Como mencionado por Ray Dalio, no livro Economic Principles (2015), os atores econômicos descritos anteriormente compram e vendem 1) bens e serviços e 2) recursos financeiros ativos e podem pagar por eles com 1) dinheiro ou 2) crédito.
Em um sistema de mercado, essa troca ocorre por livre escolha, ou seja, existem “mercados livres” nos quais compradores e vendedores de bens, serviços e ativos financeiros fazem suas transações em busca de seus próprios interesses. A produção e compras de ativos financeiros (isto é, empréstimos e investimentos) são chamados de “formação de capital”.
Isso ocorre porque o comprador e o vendedor desses ativos financeiros acreditam a transação ser boa para eles. Aqueles com dinheiro e crédito fornecem aos destinatários em troca das “promessas” dos destinatários para pagar-lhes mais.
Então, para esse processo funcionar bem, deve haver um grande número de provedores de capital capazes, ou seja, investidores / credores optantes por doar dinheiro e crédito a um grande número de receptores e concessores de capital (mutuários e mutuantes) em troca da afirmações confiáveis dos destinatários de eles garantirem a devolução das quantias em dinheiro concedidas como crédito em valor nominal superior ao concedido, devido à remuneração em juros.
Embora a quantidade de dinheiro existente seja controlada pelos Bancos Centrais, a quantidade de crédito em estoque (saldo) pode ser criada do nada, ou seja, bastam duas partes dispostas a aceitar ou concordar em fazer uma transação a crédito, embora isso seja influenciado pelas políticas do banco central. Em bolhas, mais crédito é criado em relação ao possível de ser pago mais tarde. Isto cria crashes.
Quando ocorrem contrações de capital, também ocorrem contrações econômicas, ou seja, não há dinheiro e/ou crédito suficientes para manter os gastos em bens, serviços e ativos financeiros. Essas contrações geralmente ocorrem de duas formas. São mais comumente conhecidos como recessões (contrações dentro de um ciclo de dívida de curto prazo) e depressões (contrações dentro de uma desalavancagem financeira).
As recessões são tipicamente bem compreendidas porque acontecem com frequência e muitos de nós já as experimentamos, enquanto depressões e desalavancagens são tipicamente pouco compreendidas, porque acontecem com pouca frequência e não são amplamente experimentadas.
Um ciclo de dívida de curto prazo (comumente chamado de ciclo de negócios) decorre de:
- a) a taxa de crescimento dos gastos, ou seja, o total de dólares financiados pelas taxas de crescimento em dinheiro e crédito, é mais rápida se comparada à taxa de crescimento na capacidade de produzir (ou seja, Q total), levando ao preço (P) aumentar até:
- b) a taxa de crescimento dos gastos ser limitada por dinheiro e crédito escassos, momento quando ocorre uma recessão.
Em outras palavras, uma recessão é um fator econômico em contração devido a uma contração no crescimento da dívida do setor privado, decorrente da política rígida do Banco Central, geralmente para combater a inflação. Ela termina quando o banco central diminui o fator recessionista.
As recessões terminam quando os bancos centrais diminuem taxas de juros para estimular a demanda por bens e serviços e o crescimento do crédito. Este financia essas compras, porque taxas de juros mais baixas:
1) reduzem os custos do serviço da dívida;
2) representam pagamentos mensais mais baixos, de fato, barateando os custos de itens comprados a crédito, o que estimula a demanda por eles; e
3) elevam os preços da produção de ativos como ações, títulos e imóveis através do efeito do maior valor presente pelo desconto de seus fluxos de caixa esperados a taxas de juros mais baixas, produzindo um “efeito riqueza” nos gastos.
Em contraste:
Um ciclo de dívida de longo prazo surge de dívidas aumentando mais rapidamente face às receitas e ao dinheiro, até isso não poder continuar, porque os custos do serviço da dívida se tornam excessivos, geralmente porque as taxas de juros não podem mais ser reduzidas.
Uma desalavancagem é o processo de redução do ônus da dívida, isto é, do montante da dívida e do serviço da dívida em relação à renda do devedor.
As desalavancagens geralmente terminam por meio de um mix de:
1) redução da dívida,
2) austeridade,
3) redistribuição da riqueza e
4) monetização da dívida.
Uma depressão é a fase de contração econômica absolura durante uma desalavancagem. Isso ocorre porque a contração da dívida do setor privado não pode ser retificada pelo Banco Central, reduzindo o custo do dinheiro. Nas depressões:
- a) um grande número de devedores tem obrigação de entregar mais dinheiro do que precisa para cumprir seus compromissos, e
- b) a política monetária é ineficaz na redução dos custos do serviço da dívida e no estímulo ao crescimento do crédito.
Normalmente, a política monetária é ineficaz em estimular o crescimento do crédito, porque as taxas de juros não podem ser mais abaixadas, porque as taxas de juros já estão próximas de 0%. Isso ocorre a ponto de influenciar favoravelmente a redução de gastos e o corte da formação de capital, produzindo desalavancagens deflacionárias. Ou o crescimento monetário pode contribuir para a compra de hedge de inflação em vez de crescimento do crédito, o que produz desalavancagens inflacionárias.
Depressões são normalmente terminadas por bancos centrais imprimirem dinheiro para monetizar dívidas em montantes tais de modo a compensar a deflação ou os efeitos depressivos provocados por redução da dívida e austeridade.
Para ser claro, enquanto as depressões constituem a fase de contração de uma desalavancagem, esta redução de encargos da dívida pode ocorrer sem depressões se for bem gerenciada.
As diferenças estão em como os governos se comportam em recessões ou em desalavancagens. Essas são boas pistas para sinalizar qual delas está acontecendo.
Por exemplo, nas desalavancagens, os Bancos Centrais tipicamente “imprimem” o dinheiro usado para comprar grandes quantidades de ativos financeiros e compensar a queda no crédito do setor privado, enquanto essas ações são inéditas nas recessões. Além disso, nas desalavancagens, os governos centrais geralmente gastam muito, muito mais para compensar a queda nos gastos do setor privado.
Como o sistema baseado no mercado funciona publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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