domingo, 27 de outubro de 2019

Wanderley (por Liszt Vieira)

Eu não o conheci, pessoalmente, mas meu amigo Liszt Vieira fala por mim a seu respeito. Eu sempre admirei sua coragem de se posicionar politicamente.

“Conheci o cientista político e professor Wanderley Guilherme dos Santos como aluno do Curso de Ciências Sociais da UFF, nos idos de 1968. Em plena ditadura, às vésperas do AI-5, muitos professores foram afastados da Faculdade Nacional de Filosofia da UFRJ, onde já imperava a censura, e atravessaram a Baía para dar aula de filosofia, sociologia, ciência política e antropologia em Niterói.

Não me lembro se este era o caso do Wanderley, mas recordo muito bem sua proposta de fazer na UFF uma “guerrilha cultural”, pois lá ainda havia então um espaço de liberdade. Recordo uma reunião de representantes de alunos e professores com o Reitor quando Wanderley citou o linguista Roman Jacobson, que, naquela ocasião, eu não sabia quem era, mas o Reitor visivelmente também não sabia.

Culto, inteligente, brilhante, ficou famoso quando publicou seu livro ‘Quem Vai dar o Golpe no Brasil” em 1962, dois anos antes do Golpe Militar de 64. Seu conceito de ‘cidadania regulada’ no livro “Cidadania e Justiça: a política social na ordem brasileira” (1979), tornou-se um marco da sociologia brasileira. Publicou inúmeros livros de análise da conjuntura política, tornando-se uma das principais referências da ciência política no Brasil.

Quando fui candidato a deputado federal em 1986, interessado que estava em participar da Constituinte que produziu a Constituição de 1988, em uma das inúmeras reuniões de campanha com as pessoas que me apoiavam, eis que entra na sala o Wanderley, que para mim era vaca sagrada, sentou-se e participou da reunião como qualquer outro militante que ali se encontrava.

A meu pedido, prefaciou a 1ª. edição do meu livro de memórias da luta contra a ditadura militar “A Busca – Memórias da Resistência”. No atual momento político de regressão às trevas da irracionalidade – a serviço de um mercado dominado por um capitalismo improdutivo controlado por uma lúmpen burguesia, com apoios no aparelho judiciário, nas forças armadas e nas igrejas evangélicas – Wanderley vai fazer muita falta.

Wanderley (por Liszt Vieira) publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



Nenhum comentário:

Postar um comentário