segunda-feira, 10 de junho de 2019

O que os donos do poder não querem que você saiba

De repente, eu me deparei com entrevista em canal da esquerda no YouTube e recebi uma mensagem com declarações de um “ex-banqueiro”. Vi sua entrevista na TV Carta Capital. Ele é articulado e justifica sua “dissidência” por uma luz advinda quando estava hospitalizado: quem sou eu? O que estou fazendo?!

Baixei seu livro “O que os donos do poder não querem que você saiba” (Editora Alaúde), cujo título é muito chamativo. De fato, queremos saber exatamente tudo proibido! E o nome do autor é emoldurado por uma apresentação: “eleito um dos três melhores economistas do Brasil”.

Ora, eu não o conhecia, apesar de ter me formado em Ciência Econômica há 45 anos! Obviamente, nunca vi (e nem votei) uma eleição deste tipo. Os “melhores economistas” para quem, hein? Para os donos do poder? Mas quem são, hein? Senão para eles, seria para os dissidentes, isto é, a contra elite brasileira?

Na Introdução do livro ele se explica: “pela principal revista de investimentos do país, e eu realmente havia sido votado como um dos três melhores economistas do Brasil!”

Taí, é um critério. Para O Mercado, o tal ser quase-humano, porém sobrenatural, porque é dito onipotente, onisciente e onipresente, apesar da contradição lógica entre essas três virtudes.

O autor apresenta o motivo. “Entre 2015 e 2016, dei uma série de palestras para esses fundos de pensão explicando os conceitos básicos de investimentos. Só que do meu jeito – com exemplos, casos divertidos, participação dos espectadores –, enfim, de uma forma muito distinta daquela com a qual estavam acostumados. E adivinhem o que aconteceu? Eles finalmente aprenderam! E retribuíram elegendo-me um dos três maiores especialistas em economia do país.” Pronto! Basta isso! Quero dar uma série de palestras para eles! Ah, se eu, reles professor/palestrante tivesse a oportunidade de ser convidado por O Mercado… Por que não, hein? Snif, snif…

Eduardo Moreira, o autor de “O que os donos do poder não querem que você sabia”, anuncia: “Não, este livro não é antiamericano, socialista ou revolucionário. Não é sequer um livro que busca dar respostas corretas para seus leitores. É um livro que busca ajudá-los a enxergar as coisas como elas realmente são, para que os leitores possam a partir daí fazer as perguntas corretas.” Só. As coisas são como ele enxerga.

“Sofro de um sério distúrbio de atenção e dificilmente consigo prestar atenção em um só assunto por mais de meia hora.” Apesar disso, ou talvez por causa disso, Eduardo Moreira se tornou trader no banco Pactual. Como bom aluno de Matemática, antes de se apoiar nas contas do software – feito por uma das maiores empresas de informação do mundo –, do qual os traders se utilizavam para calcular as taxas dos títulos, resolveu fazê-las ele mesmo, para entender como se chegava àqueles resultados e, consequentemente, quais forças de mercado seriam capazes de alterá-los.

 

Ele, um recém-chegado trader na mesa de operações do banco, havia descoberto um erro no software utilizado para fazer o cálculo dos preços e taxas que eram empregados nos mercados do mundo inteiro. Isso queria dizer que o mundo inteiro estava negociando aquele título baseando-se em premissas erradas. O mexicano [programador do software], ainda constrangido, prosseguiu: “Não se preocupe, senhor, corrigiremos esse erro imediatamente e subiremos a nova versão assim que pudermos”.

Ele desligou o telefone e começou a comprar o título, valendo-se da inside information. “Afinal, eu era o único no mundo que sabia que sua taxa de retorno era muito acima da que todos imaginavam. No dia seguinte, o sistema foi corrigido. O preço do título rapidamente se moveu para onde sempre deveria ter estado, e eu ganhei mais de 2 milhões de dólares para o banco com aquela minha aposta! Foi minha primeira grande operação no mercado financeiro.”

Com isso, ele aprendeu: a informação correta pode ter um valor incrivelmente alto. Sim, Ideias capazes de mudar os modelos mentais estão oferecidas no livro “Why Information Grows” lançado em 2015. O autor é Cesar Hidalgo, um físico chileno do MIT Media Lab e estudioso sobre Complexidade Econômica. O livro aborda questões-chave como a relação entre diversas disciplinas da Ciência e o esforço intelectual de cientistas em entender o mundo em que vivemos.

Hidalgo apresenta um novo paradigma ou modelo mental sobre o mundo. O conceito central é a informação se opor a entropia. O planeta Terra se destaca no universo pela disponibilidade de informação. Esse raciocínio instiga a releitura da Economia, não por elementos tradicionais como capital e trabalho, mas por elementos tradicionais da Física, como energia, matéria e informação.

A tese central de Hidalgo é o crescimento das economias ser explicado pelo crescimento da informação. Sendo assim, para entender porque as economias crescem, é necessário entender os mecanismos pelos quais a informação aumenta.

Talvez sem ter lido esse livro, Eduardo Moreira concluiu também a informação não ser só um valor abstrato, filosófico. Mas um valor real, palpável e, naquele caso de informação privilegiada, até financeiro. Entendeu também o Viés Heurístico da Prova Social: “o fato de todos estarem fazendo algo de uma determinada maneira não significa que aquela seja a correta. Pelo menos, não necessariamente.”

A ideia aceita pela maioria não é prova dela ser verdadeira. A maioria muitas vezes pensa de maneira equivocada, veja a eleição de um despreparado para a presidência da República.

Um dos três melhores economistas do Brasil apresenta sua formação fora da Ciência Econômica. “Eu estudei Engenharia Civil na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Sou filho e neto de engenheiros, criado para seguir o legado deixado pela família. Era um bom aluno de Engenharia, um dos melhores da Engenharia Civil. Estudar algo que era palpável e parte de meu universo desde criança (cresci visitando obras com meu pai) facilitava demais o aprendizado.”

Conta ter conseguido a façanha heroica de entrar “para um programa de intercâmbio da PUC-Rio com a Universidade da Califórnia. Um programa disponível apenas para os melhores alunos da faculdade, e que permitiria aos oito escolhidos estudar gratuitamente em uma das universidades da Califórnia durante um ano.”

Por extravio do documento sobre as disciplinas já com créditos obtidos no Brasil, só pode cursar seis matérias de Economia – qualquer outro curso além da Engenharia – para o primeiro trimestre de aulas.

“Ali começou um caso de amor entre mim e a economia. Paixão à primeira vista! Acho que o maior segredo da facilidade que tive aprendendo Economia foi estudá-la como se estivesse estudando Engenharia. Minha mente havia sido educada para imaginar coisas reais, palpáveis, tangíveis. Por isso, forcei-me a entender tudo o que me foi ensinado em Economia também dessa forma.” Só.

Também sempre achei um bom economista necessitar saber transitar com facilidade entre os três níveis de abstração: da Ciência Pura à Arte das Decisões Práticas, passando pela Ciência Aplicada. O conhecimento plural de todas as teorias, em conjunto com a reincorporação do antes abstraído, facilita a aquisição da habilidade em tomar decisões práticas.

Eduardo Moreira finaliza a narrativa de sua “brilhante carreira” como estudante por acaso em Economia “Recebi uma carta timbrada da Universidade da Califórnia na qual dizia que eu havia sido o melhor aluno nos últimos quinze anos. Recebi um minor degree em Economia com média 10 em todas as matérias que cursei. E voltei para a PUC para terminar minha faculdade de Engenharia Civil.

Posso associar meu sucesso no curso de Economia da UCSD a um simples motivo: desde o primeiro dia, busquei entender todas aquelas matérias como fazemos em Engenharia. É esse aprendizado, prático, real e incrivelmente simples, que você terá ao longo das próximas páginas. Prepare-se para de agora em diante ser também um expert em qualquer assunto de Economia.”

Fácil, qualquer um pode se tornar “um dos três melhores economistas do Brasil”, se não tiver se formado em Ciência Econômica…

O que os donos do poder não querem que você saiba publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



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