Veja o vídeo acima insuflando a volta ao padrão-ouro! Naturalmente, estão “comprados em ouro”, esperando a malta…
Álvaro Campos (Valor, 24/09/19) avalia: com o aumento das turbulências nos mercados financeiros internacionais nos últimos meses e os juros negativos em muitas partes do mundo, um ativo antes meio ofuscado voltou a ganhar brilho recentemente: o ouro. No dia 23/09/19, o ativo fechou em alta de 1,07% em Nova York, a US$ 1.531,50 a onça-troy, perto dos maiores níveis em seis anos, impulsionado pela guerra comercial e renovados sinais de fragilidade na economia da zona do euro.
Recentemente, o Citigroup divulgou relatório afirmando as tensões entre Estados Unidos e China e outras incertezas geopolíticas, como o Brexit e as instabilidades no segmento de petróleo no Oriente Médio, poderem levar o ouro para o patamar recorde de US$ 2 mil a onça-troy nos próximos dois anos.
Além dos contratos futuros de ouro negociados na Bolsa Mercantil de Nova York, os investidores individuais podem apostar no ouro basicamente de outras quatro formas:
- metal físico;
- Exchange Traded Commodities (ETC), uma espécie de fundo negociado em bolsa (ETF) para acompanhar a cotação do mercado à vista;
- ações de mineradoras; e
- fundos investidores no metal, oferecidos por grandes bancos e gestoras.
Além de ativo financeiro, outra importante função do ouro é como reserva de valor. Segundo o World Gold Council, entidade internacional divulgadora de dados sobre o setor, a demanda pelo metal cresceu na primeira metade deste ano e deve continuar positiva nos próximos meses, puxada inclusive pelos bancos centrais. Grandes países da Europa e os Estados Unidos mantêm mais de 60% das suas reservas internacionais em ouro.
No Brasil, essa proporção é insignificante — menos de 1% — mas ainda assim são 67,4 toneladas do metal. Valem cerca de US$ 3,1 bilhões. Mas onde está guardado esse tesouro? Essa é uma pergunta para a qual poucas pessoas no Brasil têm a resposta, nem mesmo ex-diretores do BC. Ele é a instituição administradora das reservas.
Por motivos de segurança, obviamente, o BC não revela onde está o ouro. A Lei 4.595, de 1964, diz competir privativamente ao órgão “ser depositário das reservas oficiais de ouro e moeda estrangeira”. Uma brochura educativa da autoridade, editada em 2002, afirma: “uma parte dessas reservas é guardada nos cofres do Banco Central, na forma de barras ou lingotes de ouro e em moedas e cédulas estrangeiras, protegidas por modernos sistemas de segurança. Outra parte da reserva, a mais importante, o Banco Central deposita em bancos no exterior e essas reservas rendem juros para o país”.
Há relatos de um cofre bem protegido no subsolo da sede do BC em Brasília, mas poucas pessoas sabem detalhes. Informações mais específicas sobre o assunto ficam restritas a um pequeno punhado de servidores técnicos. Outra instituição com forte esquema de segurança é a Casa da Moeda, no Rio de Janeiro. Procurada pelo Valor, a instituição afirmou que não guarda nada do ouro das reservas internacionais e que seus cofres praticamente não armazenam o metal.
No cenário global, os principais estoques físicos de ouro estão na sede do Federal Reserve (o banco central dos Estados Unidos) de Nova York e no Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês). Ambos prestam serviços de custódia para agentes internacionais, incluindo dezenas de outros bancos centrais. Questionados pela reportagem, eles não puderam confirmar se mantêm ouro brasileiro.
O cofre do Fed de Nova York fica na sede do banco, no distrito financeiro de Manhattan. Localizado no subsolo do prédio, construído na década de 1920, boa parte do ouro contido no local chegou durante e logo após a Segunda Guerra Mundial, com muitos países procurando um local seguro para guardar esse ativo. No pico, alcançado em 1973, chegou a conter mais de 12 mil toneladas de ouro. Hoje, são cerca de 6,2 mil toneladas, com um valor de mercado de quase US$ 205 bilhões. São 36 clientes e nenhuma barra ali pertence ao governo dos EUA. O banco não cobra dos donos das barras pelo depósito.
O cofre é aberto à visitação pública. Como as barras de ouro são grandes e pesadas e não é possível raspá-las com a mão, seria difícil alguém tentar furtar uma peça escondida na roupa, por exemplo. Há relatos de um segundo cofre, menor, também mantido pelo Fed de Nova York. Documentos antigos da instituição fazem menção a um “cofre auxiliar”, mas não há nenhum detalhe sobre a localização. Curiosamente, o maior cofre de um banco privado do mundo, do J.P. Morgan Chase, fica do outro lado da rua, literalmente, também no quinto subsolo.
Já o Banco da Inglaterra afirma seus cofres conterem quase 400 mil barras de ouro, cerca de 5 mil toneladas, divididas em nove compartimentos no subsolo da sua sede, na City londrina. A instituição diz que nunca foi roubada em seus mais de 320 anos de história. O próprio site do BoE, no entanto, conta uma história de uma vez em que isso quase aconteceu.
Em 1836, os diretores do banco receberam uma carta anônima de alguém dizendo ter acesso ao depósito de ouro e oferecendo para se encontrar com eles dentro do cofre. O encontro foi marcado e, em uma noite, os diretores se encaminharam ao local e viram um homem surgir de um buraco no solo. Tratava-se de um funcionário da companhia de esgoto. Ele, durante um trabalho de manutenção, descobriu uma tubulação antiga dando acesso ao local. Apesar do choque inicial, uma contagem minuciosa do estoque revelou nada ter sido roubado. Por sua honestidade, o BoE lhe concedeu um prêmio de 800 libras.
Em janeiro deste ano, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, tentou retirar quase US$ 1,2 bilhão em ouro do seu país depositado no BC inglês. Entretanto, a pressão americana fez as autoridades inglesas negarem o pedido, já que o regime de Maduro enfrenta diversas sanções internacionais. Em 2011, a Venezuela já havia retirado US$ 11 bilhões em ouro do BoE e de outros depositários. A repatriação levou alguns meses e foram necessários 23 voos para transportar 160 toneladas do metal.
O terceiro maior depósito de ouro do mundo é o cofre de Fort Knox, na cidade homônima, em Kentucky (EUA). É ali que está boa parte das reservas americanas, quase 4,5 mil toneladas. O local ganhou fama na década de 1960, quando foi lançado o filme “007 contra Goldfinger”, onde vilões tentam roubar o complexo. Além de ouro, o cofre já guardou outros itens de grande valor, como a declaração de independência dos EUA e a coroa de Santo Estêvão, rei da Hungria no início do século XI.
O depósito foi construído em 1936, depois de o presidente Franklin D. Roosevelt ter emitido a ordem executiva 6.102. Ele proibiu a propriedade privada de moedas, barras e certificados de ouro pelos cidadãos, forçando-os a vendê-los para o Federal Reserve. O edifício fica dentro de um complexo militar e é uma fortaleza protegida por paredes de granito sólido e uma porta que pesa 22 toneladas. O cofre só foi aberto para pessoas de fora duas vezes, em 1974 e 2017.
Fora o ouro pertencente ao governo, é impossível quantificar o estoque em mãos privadas no Brasil. Ainda assim, dá para inferir onde as maiores reservas estariam guardadas. Para uma pessoa física, comprar uma barra de ouro não é tão simples, mas possível. São poucos os bancos e corretoras que ainda vendem barras e lingotes.
Uma das principais instituições a vender ouro físico, o Banco do Brasil informou ter deixado de oferecer o serviço em março de 2019, passando a vender apenas o metal na forma escritural. Questionada sobre o motivo da mudança, o banco disse a forma escritural “tornar o investimento mais atrativo, uma vez que o cliente não precisa mais pagar, como investimento mínimo, o valor referente a 250 gramas.
Ouro escritural é a modalidade onde não há vinculação do lastro a barras de ouro específicas. No entanto, o BB afirma possuir sim o lastro físico em custódia para todas as operações realizadas com seus clientes. Por essa custódia, é cobrada uma taxa de 0,15% ao mês.
O BB também é o único depositário de ouro para os contratos futuros do metal negociados na B3. No site da bolsa, um dos endereços fornecidos para o depositário é um prédio do BB na avenida São João, no centro da São Paulo. Construído nos anos 1940, o edifício tem três subsolos, mas o banco não confirma se há um cofre de ouro ali.
O Banco Paulista, um dos poucos que atuava com ouro físico, também deixou de operar nessa área recentemente.
Outro grande player no cenário de ouro físico – embora não em barras – no Brasil é a Caixa, porque o banco tem o monopólio do mercado de penhor, quando alguém entrega uma joia ou outro objeto valioso em troca de um empréstimo. O crédito tem prazo máximo de 180 dias e pode ser renovado. Se os itens não são reclamados, a Caixa espera 30 dias e depois os leiloa em seu site. Atualmente, são 609 mil clientes ativos nessa modalidade.
Segundo relatos, apesar de uma parte das joias estar armazenada nas agências e polos regionais, o grosso é transportado para três super-cofres, no Rio de Janeiro, Curitiba e Porto Alegre.
Corretoras atuantes com ouro físico dizem preferir manter um estoque pequeno de barras, por motivos de segurança. Este ano, houve um aumento de 30% na demanda, tanto de investidores quanto de pessoas com desejo de presentear alguém com uma barrinha. Coisa simples, né?
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Em busca de inflar uma Bolha de Ativos publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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