quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Petrobras paga Dividendos aos Acionistas mesmo com Prejuízo

André Ramalho e Gabriela Ruddy (Valor, 30/10/2020) informam: o novo plano de negócios da Petrobras deve preservar a atual curva de produção da companhia para os próximos anos, apesar do corte de investimentos previsto. A empresa anunciará os detalhes do novo planejamento estratégico 2021-2024 daqui a um mês, mas já vem dando algumas sinalizações do que pode vir pela frente.

Durante teleconferência com analistas, antecipou: a meta de produção do plano em vigor, para 2024, será mantida. O plano 2020-2024, sob revisão, prevê crescimento dos volumes de óleo e gás produzidos de uma média de 2,9 milhões de barris de óleo equivalentes por dia (BOE/dia) em 2021 para 3,5 milhões de BOE/dia em 2024.

Em setembro, a Petrobras anunciou: os investimentos em exploração e produção, o seu carro-chefe, serão reduzidos para entre US$ 40 bilhões e US$ 50 bilhões no período 2021-2025, frente aos US$ 64 bilhões previstos no plano 2020- 2024. Para isso, a estatal aposta em três frentes:

  1. otimização dos investimentos em exploração;
  2. inclusão de novos ativos na carteira de desinvestimentos; e
  3. a revisão do portfólio de projetos (a partir de postergações, otimizações, efeitos do câmbio e até mesmo eventuais cancelamentos).

No relatório dos resultados do terceiro trimestre, a empresa indicou 12 novas plataformas devem entrar em operação até 2025. Apesar do foco no pré-sal da Bacia de Santos, a companhia sinalizou que deve continuar a investir também na Bacia de Campos – na carteira de projetos, estão previstos investimentos em Marlim e Parque das Baleias.

Os projetos para renovação da Bacia de Campos são muito resilientes a preços baixos… Vai continuar a investir na bacia.

Como parte da revisão do plano de negócios, a carteira de portfólio de projetos da empresa foi submetida a um “teste de estresse”. A intenção da petroleira é manter apenas os projetos capazes de sustentarem o retorno ao preço US$ 35 por barril. Os detalhes do novo plano ainda não foram divulgados, mas o cronograma de projetos informado no balanço da companhia aponta para algumas postergações.

Dos projetos previstos no plano 2020-2024, as plataformas a operar em águas profundas de Sergipe, projetada até então para 2024, e no projeto de revitalização do campo de Tupi (previsto para 2022) saíram do horizonte até 2025. A estatal informou que a unidade P-71, que estava prevista para operar em Tupi, por exemplo, foi deslocada para o campo de Itapu, também no pré-sal, e que um novo plano de desenvolvimento será apresentado para a área em 2021, com iniciativas para aumentar o fator de recuperação do campo.

Por outro lado, a Petrobras espera colocar duas novas plataformas no campo de Búzios que não estavam, até então, contempladas no plano 2020-2024.

O novo plano deverá trazer também a remodelação da estratégia da petroleira para o setor de energia elétrica. A companhia tem hoje 29 termelétricas, das quais 16 estão à venda. Está estudando qual vai ser o modelo para as usinas remanescentes.

A Petrobras ainda não decidiu se distribuirá ou não dividendos e juros sobre capital próprio (JCP) relativos a 2020, embora tenha sinalizado ao mercado que poderá fazer pagamentos mesmo se fechar o ano com prejuízo. A diretora financeira da companhia disse a empresa ainda monitorará as condições do mercado, antes de decidir sobre a remuneração dos investidores, mas manterá o foco no corte da dívida e trabalhará, se possível, para antecipar a meta de redução do endividamento.

Não vai fazer nada para atrapalhar a chegada na meta de redução da dívida bruta para menos de US$ 60 bilhões em 2022 e vai trabalhar, se possível, para chegar à meta até antes.

A petroleira mudou esta semana as regras de remuneração aos acionistas e passou a atrelar os pagamentos não mais ao lucro contábil, mas sim à geração de caixa da empresa – variável capaz de reproduzir melhor o operacional. Pelos novos critérios, a Petrobras poderá distribuir dividendos e JCP mesmo em anos de prejuízo, se a dívida líquida estiver em queda nos doze meses anteriores e caso a empresa entenda sua sustentabilidade financeira ser preservada.

Em ano adverso para a indústria petrolífera, a estatal acumula em 2020 prejuízo praticamente irreversível, de R$ 52,78 bilhões – muito impactado pela baixa contábil de R$ 65,3 bilhões anunciada no primeiro trimestre, devido à perda no valor de ativos e investimentos (“impairments”).

Apesar disso, a empresa vem dando passos importantes na redução da dívida. A Petrobras fechou setembro com endividamento bruto de US$ 79,6 bilhões, corte de 12,8% frente ao segundo trimestre. Já a dívida líquida, referência para a decisão de distribuir ou não dividendos e JCP em anos de prejuízo, recuou 7% na mesma base de comparação, para US$ 66,2 bilhões.

Há espaço, portanto, para a empresa anunciar dividendos e JCP relativos ao exercício de 2020. A estatal, no entanto, preferiu aguardar.

Segundo uma fonte da petroleira, a expectativa é a companhia esperar até o fim do ano para ter mais clareza sobre as condições do mercado. Dadas as incertezas que ainda pairam sobre o setor, o preço do petróleo convive nos últimos dias com uma nova desvalorização, cotado a US$ 38 o barril, ainda tem dificuldades para imaginar quando a companhia conseguirá chegar a um patamar de “caixa ótimo”. A estatal fechou setembro com caixa de US$ 13,4 bilhões, mas indicou haver espaço para reduzir o nível.

O presidente da empresa, Roberto Castello Branco, conta: a mudança nas regras da remuneração aos acionistas não altera a estratégia de alocação de capital da companhia. “Não vamos nos endividar para pagar dividendos”, afirmou o executivo.

Ele classificou como “maldosas e sem fundamento” as especulações de a companhia ter mudado as regras por ingerência da União, acionista controlador que passa por necessidade de receitas. “O que o governo recebe em dividendos é uma gota no oceano frente ao que recebe com royalties e impostos”, disse.

A Petrobras conta não só com o desempenho operacional, mas também com as receitas oriundas do programa de desinvestimentos para atingir a meta de redução da dívida para menos de US$ 60 bilhões. A partir desse patamar, a empresa passará a pagar valores acima do mínimo obrigatório, por meio de uma fórmula que prevê a distribuição de 60% da diferença entre o fluxo de caixa operacional e os investimentos.

Em 2020, os desinvestimentos atrasaram, devido aos efeitos da pandemia. A empresa recebeu US$ 1 bilhão pela venda de ativos no ano, mas espera ver o número crescer daqui para frente.

Castello Branco acredita: “muitos negócios” serão fechados até o primeiro semestre de 2021. A Petrobras, por exemplo, espera assinar ainda neste ano a venda da Refinaria Landulpho Alves (Rlam/BA), em fase final de negociação com o fundo Mubadala. No momento a empresa tem dez transações assinadas, pendentes de conclusão, e 32 processos em fase vinculante.

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