Laura Noonan e Stephen Morris (Financial Times, de Nova York e Londres 20/10/2020) informam: Citigroup, J.P. Morgan Chase e Bank of America têm avisado seu pessoal de as bonificações salariais não acompanharão os desempenhos estelares vistos em áreas como a de renda fixa e de subscrição de bônus e ações, preparando o terreno para o que deverá ser uma diferença recorde entre o nível dos lucros e o dos pacotes salariais.
Altos executivos da área de banco de investimento de dois bancos disseram ao “Financial Times” que vinham tentando “administrar as expectativas” quanto aos bônus salariais relativos a 2020 ressaltando aos funcionários que as operações como um todo tiveram que contabilizar gigantescos encargos para perdas com empréstimos, em preparação para um aumento na inadimplência diante do impacto avassalador da pandemia da covid-19 nas economias mundiais.
Um executivo sênior de outro dos três bancos disse que as bonificações são um “problema imenso” com o qual estão precisando lidar, uma vez que a firma tenta equilibrar a recompensa a quem teve bons resultados com a necessidade de que sejam “bons cidadãos”. Trata-se de um ambiente no qual políticos e órgãos supervisores têm restringido pagamentos aos acionistas, de forma a que os bancos tenham uma reserva para possíveis perdas com créditos.
A cada ano, os bancos de investimento andam sobre uma linha tênue na questão da remuneração, uma vez que seus dirigentes precisam equilibrar, por um lado, as expectativas de operadores e executivos e, por outro, as exigências dos investidores para que controlem custos e a indignação do público com executivos já milionários ficando ainda mais ricos. O desafio neste ano, contudo, ficou mais complicado do que o usual.
“Esta é a primeira vez desde a crise financeira que tivemos uma diferença tão drástica entre [os diversos] departamentos dos grandes bancos”, disse Alan Johnson, fundador da firma nova-iorquina de consultoria sobre remuneração Johnson & Associates, referindo-se à lacuna entre o desempenho das operações de varejo dos bancos e o das divisões de corretagem e de assessoria.
Os lucros como um todo do Citigroup, J.P. Morgan e Bank of America foram prejudicados por encargos combinados de US$ 48 bilhões nos primeiros nove meses do ano para cobrir perdas de crédito. É mais que o triplo do que haviam reservado no mesmo período de 2019.
Por outro lado, os três bancos tiveram grandes aumentos na receita de partes de sua área de banco de investimento. Houve crescimentos de 54% e de 42% nas receitas com operações de renda fixa do J.P. Morgan Chase e do Citigroup, respectivamente. A subscrição de títulos de dívida e de ações também teve fortes ganhos.
Johnson disse que a questão da remuneração será menos polêmica no Morgan Stanley e no Goldman Sachs porque eles não tiveram tanta exposição a perdas de crédito com o coronavírus quanto os grandes bancos que atuam mais com crédito. Morgan Stanley e Goldman Sachs, somados, contabilizaram encargos de US$ 3,5 bilhões para perdas de crédito.
Uma fonte a par da estratégia do J.P. Morgan disse que o banco continuará “altamente competitivo” em termos de remuneração dos funcionários, mas que seria um “pensamento tolo, indisciplinado e de curto prazo fazer pagamentos exagerados quando as expectativas de médio a longo prazo [a respeito da economia como um todo] ainda estão incertas”.
O executivo-chefe do J.P. Morgan, Jamie Dimon, alertou para o risco de que seu banco possa acabar com encargos desnecessários de US$ 10 bilhões, “se ocorrerem os melhores cenários”, ou insuficientes em US$ 20 bilhões, se os EUA tiverem uma recessão com dupla recaída.
No Citigroup, um executivo disse: os recursos alocados para bonificações poderiam diminuir em certas áreas em que o lucro subiu, mas que o banco tem a preocupação de não perder o compasso em relação aos concorrentes. No Bank of America, um executivo disse que as decisões finais sobre os pagamentos não serão tomadas até o fim do ano, mas que o banco começou a “amaciar as pessoas”, preparando-as para bônus salariais mais baixos.
“É sensato sinalizar isso [bônus mais baixos] agora (…). Se seu lucro subir 50%, provavelmente os bônus subirão 25%”, disse Johnson, acrescentando que as bonificações provavelmente serão bem maiores na renda fixa, não tão maiores na renda variável e menores na assessoria a fusões e aquisições, cuja receita está mais baixa do que em 2019, depois de as transações terem ficado congeladas nos primeiros meses da pandemia.
Um executivo do Goldman Sachs disse que o banco pagaria com base no desempenho, como faz em todos os anos. Um executivo do Morgan Stanley disse que quem se saiu bem, será pago, mas que o grupo diferenciará entre as pessoas que agregaram valor e as que tiveram grandes aumentos nas receitas em razão dos mercados favoráveis. Os grandes volumes de compras de títulos de dívida pelo Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) disseminaram por Wall Street uma profusão de grandes comissões para certas áreas da renda fixa.
Bancos de investimento europeus, como Credit Suisse e o Barclays, têm debatido os mesmos problemas e seus executivos se mostram receosos em liberar grandes volumes de dinheiro para bônus salariais quando ainda não há garantia de que os órgãos supervisores permitirão retomar a distribuição de dinheiro aos acionistas em 2021, segundo fontes.
“Parece-me simples, os bônus serão fracos”, disse um diretor-gerente em Londres. “Se os bancos não podem pagar dividendos, então grandes bônus serão difíceis ou quase impossíveis.”
Os “melhores dos melhores” que ficarem insatisfeitos com seus pacotes salariais podem “sem dúvida” mudar-se para outro banco ou fundo hedge, mas que os “bons e na média” terão poucas opções no atual cenário. Os cinco bancos não quiseram comentar o assunto.
Sociedade dos Executivos em Crise: Menor Bonificação / Lucros Bancários publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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