É condição para a cidadania financeira o acesso a serviços e produtos financeiros (bancos e crédito) adequados às necessidades de todos os cidadãos. Todos os municípios do Brasil têm pelo menos um ponto de atendimento físico, mas 382 municípios tinham apenas correspondentes bancários. Apesar da alta capilaridade, há tendência de queda, com redução em todas as regiões. Em 2017, o país tinha, no total, 257.570 pontos de atendimento, contra 277.982 em 2015.
O uso de canais remotos vem crescendo. As transações por smartphones e PDAs aumentaram 19% entre 2015 e 2017. Elas já representam 35% da quantidade total de transações (remotas e presenciais). A importância dos canais presenciais ainda é grande.
O percentual da população com relacionamento bancário manteve-se estável entre 2015 e 2017. São 86,5% de brasileiros adultos com posse de conta, segundo o Relatório de Cidadania Financeira, elaborado pelo Banco Central do Brasil e publicado em 2019.
Quanto ao perfil dos “adultos não bancarizados”, 58% não possuem conta em instituições financeiras porque falta dinheiro ou porque consideram alto o custo. Entretanto, 60% têm acesso tanto a celulares quanto à internet, percentagem bem acima da global com 25%. Barateiam o acesso a bancos por meio digital.
De acordo com Relatório de Poupança, publicado pelo BCB, o valor médio de seus saldos varia bastante ao longo do mês. Grande parte dessas contas, na realidade, está sendo usada como espécie de conta corrente. Em contraste, 63% do saldo de depósito de poupança refere-se à faixa acima de R$ 30 mil e é mantido por 3% do total de clientes.
A quantidade de pessoas com operações de crédito também ficou praticamente estável nesse período, apresentando uma leve oscilação de 45% para 44% da população. A penetração do crédito apresenta variações nas diferentes faixas de renda.
Do total da população com renda até 1 salário mínimo, 11% têm operações de crédito, dada a dificuldade de comprovar renda e apresentar garantias. A faixa seguinte, entre 1 e 2 salários mínimos, concentra 32% do total de tomadores de crédito. Do total da população dessa faixa, 41% têm operações de crédito. Em 2017, 54% do volume da carteira de crédito para pessoas físicas foi destinado para consumidores com renda acima de cinco salários mínimos, correspondendo a 6,2% da população.
Em períodos de redução de atividade econômica, as pessoas com renda mais baixa tendem a recorrer mais a produtos de crédito, pois costumam ter menos reservas financeiras para arcar com imprevistos. Para as faixas de renda mais altas, observa-se queda ou desaceleração do crescimento tanto no saldo quanto no número de tomadores de crédito.
Esse segmento da população, em geral, possui outras fontes de recursos e maiores reservas financeiras e, diante da incerteza do cenário econômico, opta por reduzir o crédito. Mesmo assim, quando perguntados sobre a possibilidade de cobrir uma despesa inesperada sem pedir dinheiro emprestado, 60% dos respondentes na faixa de renda mais alta, afirmaram não terem condições.
No caso dos microempreendedores individuais, 8,5% tinham operação de crédito em nome da empresa em 2017. Houve leve deterioração da carteira de crédito das micro e pequenas empresas (MPEs), com o aumento da inadimplência, correlacionada com a migração para modalidades de prazo mais curto e, geralmente, mais caras.
O cartão de crédito, nas modalidades à vista e parcelado lojista (sem juros), é o produto de crédito mais usado pelos brasileiros. São 82 milhões de cartões de crédito ativos, através dos quais 84% são feitas operações de uma parcela de pagamento. O valor médio de suas operações é apenas R$ 116,51.
Em quantidade de tomadores, o rotativo do cartão de crédito também é uma das modalidades mais utilizadas, ao lado do cheque especial, duas formas de crédito com as taxas de juros mais altas entre todas as modalidades, respectivamente, 332% aa e 323% aa em dezembro de 2017. Entretanto, elas representam pouco do saldo da carteira total, composta principalmente por crédito habitacional e consignado com desconto em folha de pagamentos. A exceção é a última faixa de renda (acima de vinte salários mínimos) por possuir maior saldo em investimento e custeio, modalidades de crédito rural.
Análise publicada no Relatório de Economia Bancária de 2018 sobre o perfil dos usuários de cartão de crédito aponta: “nas modalidades do cartão de crédito rotativo, observa-se menor participação de indivíduos com alta escolaridade, assim como maior participação de indivíduos recentemente desligados do mercado de trabalho formal e de beneficiários de programas sociais”.
A população com rendimentos até 1 salário mínimo tem o maior comprometimento de renda (25,2%) e a maior inadimplência (6,4%). Além disso, também sofreu a maior desalavancagem financeira, com uma redução no endividamento de 74,3% para 51,8%, entre 2015 e 2017.
Nessa primeira faixa, houve também redução na proporção do crédito imobiliário em seu endividamento: diminuiu de 22,5% em 2015 para 9,9% em 2017. O financiamento de imóveis é um crédito em longo prazo, com menor custo, colateralizado. Ele forma patrimônio, mas prestações são altas e podem pesar sobre o orçamento das famílias.
Em todas as demais faixas de renda, a parcela comprometida com dívida imobiliária superou ¼ da renda da renda do tomador destinada a pagamento de juros e amortização de dívidas. Na faixa de 2 a 3 salários mínimos, atingiu 1/3 o comprometimento.
Acompanhando a queda no comprometimento de renda, a inadimplência diminuiu para quase todas as faixas de renda no período recessivo observado. A exceção foi a primeira faixa (até 1 salário mínimo), porque passou a comprometer maior fatia de sua renda com dívidas e passou a ter o maior percentual de inadimplência (6,4%). Desse percentual, cai progressivamente para as demais faixas até 1,9% acima de 20 salários mínimos.
Embora represente apenas 2% do saldo de operações de crédito, o cartão de crédito na modalidade rotativo corresponde a 20,8% da carteira inadimplente. Em contraste, crédito com alienação fiduciária tem menores participações no saldo inadimplente, por exemplo, 11% correspondem ao financiamento habitacional (SFH) e 9,8% à aquisição de veículos automotores. Minha casa, meu carro… são minha vida.
Dados do Global Findex mostram o percentual de brasileiros poupadores ter passado de 28%, em 2014, para 32%, em 2017. Ainda é baixo em relação a países em desenvolvimento da América Latina (37%) e nos países de renda per capita (em paridade de poder de compra – PPC) semelhante à do Brasil: 43%. O comportamento de poupar (cortar gastos em consumo) e investir no mercado financeiro ainda é menos frequente entre os brasileiros adultos se comparados a qualquer um dos grupos de países. No mundo, em 2017, o percentual médio era 48%, e nos países de alta renda (OCDE) 73%.
Em pesquisa contratada pelo Banco Central do Brasil, em 2014, a razão declarada pela esmagadora maioria dos brasileiros para não poupar foi não sobrar dinheiro: 87% como principal razão e 91% como uma das razões. A renda e o custo de vida afetam as possibilidades de o cidadão poupar.
Apesar de ser um fator fortemente a ser levado em consideração, o valor da renda não é determinante único para os cidadãos deixarem de poupar. Há também fatores relacionados a cultura, educação, comunicação, vínculos de comunidade, instrumentos de poupança, nudges (dar um “empurrãozinho” ou default para a tomada de melhores decisões), entre outros. Outro aspecto a ser considerado é o impacto da relativa segurança assistencial, trabalhista (como a poupança compulsória de 8% do salário no FGTS) e previdenciária, oferecida à população.
Segundo a Global Findex 2017, entre os maiores de 15 anos, pouparam qualquer montante: Homens 40%, Mulheres: 26%; 15 a 24 anos: 44%, 25 anos ou mais: 29%; Educação primária ou menos: 22%, Educação secundária ou mais: 38%; 40% mais pobres: 25%, 60% mais ricos: 37%.
Outro estudo sobre o perfil do investidor brasileiro, realizado em 2017 pela ANBIMA e Datafolha, com uma amostra significativa das classes A, B e C, revelou 32% dos entrevistados conseguirem realizar alguma poupança, sendo na maioria homens, com idade entre 16 e 34 anos e com ensino superior. Em contrapartida, 25% da amostra realizou algum tipo de investimento, incluindo compra de imóveis, bens duráveis e negócios, e só 9% investiram de fato em produtos financeiros, com destaque para a caderneta de poupança. Ela representa 70% da alocação.
Quanto às fontes às quais recorrem 46% dos adultos brasileiros, para os quais é possível levantar fundos para emergência, em 2014, 57% deles recorriam à família ou aos amigos. Em 2017, esse percentual baixou para 42%, permanecendo como a fonte mais utilizada para recursos de emergência. Entretanto, 14% dos entrevistados afirmaram recorrer à poupança e a outras fontes.
A realização de trabalhos é mais utilizada para levantamento de recursos emergenciais em vez de poupança ou empréstimo bancário. Em crise sistêmica como a atual, tal recurso se tornou inapropriado. Verifica-se a carência de Educação Financeira para estimular poupança/investimento e gestão de finanças pessoais no sentido de constituir reservas financeiras para a aposentadoria e os acidentes emergenciais. Eles podem acontecer, como estamos todos nós sentindo…
Em Síntese, Que Cidadania Financeira é Esta?! publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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