sábado, 12 de setembro de 2020

Automação na Automotiva

Marli Olmos (Valor, 31/08/2020) informa: desde que construiu uma fábrica em Piracicaba (SP), há oito anos, o grupo coreano Hyundai decidiu investir fortemente em automação. Por isso, agora, com a crise, enfrenta menos problemas de excesso de mão de obra do que a maioria dos seus concorrentes.

Em 2019, cada funcionário da indústria automotiva foi, em média, responsável pela produção de 27,6 veículos. Os 106,7 mil trabalhadores montaram 2,95 milhões de unidades. Com 2,8 mil empregados, a Hyundai conseguiu mais do que o dobro – seu índice foi de 72,8, somando 203.686 veículos. Os concorrentes mais diretos não passaram de 45 por trabalhador.

Passada a fase de paralisação das linhas de montagem, por conta da pandemia, a Hyundai foi, agora, a única montadora a voltar a trabalhar em três turnos. Em agosto, a fábrica de Piracicaba funcionou com 90% da sua capacidade, segundo o vice-presidente da companhia, Ricardo Martins.

Isso não significa que a marca coreana não sofre com a crise. No primeiro semestre, os volumes recuaram 37%. Em 26 de março, a empresa concedeu férias coletivas. No fim de abril, iniciou um revezamento de afastamento das equipes por meio de “layoff” (suspensão temporária dos contratos de trabalho). Mas, em agosto, a produção voltou com três turnos enquanto outros fabricantes reduziram o número de turmas.

“Sentimos que parte das vendas de hoje representa a demanda reprimida no início da pandemia”, diz Martins, engenheiro eletrônico que trabalha na Hyundai desde a véspera da inauguração da fábrica. Em abril de 2019, ele assumiu a vice-presidência administrativa e é também o porta-voz da companhia. Na presidência da operação está o coreano Eduardo Jin.

A fábrica de Piracicaba, cuja construção absorveu US$ 700 milhões, deu um passo importante para elevar a automação em março de 2019. Com o mercado brasileiro em ascensão, foram investidos R$ 125 milhões para ampliar a capacidade de 180 mil para 210 mil veículos por ano.

Além de abrir mais 700 vagas, a montadora adquiriu novos equipamentos, incluindo robôs, sobretudo para solda e pintura. Os ganhos de eficiência elevaram de 36 para 42 veículos produzidos por hora. Posteriormente, a empresa investiu mais R$ 225 milhões para renovar a linha de produtos.

Segundo Martins, o nível de automação em Piracicaba começou com 65% e foi crescendo gradativamente até chegar, hoje, a 85%. “É o mesmo da Coreia”, diz. Segundo ele, faz parte da estratégia da companhia buscar índices de automação homogêneos em todas as fábricas do mundo”.

Outra particularidade da Hyundai que a ajuda em momentos de crise é a linha de produtos modesta. Dois modelos são produzidos em Piracicaba – o compacto HB 20, segundo carro mais vendido no país, e o utilitário esportivo Creta. Com 8,46% do mercado brasileiro no acumulado do ano e 9,25% em julho, segundo dados de emplacamento fornecidos pela Fenabrave, a coreana passou do sétimo lugar há um ano para o quarto. Ultrapassou Renault, Toyota e Ford.

Para ganhar participação no mercado, os coreanos contam também com a ajuda da parceria com o grupo brasileiro Caoa, que produz modelos de luxo da marca numa fábrica própria em Anápolis (GO). Os veículos Hyundai vendidos pela Caoa correspondem a 6,5% do volume da marca coreana.

Os trabalhadores da fábrica de Piracicaba não estão livres de futuras demissões. Mas a situação, hoje, os favorece em relação aos operários de empresas como General Motors, Volkswagen e Renault, que já iniciaram negociações com os empregados para eliminar mão de obra excedente.

Quando investiu numa fábrica no Brasil, a ideia inicial do grupo Hyundai era atender preferencialmente o mercado brasileiro. Há três anos, porém, começaram os testes de exportação para Paraguai, Uruguai e, recentemente, Colômbia. Agora os carros da marca coreana passam por homologação para, em breve, estrear no mercado da Argentina.

A instabilidade econômica da região não preocupa a matriz. Ter uma fábrica em país de tamanho continental como o Brasil é decisão estratégica.

Grande parte dos funcionários da indústria automobilística tem mantido seus empregos às custas de prorrogações de suspensão temporária do trabalho, redução de jornada e outras ferramentas usadas para adiar demissões. Mas as projeções do setor, que mostram um 2020 ruim e um 2021 pouco melhor reduzem as chances de que as empresas estejam dispostas a manter seus atuais quadros de mão de obra.

No fim de agosto, a Mercedes-Benz prorrogou a suspensão temporária de contrato dos operários. Dias antes, General Motors e Renault abriram programas de demissões voluntárias. Já a direção da Volkswagen passou os últimos dias em negociação com os sindicatos das quatro fábricas em busca de soluções para o excedente de mão de obra que, segundo os sindicalistas, chega a 35% do efetivo.

A ociosidade das fábricas saltou de 42% em 2019 para 68% este ano e, segundo cálculos de fontes, não ficará abaixo de 64% em 2021. O excedente de pessoal aparece no resultado da conta de veículos produzidos por trabalhador. Em 2019, as montadoras tinham 106,7 mil funcionários e produziram 2,95 milhões de veículos. A relação veículos por trabalhador ficou em 27,6, a mesma de 2013.

A previsão de chegar a 3 milhões de veículos em 2020, anterior à pandemia, manteria a mesma relação. Mas, agora, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores, estima 1,6 milhão de unidades. A relação veículos por trabalhador, levando em conta o quadro atual, cairia para 15,67.

Automação na Automotiva publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



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