Alex Ribeiro (Valor, 05/06/2020) informa: o peso do lucro dos bancos no spread das operações de crédito cresceu de 17,8% para 21,53% entre 2018 e 2019, mostra o Relatório de Economia Bancária – 2019, divulgado na véspera pelo Banco Central. É o segundo ano seguido de alta desde quando foi adotada uma nova metodologia de decomposição do custo dos empréstimos.
Apontado como o grande vilão no custo do crédito, o peso da inadimplência voltou a cair. Passou de 33,82% do custo do spread para 30,98%, de 2018 para 2019. Dois anos atrás, a contribuição da inadimplência no spread bancário era de 39,23%.
O Banco Central diz que o peso do lucro dos bancos no spread bancário aumentou devido à queda dos juros básicos da economia. As instituições financeiras ainda carregam em seus balanços safras de operações de crédito contratadas com juros mais altos, ao passo que passaram a pagar menos para captar depósitos de seus clientes depois que a taxa Selic caiu a percentuais historicamente baixos.
Quando há uma surpresa na queda de juros, os bancos ganham mais por ter o funding pós-fixado e o crédito prefixado. Quando os juros sobem mais do que o esperado, ocorre o contrário, e os bancos perdem dinheiro.
Além disso, nas novas operações os bancos passaram a direcionar recursos para dois nichos mais rentáveis, o crédito a pequenas e microempresas e a pessoas físicas, depois que as grandes empresas passaram a buscar recursos mais intensamente com a emissão de títulos no mercado de capitais. “Esse é um desdobramento esperado e bem-vindo do aprofundamento do mercado de crédito no Brasil”, disse o diretor de Organização do Sistema Financeiro e Resolução do BC, João Manoel Pinho de Mello.
É possível, porém, que a participação do lucro no spread tenha aumentado simplesmente porque as instituições, de fato, aumentaram as suas margens. O spread médio das concessões a pessoas físicas aumentou de 24,7% para 25,7% entre 2018 e 2019.
O lucro dos bancos era, até 2015, o principal item que pesava no spread bancário, com uma participação de 37,75%. Mas uma mudança na metodologia das estatísticas em 2017 (não houve relatório em 2016) fez com que caísse a apenas 15,15%. O BC passou a calcular o spread a partir de toda a carteira ativa, com base no chamado Indicador de Custo de Crédito (ICC). Antes, o spread era calculado a partir das concessões em cada ano.
Usando esse parâmetro, o spread bancário caiu levemente de 2018 para 2019, de 20,4 pontos percentuais para 20,3 pontos percentuais. À primeira vista, o BCB não está contente com a velocidade. Mas os resultados são muito positivos quando se considera estar havendo uma substituição do crédito direcionado por crédito livre. O spread do crédito livre caiu de 31,1 pontos para 29,5 pontos e, no direcionado, de 8,8 pontos para 8,6 pontos.
O BCB vem argumentando com base em uma hipótese equivocada: os bancos colocam uma margem mais alta no crédito livre para compensar as margens próximas de zero no direcionado. Sua expectativa é, à medida que o direcionado recua e o livre avança, os bancos passem a cobrar uma margem menor no crédito livre.
Os dados do relatório, porém, até agora mostram o contrário: o lucro no crédito livre passou de 3,65 pontos percentuais em 2017 para 4,07 pontos em 2018 e para 4,79 pontos em 2019. Para 2020, a expectativa é uma alta dos spreads bancários, já que os riscos de inadimplência aumentaram com a pandemia do coronavírus.
O Banco Central elevou de 4,8% para 7,6% a sua projeção para o aumento do crédito em 2020. Para o crédito direcionado, a perspectiva foi revista de estabilidade para avanço de 3,5%; no livre, passou de 8,2% para 10,6%.
Relatório de Economia Bancária – 2019 publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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