Segundo Jean Tirole (1953- ), ganhador do Prêmio Nobel de Economia 2014, por análise do poder e regulação de mercado, em seu livro Economia do bem comum (1ª.ed. – Rio de Janeiro: Zahar, 2020), a Teoria dos Jogos e da Informação encontra na Psicologia um campo de aplicação certamente inesperado, mas, em última análise, bastante natural.
De fato, psicólogos e filósofos, ambos têm insistido durante séculos (mesmo milênios) no fenômeno da auto-manipulação de crenças: os indivíduos geralmente procuram reprimir / esquecer ou reinterpretar informações desfavoráveis a si mesmo.
Foi através de um artigo publicado em 2000 por dois estudantes de Toulouse, Juan Carrillo e Thomas Mariotti, a partir do qual nasceu a “Teoria da Informação Comportamental”, abordando os temas frequentemente explorados na Psicologia e na Filosofia sobre a auto-manipulação de crenças.
Em colaboração com Roland Bénabou (Universidade de Princeton), Jean Tirole representou a auto-manipulação de crenças como o equilíbrio de um jogo entre os diferentes “eus” do mesmo indivíduo. É um jogo onde o indivíduo pode tentar “esquecer” (reprimir) informações possíveis de prejudicar sua autoconfiança. O indivíduo manipula suas crenças e, ao mesmo tempo, pode estar ciente de possuir uma memória seletiva.
Para entender a auto-manipulação, é preciso primeiro entender por que um indivíduo gostaria de mentir para si mesmo; isto é, para entender o aspecto “demanda” da auto-manipulação.
Afinal, a teoria clássica da decisão mostra quem tem uma melhor informação toma melhores decisões. Então, agiríamos com pleno conhecimento dos fatos.
Esquecer informações é mentir para si mesmo e, portanto, degradar a qualidade de suas informações e sua decisão.
Em sua pesquisa, Jean Tirole identifiou três razões pelas quais o indivíduo pode tentar mentir para si mesmo:
- medo da falta de vontade e procrastinação poderem resultar no futuro melhor autoconfiança ou no valor de seu projeto permitir neutralizar, pelo menos em parte, essa falta de vontade, para se dar “energia” para empreender;
- a utilidade da antecipação porque o indivíduo se projeta no futuro; a ignorância ou o esquecimento dos aspectos negativos desse futuro, por exemplo, a possibilidade de acidente ou morte, permite uma maior felicidade, embora causem ineficiências na decisão, por exemplo, a ausência de um exame médico ou o uso de cintos de segurança no carro; por outro lado, todos “consumimos” férias ou qualquer outro evento agradável bem antes da morte;
- o consumo de crenças sobre si mesmo: os indivíduos querem se tranquilizar por crenças favoráveis sobre si mesmos e se sentem inteligentes, bonitos, generosos etc.
No lado “suprimento” da auto-manipulação (como essa manipulação opera), observamos:
- a manipulação da memória (estratégias de repressão ou, pelo contrário, repetição);
- recusa em adquirir, ouvir ou entender determinadas informações; ou
- a escolha de ações sinalizando os traços de caráter do indivíduo.
Platão apontou a manipulação de crenças ser ruim para o indivíduo. Muitos psicólogos (William James, Martin Seligman e muitos outros), por outro lado, insistiram na necessidade de os indivíduos se verem de uma maneira positiva: motivar-se a realizar atividades como para seu próprio bem-estar. Ninguém deve ter uma boa imagem de si mesmo?!
Neste artigo, onde enfocou os problemas da vontade, Jean Tirole mostrou essa auto-manipulação ser benéfica para o indivíduo se este tiver um sério problema de autocontrole, mas não de outra forma.
Desde então, analisou vários outros temas relacionados à manipulação de crenças, desde a análise das regras da vida pessoal, resoluções e preceitos religiosos até o impacto das crenças coletivas nas escolhas políticas, até o problema da identidade. Este é também ligado a crenças, como no dramático caso de suicídio de adolescentes, devido a uma baixa auto-imagem ou autoestima.
Auto-manipulação de Crenças publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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