Assis Moreira (Valor, 13/06/19) informa: o encontro de ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais das maiores economias desenvolvidas e emergentes, reunidas no G-20 em Fukuoka (Japão), discutiu o estado da economia global, tensões comerciais, reforma de taxação internacional, câmbio – enfim, a agenda habitual. Mas neste ano a presidência japonesa do G-20 acrescentou um tema que tende a ser cada vez mais prioritário para o grupo: o envelhecimento da população e suas implicações.
O Japão tem a população mais idosa do mundo. Enfrenta o envelhecimento mais rápido, com 47 pessoas acima de 65 anos para 100 adultos em idade produtiva em 2015 (eram 19 em 1990). Em comparação, a taxa é de 26% em outros países ricos do G-20 e de 11% nos emergentes.
Os japoneses chegam a viver até ou além de 100 anos. A questão é como pagar por isso. O país não tem força de trabalho suficiente. Há 1,6 vaga de trabalho aberta para cada pessoa em busca de trabalho. A população vai definhar nas próximas décadas.
Estudos apresentados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em Fukuoka mostram um declínio estável nas taxas de fertilidade ter levado à redução acelerada nas taxas de crescimento da população em idade de trabalhar (15-64 anos) no G-20.
Nos países desenvolvidos, o envelhecimento tem sido rápido também na Itália, na Alemanha e na Coreia. Também estão no estágio final de transição demográfica, com o envelhecimento a caminho e a população ativa declinando, Austrália, Canadá, França, Rússia, Espanha, Reino Unido e EUA.
Nas economias emergentes, Brasil e China enfrentam rápida mudança demográfica num estágio relativamente inicial de desenvolvimento. Brasil, China, Argentina e Turquia já se beneficiaram do bônus demográfico, período mais favorável da estrutura etária para o crescimento econômico, em que os habitantes em idade ativa superam os dependentes – idosos e crianças.
Na Índia, Indonésia, México, Arábia Saudita e África do Sul, a taxa de fertilidade está em queda, mas continua elevada, e suas populações envelhecerão mais lentamente.
O Brasil, em particular, entra acelerado no clube dos idosos. A taxa de fertilidade no país está abaixo da de reposição, na qual se substitui uma geração por outra, o que implica menor força de trabalho futura. Pelas estimativas da OCDE, em 2060 o Brasil poderá ter 50 pessoas com mais de 65 anos por 100 adultos em idade produtiva, comparado a 16 pessoas em 2016. O país teria, assim, dentro de algumas décadas, mais idosos do que os EUA.
A discussão mostrou a necessidade urgente de os países se prepararem para a “economia da longevidade”, na qual a inclusão financeira é crucial. Idosos vão viver com aposentadoria potencialmente menor. O risco de dificuldades financeiras e pobreza por causa da insuficiência de renda, mas também por despesas adicionais, tende a aumentar.
Considerando-se a baixa taxa de fertilidade atual, não terão famílias ou vínculos familiares para ajudá-los. Em economias com alta renda, apenas 46% dos adultos economizam dinheiro para a velhice. Essa taxa é de apenas 16% nos países de renda baixa e média como o Brasil. Haverá assim um forte risco criado pelo desalinhamento entre longevidade de vida e longevidade dos ativos.
O grupo destacou implicações macroeconômicas importantes. A previsão é que, nos países onde menos trabalhadores estão disponíveis e a taxa de participação da força de trabalho cai, a produção vai inevitavelmente declinar. No entanto, o tamanho desse declínio depende, por exemplo, de como as famílias e as companhias reagem à mudança demográfica. O envelhecimento vai também exercer mais pressões sobre as finanças públicas com aumento das despesas da Previdência e do sistema de saúde.
Análises do FMI indicam que, na ausência de reformas, despesas com aposentadoria e sistemas de saúde poderiam aumentar em sete pontos percentuais do PIB nos países ricos e 6% nos emergentes entre agora e 2050. Isso poderia tornar a dívida pública insustentável, exigindo fortes cortes em outras despesas públicas ou amplo aumento nos impostos, travando o crescimento econômico.
Os países no G-20 concordaram que mudanças demográficas exigirão ações abrangendo políticas fiscal, monetária, financeira e estrutural. Governos precisarão tomar medidas que fortaleçam habilidades de alfabetização digital e financeira dos idosos, para ajudá-los a fazer um planejamento financeiro vitalício. Uma pesquisa mostrou que menos de 50% dos adultos poderiam responder a 70% das questões de conhecimento financeiro nos países do G-20. O grupo sugere também que o setor financeiro crie soluções digitais simplificadas, com proteção adequada, incluindo avisos importantes sobre golpes, ou permita que os idosos definam lembretes de calendários automáticos para receber pagamento ou pagar contas em dia.
Um dos principais problemas enfrentados pelos aposentados é garantir o seu dinheiro poupado durar tanto quanto eles.
Dos EUA à Europa, Austrália e Japão, o saldo dos planos de aposentadoria individuais não têm crescido tanto quanto o aumento da expectativa de vida, alerta do Fórum Econômico Mundial em relatório divulgado ontem. Como resultado, os trabalhadores podem viver dez anos ou mais além da duração de suas economias.
“O tamanho da lacuna é tal que exige ação” das autoridades, dos empregadores e dos trabalhadores, segundo Han Yik, coautor do estudo e chefe da área de investidores internacionais do Fórum Econômico Mundial.
A menos que haja mais empenho, os idosos terão de passar a viver gastando menos ou adiar a aposentadoria, disse. “Ou você gasta menos ou você ganha mais.”
Nos EUA, as pessoas com 65 anos têm economias suficientes para cobrir apenas 9,7 anos da renda da aposentadoria, segundo cálculos do Fórum. Isso deixa o homem americano médio com uma lacuna de 8,3 anos. As mulheres, que vivem mais, se deparam como uma diferença de 10,9 anos.
O Fórum leva em conta que os aposentados precisariam de renda suficiente para cobrir 70% de sua remuneração prévia à aposentadoria e não inclui na conta a Previdência Social nem outros benefícios sociais do governo.
No Reino Unido, na Austrália, no Canadá e na Holanda, a diferença entre a duração estimada do dinheiro poupado pelos aposentados e a expectativa de vida está em cerca de dez anos, segundo o estudo. Para as mulheres nesses países, a diferença é de dois a três anos a mais de incerteza financeira.
Ainda assim, a maioria dos os aposentados nesses países está em situação confortável em comparação com os do Japão, onde a lacuna é de 15 anos para os homens e quase 20 anos para as mulheres.
Embora os trabalhadores japoneses não poupem menos que os outros, eles costumam investir em ativos muito seguros, que rendem menos ao longo do tempo, segundo Yik. Por isso, as economias médias no Japão bastam para cobrir apenas 4,5 anos de aposentadoria.
Além disso, a expectativa de vida da mulher japonesa é de 87,1 anos, a maior no mundo, segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). E a do homem é de 81 anos.
Governos e empregadores ao redor do mundo têm transferido mais responsabilidade pela aposentadoria aos trabalhadores, passando das aposentadorias tradicionais para planos de contribuição definida, pelos quais o aposentado recebe de acordo com o que ele poupou. “Todos os riscos que governos e empregadores costumavam ter, estamos transferindo para os trabalhadores”, disse Yik.
A defasagem coletiva da poupança dos aposentados pode superar os US$ 400 trilhões em 2050, ante os US$ 70 trilhões de 2015, segundo o estudo. A maior diferença seria nos EUA, de US$ 137 trilhões, seguidos por China (US$ 119 trilhões) e Índia (US$ 85 trilhões).
Uma das recomendações do Fórum Econômico Mundial é garantir que mais trabalhadores sejam cobertos por planos de aposentadorias no trabalho. Os empregadores deveriam se empenhar mais para melhorar as opções de investimento e estimular os trabalhadores a poupar uma parte suficiente de sua renda, diz o relatório.
Na terça-feira, o Vanguard Group divulgou o relatório “Como os EUA Poupam 2019”, mostrando que em menos de metade de 1.900 planos de aposentadoria analisados, os trabalhadores são inscritos automaticamente. Essa proporção, no entanto, vem subindo rapidamente. Em 2009, eram 24%. Em 2018, dobrou para 48%.
Mais Idosos Sem Aposentadoria publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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