sábado, 5 de outubro de 2019

Papel das Agências de Classificação de Crédito na Crise de 2008

Robert Skidelsky no livro “Money and Government: The Past and Future of Economics” (New Haven; Yale University Press; 2018) afirma: as Agências de Classificação de Crédito ou Credit Rating Agencies (CRAs) tornaram-se notórias por conceder classificações AAA para empréstimos bancários logo inadimplidos. Aos derivativos financeiros foram dadas as melhores classificações, embora fossem muito mais arriscadas do que, digamos, títulos de dívida pública com o mesmo endosso. Muitas razões foram apresentadas para esses prospectos falsos das CRAs.

Mas o principal é as agências terem sido pagas pelos próprios emissores de os títulos (os bancos), não pelos investidores. Eram clientes dos bancos.

Essas classificações enganosas contribuíram para a crise. O Banco de Desenvolvimento Asiático ou The Asian Development Bank Institute explica: “O crescimento dos mercados financeiros internacionais nos últimos vinte anos seria impensável sem CRAs. Somente devido à disponibilidade de informações claras, por parte de indicadores internacionalmente aceitos como sinalizadores do risco de inadimplência, os investidores se tornaram dispostos a investir em valores mobiliários internacionais”.

CDOs e outros derivativos eram tão complexos a ponto de os investidores essencialmente se tornaram excessivamente dependentes de agências de classificação de crédito. As agências de classificação também contribuíram para a volatilidade do mercado, atribuindo classificações excessivamente generosas nas subidas das cotações e excessivamente pessimistas nas reversões.

Um enorme volume de títulos foi vendido no Reino Unido, especialmente, de ABSs, MBSs (residenciais e comerciais), CDOs e obrigações de empréstimo garantido (CLOs).

A complexa rede de instrumentos financeiros, criados durante os anos da Grande Moderação, deveria imunizar a autorregulação sistema financeiro do perigo de colapso. Quão errado alguém poderia estar!

Crescimento e queda no setor imobiliário foram centrais para a crise hipotecária subprime dos EUA em 2007, a crise irlandesa de 2010 e a crise espanhola de 2012. Os principais bancos da Bélgica, França, Alemanha, Irlanda, Países Baixos, Suíça e Reino Unido enfrentaram insolvência, pois o preço de seus ativos lastreados em hipotecas caiu abaixo do preço de seus passivos.

A opacidade dos instrumentos financeiros multiplicou as oportunidades de fraude: o decano da probidade financeira, Londres, tornou-se o mundo central de lavagem de dinheiro. Auditores e advogados corruptos foram empregados com grandes salários para esconder dinheiro contaminado em contas especiais.

Como não havia previsão de colapso, nenhuma precaução foi tomada contra. Nenhum pensamento foi dedicado à avaliação das consequências do colapso financeiro e dos resgates bancários para as finanças públicas dos governos. A enorme expansão de déficits orçamentários causados ​​pelo colapso foi a chave para a incapacidade da política fiscal.

O principal erro teórico por trás da securitização foi a suposição de os valores mobiliários serem sempre líquidos: imaginou-se eles sempre poderiam ser vendidos, rapidamente, e sem (muito) perdas.

Sendo assim, a securitização espalha risco pelo sistema; a propagação do risco reduz o risco enfrentado por qualquer instituição individual; isso lhes permite emprestar mais; isso permite o público obter crédito mais e mais barato. E crédito barato foi o substituto do aumento dos salários e da segurança em investimentos financeiros.

A relação entre Teoria, Prática e Política é uma questão perene na Economia Política. No caso bancário, essa relação tornou-se tóxica da maneira como economia neoclássica, desregulamentação e ‘Inovação’ trabalharam em conjunto para precipitar a crise financeira.

A Hipótese de Mercado Eficiente descartava a possibilidade de acontecerem crises financeiras. Os reguladores fecharam os olhos ao aumento do estresse no sistema bancário porque acreditavam nessa Hipótese do Mercado Eficiente.

Os bancos usaram sua nova liberdade de controle para criar cada vez mais instrumentos financeiros opacos na ‘securitização’. Todos os três citados se comprometeram na prestação de serviço à humanidade.

Fora de controle, o sistema financeiro entrou em colapso. Como os bancos são a fonte do crédito da qual a economia depende, a economia entrou em colapso.

Papel das Agências de Classificação de Crédito na Crise de 2008 publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



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