quinta-feira, 2 de abril de 2020

Perdas de Março de 2020

O Índice Bovespa, reunindo as principais ações negociadas na B3, teve queda de -29,9% em março. Foi o pior mês da bolsa paulista em quase 22 anos. Desde o início do ano, a queda acumulada é de -36,86%.

Adriana Cotias (Valor, 01/04/2020) registro o histórico “crash de março de 2020”. É equivocado atribui-lo apenas à pandemia de covid-19. Este “choque exógeno” explodiu definitivamente a Bolsa de Valores, já em tendência de queda desde o dia 24 de janeiro.

A baixa pressionada do juro básico para 3,75% aa derrubou os preços de praticamente todas as classes de ativos. A avaliação de gestores de recursos e de patrimônio prudentes deveria ser: não há barganhas tanto na renda fixa quanto variável.

Logo, é preciso dosar muito bem o risco, testar produtos financeiros, cujos rendimentos superem a taxa de inflação, e não ter mais perdas nominais do capital acumulado, a fim de não comprometer o patrimônio de longo prazo. O sobe-e-desce vai prosseguir, em patamar mais baixo, o investidor ainda pode perder mais com ações.

Março chega ao fim com perdas generalizadas para os índices de bolsa, corroendo os resultados acumulados no trimestre. O indicador de ações do setor imobiliário, o Imob, tem queda de -45,4%, e o de empresas de menor capitalização (“small caps”), um recuo de -40,2%. O Ibovespa, principal termômetro da B3, teve desvalorização de -36,9%.

Os indicadores de renda fixa também tiveram queda de -10,9% do IMA-B 5+, de títulos atrelados à inflação longos. Os ativos de proteção especulativa tiveram ganhos: +29,6% para o dólar, e de +30,2% para o ouro negociado na B3.

O depósito de poupança, aplicação conservadora popular, rendeu apenas 0,22% e os CDBs, em média, 0,35%. Não perderam!

Na renda variável, os preços foram para níveis de estresse. E na renda fixa, NTN-B atreladas à inflação e prefixados também caíram porque passaram por uma série de ‘stops’ [vendas para limitar perdas] pelos fundos. Eles, em posições alavancadas, foram obrigados a zerar para atender os pedidos de resgates dos investidores.

No universo da alocação de portfólios, o gestor não consegue aumentar a exposição em todas as classes para não ferir o mandato. A preferência tem sido recompor a parcela estrutural em ações, encolhida com a desvalorização, via fundos tradicionais ou “long biase”. Eles calibram a parcela em bolsa conforme o cenário. “

O Mercado precificou quase uma depressão econômica. Os gestores perdidos, mas prudentes, não adicionam risco em absolutamente nada, apenas rebalancea a carteira de acordo com a aversão ao risco planejada.

Com os juros baixos, muita gente associou a tomada de risco à compra de bolsa, mas esse não é um bom motivo para colocar o dinheiro em ações. Gestor desejando recuperar clientes aconselha imprudentemente: “melhor é comprar quando está barato e não porque o amigo está ganhando dinheiro e a coisa vai se retroalimentando”.

O Ibovespa quando chegou perto dos 120 mil pontos já estava no valor superestimado com maus fundamentos. Agora, na casa dos 70 mil, está caro porque os fundamentos estão péssimos: não há mais perspectiva de crescimento à frente.

Tomar risco ao longo do tempo é questão de característica pessoal para suportar o risco. Dizem os gestores obviamente: “no caso brasileiro o que gera dinheiro no longo prazo são bons gestores, a bolsa no Brasil não tem um bom histórico. Se o investidor quer fazer poupança de longo prazo com retornos consistentes, a bolsa americana é a melhor alternativa em dez ou 20 anos.” Isso! Vão para New York, Wall Street, e não voltem, coxinhas de direita!

Na renda fixa, títulos públicos prefixados com vencimento em três anos com taxas acima de 8% parecem uma boa opção diante da Selic atual, de 3,75% ao ano, se não haver “marcação-a-mercado”, quando os juros brevemente subir. Dizem os “me engana que eu gosto”: “mesmo com alguma deterioração fiscal pelo fato de o governo injetar um caminhão de dinheiro na economia, não faz sentido subir juros, o mundo inteiro está cortando e a inflação está controlada.”

Os vaivéns recentes dos ativos trouxeram algumas referências de quais são os níveis de estresse. Nessas horas, os profissionais têm aproveitado para ir às compras para recompor a perda de suas carteiras. Com o Ibovespa abaixo de 60 mil pontos, a NTN-B pagando IPCA mais prêmio acima de 4,5% ou prefixados além de 9,5% são preços aparentemente promissores.

A queda no valor das cotas dos fundos de ações, na casa dos dois dígitos em março, acabou atraindo novos investidores. Dados da Anbima indicam: as carteiras de ações tiveram captação líquida de R$ 7 bilhões em março até o dia 26. Os fundos de índices (ETFs), a maior parte deles ligados a referenciais de renda variável, atraíram outros R$ 5,9 bilhões. Nos fundos de renda fixa, porém, os resgates superavam os aportes em R$ 23 bilhões. Os fundos mistos apresentaram saques de R$ 4,576 bilhões.

Mas a preocupação é sempre manter uma reserva em produtos de liquidez diária. Para o investidor já alocado em fundos que sofreram perdas, o melhor é focar no longo prazo. Para quem está entrando, é a oportunidade de comprar em um momento onde vários ativos tiveram forte desvalorização e aproveitar a curva de juros. Quer arriscar a apostar no futuro do capitalismo?

Perdas de Março de 2020 publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



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