sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Breve Popularidade do Populista de Direita

Ana Conceição (Valor, 09/11/2020) informa: em 2021, terminados os pagamentos do auxílio emergencial e do BEm, programa de estímulo à manutenção do emprego, o país deve experimentar uma “ressaca” da massa de renda. Junto com outros fatores, como as incertezas quanto ao equilíbrio fiscal, isso tende a frear uma retomada mais forte da economia.

Uma hipótese equivocada do incompetente desgoverno atual aponta: os brasileiros expulsos do mercado de trabalho poderiam seguir em 2021 sem o auxílio emergencial, cujo fim não prejudicaria a retomada da economia. Com o relaxamento maior do isolamento, essas pessoas poderiam voltar ao mercado e encontrar uma ocupação.

Essa hipótese relembra um conceito ultrapassado de Milton Friedman da velha Escola de Chicago monetarista: a “renda permanente”, de onde resultaria o Efeito Saldo Real. A renda média efetiva do brasileiro estaria se aproximando da renda habitual, segundo o governo. Ele cita dados da Pnad Contínua.

Estudo feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) com base nos microdados de outra pesquisa do IBGE, a Pnad Covid, mostra, de fato, em agosto, a renda média efetiva foi equivalente a 89,4% da renda habitual, parcela 2,3 pontos percentuais maior se comparada à de julho.

Os trabalhadores por conta própria receberam efetivamente apenas 76,7% do antes habitualmente recebido (contra 72% em julho) e os do setor privado sem carteira assinada receberam efetivamente 86,1% do habitual. Trabalhadores do setor privado com carteira e funcionários públicos, por sua vez, receberam efetivamente em média 95% do habitual.

Economistas, contudo, afirmam: a renda média não é o melhor indicador para avaliar a necessidade ou não de continuar com o auxílio e seu eventual impacto na atividade. Esse papel é da massa de rendimentos, aquela que deve ter uma ressaca em 2021.

A Pnad só pergunta a renda de quem está ocupado. E 10 milhões de pessoas perderam o emprego na pandemia, estão com zero renda e não entram nesse cálculo da diferença de renda efetiva e habitual. A volta do emprego não será rápida o suficiente para absorver toda a mão de obra que deve voltar ao mercado ao fim do auxílio e das medidas de isolamento.

As análises levando em conta apenas a renda média são problemáticas, em especial nos momentos de crise. No caso da pandemia, a renda habitual e a efetiva têm crescido por causa de um caráter regressivo, ou seja, a queda das ocupações foi maior entre os informais. Eles têm salário menor, elevando o rendimento médio. É complicado fazer comparações por causa desse efeito composição.

O dado realmente a retratar melhor a situação do mercado de trabalho é a massa de rendimentos. Mas para efeito de continuidade do auxílio emergencial deve ser levado em consideração existir um enorme contingente de pessoas simplesmente sem trabalho nem renda.

Com o fim do auxílio, vai haver um efeito ressaca da renda, ou seja, uma forte queda da massa de renda total. Isso especialmente nas regiões e parcelas da população mais pobres. Isto terá consequência política sobre a popularidade do populista de direita disposto a comprar votos para sua reeleição em 2022.

Segundo estimativa da Tendências, depois de crescer 4,5% em 2020, a massa de renda ampliada deve cair 4,3% em 2021. No Norte e no Nordeste, a queda vai ser muito maior, de 10,8% e 12,3%, respectivamente. Nessas regiões, o desemprego é maior e há mais dependência do auxílio. A massa de renda ampliada considera trabalho, Previdência, Bolsa Família, aluguéis, seguro-desemprego e outras fontes.

Assim, as pessoas quando pararem de receber o auxílio devem voltar ao mercado de trabalho, o que deve elevar a taxa de desemprego em 2021, a despeito do aumento estimado de 5,5% na população ocupada, após queda de 7,2% neste ano. Em outras palavras, a recuperação da economia – a Tendências estima alta de 2,9% do PIB no próximo ano – vai criar empregos, mas não em número suficiente para ocupar todos as pessoas que voltarem ao mercado.

Em 2020, considerando a redução no valor do auxílio emergencial e os efeitos negativos da pandemia no mercado de trabalho, a massa total não deve sustentar, até o fim deste ano, o mesmo patamar dos meses anteriores.

Já em 2021, a massa deve cair com o fim dos repasses emergenciais, pois, a despeito da expectativa de reestruturação do Bolsa Família em um novo programa social, a gradual retomada das ocupações entre a população economicamente mais vulnerável do país não será suficiente para garantir a manutenção dos rendimentos do ano anterior.

Breve Popularidade do Populista de Direita publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



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