposa e assistentes alguns dos cálculos que convenceram Nixon a terminar o serviço militar; Alfred Kahn, que desregulamentou as viagens aéreas e se alegrou nas cabines apertadas e lotadas de vôos comerciais como prova de seu sucesso; e Thomas Schelling, um teórico dos jogos que convenceu o governo Kennedy a instalar uma linha direta no Kremlin – e quem descobriu uma maneira de colocar um valor em dólares na vida humana.
Este livro também é um acerto de contas das consequências nefastas das atitudes dos economistas conservadores.
O abraço aos mercados tirou bilhões de pessoas em todo o mundo da extrema pobreza? As nações foram unidas pelos fluxos de bens, dinheiro e ideias, e a maioria das 7,7 bilhões de pessoas no mundo vive uma vida mais rica, saudável e feliz como consequência. Empresários chineses comem salmão do Chile; as crianças na Índia são tratadas com medicamentos fabricados em Israel; Camarões assistem seus compatriotas jogar basquete na NBA. Hoje, a mortalidade infantil é mais baixa em relação a 1950 em todos os países da face da Terra.
Os mercados tornam mais fácil para as pessoas conseguirem o que querem quando querem coisas diferentes, uma virtude particularmente importante nas sociedades pluralistas capazes de valorizarem a diversidade e a liberdade de escolha. Os economistas usaram os mercados para fornecer soluções elegantes para problemas importantes, como fechar um buraco na camada de ozônio e aumentar o suprimento de rins disponíveis para transplante.
Mas a revolução do mercado foi longe demais. Nos Estados Unidos e em outros países desenvolvidos, isso ocorre às custas da igualdade econômica, da saúde da democracia liberal e das gerações futuras.
Os economistas instruíram os formuladores de políticas a se concentrarem em maximizar o crescimento, sem levar em conta a distribuição dos ganhos, isto é, a se concentrar no tamanho da torta e não no tamanho das fatias de cada um. Charles L. Schultze, presidente do Conselho de Assessores Econômicos do presidente Jimmy Carter, disse com cinismo social: os economistas devem lutar por políticas eficientes “mesmo quando o resultado é uma perda significativa de renda para grupos específicos – o que quase sempre ocorre”. Keith Joseph, consultor-chave da primeira-ministra britânica Margaret Thatcher declarou: o Reino Unido precisava de mais milionários e mais falências. “Se queremos reduzir a pobreza neste país e elevar nosso padrão de vida”, disse ele, “precisamos de mais desigualdade do que temos agora”.
A direita imagina a competição pela maior desigualdade, ou seja, estar acima dos outros ser o único instinto humano. Esquece-se de outros instintos básicos: reprodução, sobrevivência e proteção ou cooperação.
A receita conservadora para a prosperidade geral não funcionou. Nos Estados Unidos, o crescimento diminuiu a cada década sucessiva, durante o meio século descrito neste livro, de uma média anual de 3,13% na década de 1960 para 0,94% na década de 2000, ajustando a inflação e a população.
Algumas pessoas ficaram ricas além dos sonhos mais loucos dos conservadores, mas a classe média agora tem motivos para esperar que seus filhos levem vidas menos prósperas.
Hora dos Economistas publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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