domingo, 28 de junho de 2020

Canal da Taxa de Juros: Inoperante Durante Fase de Desalavancagem Financeira

Atif Mian e Amir Sufi dizem, no livro “House of debt: how they (and you) caused the Great Recession, and how we can prevent it from happening again” (Chicago; The University of Chicago Press; 2014): aumentar a base monetária não é a única maneira de os banqueiros centrais tentarem estimular a atividade econômica em uma crise. Eles também podem colocar as taxas de juros mais baixas de modo a não estar acima do limite inferior zero.

Por exemplo, durante a Grande Recessão e depois, o Federal Reserve comprou agressivamente títulos lastreados em hipotecas para reduzir as taxas de juros das famílias. A crença era de as taxas mais baixas de hipotecas pendentes e outros empréstimos para consumo, através dos quais as famílias gastariam, impulsionariam a economia.

No entanto, as famílias normalmente com a maior propensão marginal a consumir com empréstimos não podem ou não querem tomar mais emprestado. Lembre-se, em um episódio de perdas alavancadas, os mutuários experimentam um choque maciço com perda de sua riqueza.

Muitos deles estão afogados em dívidas para pagar suas casas ou têm pontuações de crédito muito baixas como resultado de inadimplência. A maioria está desesperada para reconstruir seus balanços, economizando. Evidentemente, a última coisa desejada por eles é dívida adicional.

Mesmo entre aqueles com desejo de tomar mais empréstimos, a maioria ficará de fora do mercado de crédito. Em uma crise, o sistema bancário só empresta àqueles com históricos de crédito intocados.

Embora a taxa de juros das hipotecas de trinta anos tenha caído de 6,5% em julho de 2007 para 3,5% em julho de 2012, os bancos restringiram significativamente o leque de tomadores de empréstimos capazes de se beneficiar das taxas mais baixas. Como resultado, em março de 2012, 70% dos tomadores de empréstimos com uma hipoteca de taxa fixa de trinta anos estavam pagando uma taxa de juros de 5% ou mais, apesar do fato de as taxas de juros de hipotecas de mercado serem de apenas 3,8 %.

[O estoque de crédito concedido antes pode não ter cláusula de reajuste dos juros de acordo com o valor de mercado atualizado. Um recurso seria a portabilidade do crédito imobiliário para outro banco refinanciar com taxa de juro menor.]

Os proprietários endividados não podiam obter taxas mais baixas de hipotecas. Portanto, a política monetária, durante e após a Grande Recessão, era muito menos eficaz.

Para refinanciar uma hipoteca existente, a maioria dos bancos exige o proprietário de uma casa ter um patrimônio substancial em sua casa. Mas quando os preços das casas caíram, o mesmo ocorreu com o patrimônio dos proprietários.

No Arizona, Flórida e Nevada, onde mais de 50% dos proprietários de casas estavam afogados em dívidas, a propensão a refinanciar era a mais baixa do país. Há essa correlação para todos os estados dos Estados Unidos em 2010.

Além disso, quando os proprietários das casas refinanciaram suas hipotecas existentes, durante a Grande Recessão, eles não sacaram dinheiro. De fato, a fração de refinanciamento, quando o proprietário da casa obteve patrimônio adicional, foi menor em 2012 face a qualquer outro momento desde 1993.

A fração de todo o refinanciamento onde o proprietário da casa retirou o dinheiro, durante o boom imobiliário, explodiu, quando os proprietários retiraram o patrimônio de suas casas de forma agressiva. Depois, caíram de 2008 a 2012, mesmo quando o Federal Reserve tentou estimular mais empréstimos com taxas de juros mais baixas.

Durante um cenário de perdas alavancadas, os bancos se recusam a emprestar e as famílias evitam empréstimos. Os mesmos problemas impedem as tentativas dos banqueiros centrais de aumentar a circulação da moeda também frustram sua capacidade de estimular o endividamento das famílias. A política monetária é incapaz de ressuscitar o ciclo da dívida.

 

 

Canal da Taxa de Juros: Inoperante Durante Fase de Desalavancagem Financeira publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



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