domingo, 23 de junho de 2019

Modelo para o Ciclo Arquetípico em Longo Prazo com Grande Dívida

Ray Dalio, no livro “Crise da Grande Dívida” ([“Big Debt Crises”] Bridgewater; sept 2018), apresenta o seguinte modelo, baseando-se no seu exame de 48 grandes ciclos da dívida. Eles incluem todos os casos com uma queda real do PIB de mais de 3% em países grandes (chamada de Grande Depressão).

Para maior clareza, o autor dividiu os países afetados em dois grupos:

1) aqueles sem muito de suas dívidas denominadas em moeda estrangeira e sem experimentarem depressões inflacionárias, e

2) aqueles com uma quantidade significativa de sua dívida denominada em moeda estrangeira e tendo experimentado depressões inflacionárias.

Com havia cerca de 75% de correlação entre os montantes de suas dívidas externas e os níveis de inflação experimentadas por eles, o que não é surpreendente, porque ter muitas dívidas denominadas em moeda estrangeira era uma causa de suas depressões inflacionárias, fazia sentido agrupar aqueles com mais dívida em moeda estrangeira com aqueles com depressões inflacionárias.

Tipicamente, as crises da dívida ocorrem porque os custos do serviço da dívida e da dívida aumentam mais rapidamente se comparados ao ritmo de crescimento dos rendimentos necessários para os servir. Isto provoca uma desalavancagem financeira.

Enquanto o Banco Central pode aliviar crises típicas da dívida ao baixar as taxas de juros reais e nominais, crises severas da dívida, ou seja, depressões, ocorrem quando isso não é mais possível. Classicamente, muitos ciclos de dívida de curto prazo, isto é, ciclos de negócios, somam um ciclo de dívida de longo prazo, porque cada alta cíclica de curto prazo e cada baixa cíclica de curto prazo é maior em sua relação dívida / renda, se comparada a anterior. Chega o momento quando as reduções das taxas de juros que ajudaram a impulsionar a expansão da dívida não possam mais continuar.

O gráfico acima mostra a carga de dívida e serviço da dívida, tanto o principal, quanto os juros, nos EUA desde 1910. Você notará como os pagamentos de juros permanecem estáveis ​​ou diminuem mesmo quando a dívida sobe. Assim, o aumento nos custos do serviço da dívida é não tão grande quanto o aumento da dívida. Isso porque o Banco Central (neste caso, o Federal Reserve) reduz as taxas de juros para manter a expansão financiada pela dívida até não conseguir mais porque a taxa de juros atinge 0%. Quando isso acontece, a desalavancagem financeira começa.

Embora o gráfico ofereça um bom quadro geral, Dalio deixa claro ele ser inadequado em dois aspectos:

1) ele não transmite as diferenças entre as várias entidades componetes desses números totais, e eles são muito importantes para entender, e

2) mostra apenas o que é chamado de dívida, por isso não reflete passivos muito maiores como pensões previdenciárias e obrigações de saúde.

Ter essa perspectiva mais detalhada é muito importante para avaliar as vulnerabilidades de um país, embora, na maioria das vezes, essas questões estejam além do escopo deste livro.

Modelo para o Ciclo Arquetípico em Longo Prazo com Grande Dívida publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



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